One More Night

1. Memórias

Demi

O avião pousa em Nova York seis hora da tarde. O aeroporto está cheio de pessoas, como sempre, indo e vindo, de um lado para o outro. Aguardo pacientemente minhas malas e me atrapalho um pouco, são muitas malas para uma pessoa só, isso é o resultado de passar dois meses viajando.

Apesar das circunstâncias, eu não tenho do que reclamar, foi incrível conhecer países como a França, Austrália e Itália, e ainda pude passar uma semana com minha família aproveitando os parques de Orlando.

Mas agora era hora de voltar a realidade.

Depois de pegar minhas malas, eu as coloco em um carrinho e caminho até o ponto de Táxi que ficava do lado de fora do aeroporto, um moço se aproxima e me ajuda com as malas e eu o agradeço, ele coloca as malas dentro do carro e depois eu me sento no banco traseiro. — Boa noite, para onde vamos? — Pergunta educado.

— Boa noite, Manhattan. — O caminho até o condomínio que eu moro é silencioso, vez ou outra eu converso com o motorista, ele me conta que tem chovido bastante nos últimos dias e que por isso houve muitos acidentes naquela região.

A viagem dura cerca de uma hora por conta do trânsito congestionado daquele horário. Eu pago a corrida e o porteiro do meu prédio me ajuda com as malas até o elevador, eu agradeço com uma gorjeta e respiro fundo quando o elevador me deixa no meu andar.

Procuro minha chave e abro a porta com um longo suspiro. Fazia dois meses que eu não pisava meus pés ali. Deixo as malas no canto ao lado da porta e fecho a porta. Tudo estava exatamente do jeito que eu havia deixado. Sento no sofá e retiro meu tênis, ligo a televisão e me levanto caminhando em direção a cozinha, sinto meu estômago roncar e abro a geladeira, faço uma careta ao sentir o cheiro forte tudo ali deve estar estragado.

Pego meu celular e abro o aplicativo de delivery, peço hambúrguer com uma porção de batata frita. Estou morrendo de fome e o lanchinho do avião não havia sido suficiente para me satisfazer.

Enquanto o meu pedido não chega, decido fazer uma limpeza no meu apartamento, começo pela geladeira jogando fora tudo o que estava estragado, pego três bandejas de morango nas mãos e infelizmente me lembro dele.

— Amor? — Joseph diz ao adentrar no apartamento com duas sacolas. — Trouxe comida já que nesse apartamento só tem besteira. — Ele resmunga indo para cozinha e colocando as sacolas em cima do balcão.

— O que trouxe? — Pergunto o abraçando por trás e dando um beijo no ombro dele.

— Trouxe frutas. — Disse tirando um cacho de uva e algumas laranjas. Faço careta e ele ri. — Se você continuar comendo tanta porcaria vai acabar ficando doente e eu prometi para sua mãe que cuidaria de você. — Eu sorrio e ele tira três caixas de morango da sacola.

— Hmm... morango com chocolate. — Falo e Joe me olha com a sobrancelha arqueada.

— Você quis dizer com iogurte natural e granola, certo? — Pergunta colocando as mãos na minha cintura, eu nego com a cabeça e ele ri me beijando no pescoço. — Você não tem jeito, não é? — Diz enquanto eu o puxo pela cintura e deposito beijos pelo rosto dele.

— Eu quis dizer, nós dois nus com uma bandeja de morango e chocolate. — Falo no ouvido dele e mordo a orelha dele. Joe da risada e se vira me erguendo pela cintura me colocando sentada no balcão da cozinha.

Suspiro e jogo as caixas com morango no lixo, estão todos estragados. Joe sempre foi a pessoa saudável do nosso relacionamento, aquela pessoa que acorda sete horas da manhã para correr e eu simplesmente odiava. Ele sempre me dizia que eu precisava me alimentar melhor e praticar exercícios físicos, mas eu nunca perdia uma oportunidade de comer pizza deitada no sofá assistindo uma boa série criminal.

Continuo minha faxina me recusando a pensar nele por mais que tudo me lembre dele. O fogão onde ele adorava cozinhar para nós enquanto eu o atrapalhava com beijos e uma taça de vinho, o balcão aonde fizemos amor várias vezes... balanço minha cabeça afastando aqueles pensamentos. Me sinto mal ao jogar aquele tanto de comida fora, mas não tinha muito o que ser feito, termino de limpar a cozinha e depois sigo para o quarto, troco os lençóis de cama, passo um pano nos móveis para tirar o pó e passo aspirador no chão.

