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- Precisamos fazer algo! - exclamei o obvio, mas meu corpo ainda não saia do lugar. Eu queria correr até ele, tirá-lo do sofrimento, mas não consegui fazer meu corpo se mexer.

Júlio começou a dar passos rápidos na direção do trailer onde Lúcio foi arrastado e esse foi o incentivo que me teu corpo precisava para começar a se mover também. Marina vinha logo atrás de nós. Sentia meus músculos trêmulos enquanto seguia até o trailer e meu estômago revirou quando vi rastros de sangue no chão.

Os gritos de Lúcio haviam cessado e as pessoas continuavam circulando em volta como se nada estivesse acontecendo.

- Precisamos chamar a polícia, avisar o que aconteceu. - comecei a falar, já vasculhando a minha mochila em busca do meu celular.

- Júlio! - o grito de Marina me fez dar um sobressalto e com o susto, deixei o celular cair no chão com a tela do touch para baixo. - Júlio, onde você tá indo?! - ela tornou a gritar, seguindo atrás do irmão, enquanto eu me ajoelhava no chão implorando para o celular estar inteiro.

- Por favor, esteja funcionando... - eu repetia de olhos fechado enquanto pegava o celular no chão.

Eu virei o celular para mim e abri os olhos aos poucos, a tela estava trincada e, apesar da película protetora, havia danificado a minha tela. Eu suspirei alto e coloquei o celular danificado no bolso da calça, levantando desanimada. Olhei ao redor, procurando por Marina e seu irmão, quando ouvi uma outra pessoa gritando. Uma voz feminina e esganiçada.

A minha frente, uma garota vestida com um uniforme de garçonete estava sentada no chão, ela olhava para o alto enquanto implorava para que não fosse machucada. Eu não conseguia ver seu agressor, mas eu via as marcas que aos poucos iam tomando conta de sua pele. Rasgos largos nos braços, como se fossem feitos por garras de algum animal, sangue fresco escorrendo pelas feridas recém abertas e no fim uma mordida grande o suficiente para arrancar uma parte de seu pescoço.

Mais uma vez eu fiquei paralisada. Meu corpo tremia, o pânico me dominava e o terror do que havia acabado de assistir me tomou. Um grito arranhou minha garganta, foi tão alto e estridente que eu não reconheço como meu, quando senti uma mão tocando meu ombro.

- Calma! - a voz suave de Marina penetrou meus ouvidos, mas a calma que ela transparecia em sua voz não chegou ao meu corpo. - Você está tremendo tanto...

- Aquela garota... - apontei para o corpo que jazia estendido no chão a nossa frente.

- Não tem ninguém ali... - murmurou Marina o que me fez meu rosto virar .sua direção abismada.

- Como não? - praticamente gritei a pergunta, ainda sob o efeito do medo que me assolava. - Aquela garota está morta! - continuei apontando para o lugar onde o corpo estava, uma poça de sangue se formava ao redor de seu corpo. Meu estômago se revirava só de ficar ali parada, olhando o cadáver da garçonete. - Alguma coisa matou aquela menina! - tornei a gritar.

- Olha, eu realmente não estou vendo. - disse, a voz ainda calma. - Mas o Lúcio sumiu e o Júlio também.

- JÚLIO SUMIU?!

- Exatamente... Estamos por nossa própria conta e risco. - ela se levantou e estendeu sua mão em minha direção. - As pessoas que trabalham aqui não parecem se importar muito com isso, parece ser um acontecimento corriqueiro nessa época do ano e o jovens parecem empolgados demais para levar a sério o que está acontecendo. - um suspiro alto saiu de seus lábios.

- O que nós vamos fazer agora? - a voz embargada pelo choro que eu segurava fez a pergunta sair baixa.

- Achar o nosso amigo, meu irmão e irmos embora! - ela soou tão decidida que senti meu peito formigar em esperança. Não fiz nada além de concordar, limpar a minha calça. - Não quero ficar nem mais um minuto aqui.

- Nem eu...

Dito isso, seguimos o rastro de sangue de Lúcio. Não queria mesmo estar vivendo aquele momento. Maldita hora que eu aceitei sair do conforto da minha cama para estar aqui.

O rastro de sangue parou quando chegamos próximo a entrada do circo. O homem que vestia roupas vermelhas e tinha dentes afiados estava lá, anunciando as atrações daquele lugar. Uma nova onde de arrepios subiu por meu corpo quando o olhar dele cruzou com o meu.

- Não confio naquele homem. - dei vazão aos meus pensamentos

- Eu também não, mas precisamos entrar lá.
- faço uma cara de desgosto. - Tudo indica que as respostas para o sumiço de Lúcio e Júlio estão aí dentro.

- Ainda acho que chamar a polícia é o melhor.

- Eu já tentei, mas não tenho sinal aqui.

- Meu celular quebrou... - digo passando a mão no meu bolso, enfatizando o que já havia dito, com um pesar na voz.

- Então teremos que resolver nós mesmas.

Com um longo suspiro, concordo com um leve aceno de cabeça, ainda pensando que seria melhor sair e chamar a polícia. Mas então Marina estende a mão para mim e ter a sensação de suas mãos na minha e tão bom... Para completar tem os seus olhos caramelados me dando tanta confiança... Aquele olhar me dizia que poderíamos solucionar todos os problemas existentes no mundo. Naquele olhar eu me perdi e sorrindo de forma abobalhada, segurei sua mão e caminhei com ela em direção ao homem que mais me apavorava. Não importava que eu estivesse mergulhando em um oceano de puro terror, nada mais importava, porque Marina estava segurando a minha mão. E eu não soltaria tão cedo.

O Outro Lado Da DiversãoOnde histórias criam vida. Descubra agora