0.5 ∞ Can You Turn (On) Your Phone?

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O relógio da sala marcava exatamente oito da noite. Taehyung estava há mais de uma hora deitado no sofá encarando fixamente seu celular, que jazia desligado em cima da mesa de centro.

Era quarta-feira. Há quase quatro dias ele estava em um dilema interno e havia prometido para si mesmo que daquela noite não iria passar. Ele precisava agradecer corretamente aos rapazes que o ajudaram no sábado. Mas a vergonha o consumia.

Também tinha medo do que eles poderiam estar pensando. Infelizmente, Kim lembrava de quase tudo daquela fatídica noite. Assustava-lhe a possibilidade de que talvez aqueles garotos estivessem o achando um louco desequilibrado e não quisessem mais nenhum tipo de contato com ele.

Porque ele queria. Não teve um minuto das últimas oitenta e quatro horas em que ele não tenha pensado naqueles dois jovens. Desejava que sua vida fosse simples apenas uma vez e que ele pudesse se aproximar dos namorados.

Não precisava transar ou ter alguma relação afetiva com eles — Taehyung desejava isso, mas sabia que sua cota de felicidade na vida era limitada —, ele se contentaria em ter a amizade dos garotos. Do pouco que os conheceu — e das várias perguntas que fez para Mark ainda no domingo —, eles pareciam ser bons amigos, cuidadosos e atenciosos, além de pessoas que se importavam com os outros. Eles também possuíam uma mente definitivamente aberta e era extremamente fácil de conversar com ambos sobre qualquer assunto.

O jovem precisava de relações saudáveis com pessoas que não fossem tóxicas — era mais ou menos isso que seu terapeuta vivia repetindo. Tae conhecia muitas pessoas, muitas mesmo. Mas o único amigo que tinha, a única pessoa com quem sabia que podia contar era Mark. Porém, o rapaz mais velho estava em uma etapa da vida totalmente diferente de Kim.

Mark estava casado (e administrava com facilidade outro relacionamento estável), formado, com uma carreira esplêndida pela frente e pensando cada vez mais em coisas de adulto — como comprar uma casa mais espaçosa que o pequeno apartamento que dividia com Jackson para quando eles adotassem uma criança e Jinyoung fosse morar com eles. Momentos como a festa de sábado, quando eles saíam juntos para a balada apenas para dançar e beber todas estavam cada vez mais raros.

Por outro lado, Taehyung ainda não tinha nem entrado na faculdade — e muito menos sabia o que queria cursar ou se queria fazer algum curso superior —, nunca estivera em um relacionamento minimamente sério ou saudável, tinha um emprego meia-boca em uma papelaria e gastava boa parte do seu dinheiro em festas e bebidas tentando esquecer sua mediocridade.

Não que seu hyung fosse ruim, longe disso. Ele era uma pessoa excelente e a relação dos dois era maravilhosa. Kim nunca imaginara que um simples cliente frequente do café onde trabalhou anos atrás poderia virar um amigo tão bom. Contudo, suas vidas estavam se distanciando cada vez mais.

Taehyung não conseguia deixar de se sentir um incômodo. Um adolescente querendo conviver com adultos e tomando-lhes um tempo que eles não tinham. Tinha certeza que não era assim que Mark e seus parceiros viam as coisas, no entanto ainda precisava trabalhar esses sentimentos negativos.

Racionalmente, ele sabia que não era um fardo. Contudo, era assim que o rapaz achava que qualquer pessoa que se aproximava dele o via. Um bobo da corte, a atração da festa. Alguém para no máximo ser uma distração por uma noite e só. Uma perda de tempo sem utilidade.

Ok, essa linha de raciocínio não estava levando a sentimentos produtivos. O foco não deveria ser esse. Mesmo que Mark o amasse e não achasse que ele era um incômodo, Taehyung ainda precisava de outras relações não superficiais.

Ele deveria se aproximar de pessoas com quem poderia contar — e formar uma rede de apoio, como seu terapeuta adorava reforçar. E isso não era ser interesseiro, pois ele também poderia ser um amigo confiável e interessante — por mais que tivesse dificuldade de aceitar que isso era verdade.

Serendipity ∞ pjm + jjk + kthOnde histórias criam vida. Descubra agora