O interfone toca e o porteiro diz que meu jantar chegou, calço os chinelos e desço para buscar.

Minutos mais tarde, eu já havia jantado e meu apartamento está completamente limpo. Tiro minhas roupas e tomo um banho demorado e caprichado. As férias haviam acabado e amanhã eu voltaria a trabalhar.

Seria a primeira vez que o veria desde que terminamos e eu não posso negar que estava um misto de emoções. Soube por Matthew, meu melhor amigo, que ele estava namorando com Amanda, uma funcionária da empresa com quem eu não me dava bem, eu tinha certeza que ele havia feito isso para me provocar, mas eu não me importo mais, minto para mim mesma tentando fazer com que se torne uma verdade.

Era assim que eu vinha vivendo minha vida os últimos dias. Fingindo que estava bem até que se torne uma verdade.

Desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha branca, caminho até meu quarto e procuro por um pijama quentinho, me visto e seco meu cabelo com o secador. Deito na cama com meu celular em mãos, respondo algumas mensagens e suspiro quando entro no perfil dele.

A nova foto era ele sem camisa em frente ao espelho, ele continuava lindo, mas eu o conhecia bem o suficiente para notar que ele havia perdido um pouco de peso. Eu não havia apagado nossas mensagens, a última mensagem era dele avisando que havia passado no meu apartamento para buscar suas coisas.

Subo nossas conversas e abro um áudio que ele havia me mandado. — Amor, vou me atrasar um pouco para o jantar, houve um imprevisto aqui na empresa, mas vou levar um vinho para tomarmos na banheira quente cheia de espuma.

A primeira lágrima escorre pela minha bochecha e eu a limpo imediatamente. Já estava ficando ridículo, já fazia dois meses e eu precisava superar e seguir com a minha vida, assim como ele estava seguindo com a vida dele.

Abro o Instagram e entro no perfil dele, Joe nunca foi o tipo de pessoa que gostou de expor sua vida nas redes sociais, era sempre difícil ele postar algo e me surpreendo ao ver o tanto de foto que ele tinha com ela.

Sinto as lágrimas descerem novamente. Eu sentia falta dele. Não tinha como mentir para mim mesma, sentia falta de tudo sobre ele, de deitar e sentir os braços dele ao meu redor, de ouvi-lo dizer o quanto me ama, sinto falta de rir das besteiras que ele me dizia no ouvido quando estávamos em público e de transar em lugares improváveis.

Dois anos não eram dois dias. Eu queria odiá-lo, mas não conseguia, eu só queria voltar a três meses atrás quando ainda estávamos vivendo nas nuvens.

Joseph era o tipo de homem aventureiro que adorava conhecer lugares novos, adorava ver o sol nascer na praia e graças a ele, eu conheci lugares incríveis ao redor do mundo, sempre viajávamos quando tinha algum feriado prolongado, era incrível ver como ele adorava mergulhar nas culturas dos lugares que visitávamos...

— Aqui é aonde a rainha mora. — Joseph diz sorrindo enquanto encarava o castelo. A arquitetura é linda. — Eu ouvi dizer que existem túneis secretos embaixo das ruas que dá para entrar no castelo. — Ele diz observando atentamente o chão. — E eu acho que a rainha está em casa, eu li que quando a bandeira Royal standard está levantada é porque ela está em casa. — Eu o olho encantada, era sempre assim quando viajávamos, ele pesquisava curiosidades sobre os locais que visitávamos.

— Imagine ser a rainha ou o rei de alguma coisa, deve ser como nos contos de fadas. — Falo imaginando. Joe ri segurando minha mão, ele me abraça e me da um selinho rápido.

— Você é a minha rainha, um dia moraremos no nosso castelo e teremos muitos príncipes e princesas correndo em um grande jardim como esse. — Eu sorrio imaginando um futuro lindo ao lado dele.

Suspiro e abraço o travesseiro fortemente, sinto meus olhos pesados e os fecho, estou cansada da viagem e da faxina mais cedo, adormeço sem nem perceber.