Capítulo 1

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Nia Jafari

5:30 minutos, o alarme tocava freneticamente alertando que que era hora de levantar da cama e começar a viver.

A estás horas todos já deveriam estar em pé, pois embora as minhas aulas iniciassem no período da tarde, a minha mãe tinha que dar aulas as 8horas e o meu pai entrasse as 9horas no trabalho, todas as actividades começavam mais cedo a contar com os engarrafamentos. Contávamos com o velho carro do meu pai que era cheio de manias e funcionava quando queria, nos últimos dias até andava bem disposto e nunca mais de tinha baldado. O nosso land cruzer cinza levava-nos para onde precisávamos, mas com uma ordem bem específica.
Então, eu acordava cedo para preparar o nosso pequeno almoço, prepara o meu irmão de 6 anos para ir à escola e o lanche dele. Meu pai deixava o Jarife no colégio, depois a minha mãe no trabalho e depois ia para a sua vida.

E eu? Bom, deveria cuidar da organizar da casa entre aspas, pois tínhamos uma empregada que arrumava, cozinhava e cuidava da roupa eu era como a governanta ( risos), dava as ordens e observava tudo diligentemente. Pela manhã cuidava também do meu negócio e da minha mãe, sendo jovem e estudando num colégio renomeado eu deveria estar bem apresentada, meninas precisam dessas coisas, arrumar o cabelo, pintar unhas, makeup básica, sapatos e tals e isso não caia do céu. Meu pai disponha de uma despesa alta, e algumas coisas não conseguia pedir, já fazia muito e eu via que às vezes se sentia sufocado e muito sobrecarregado. Então a minha mãe ficava as vezes responsável de cuidar destas coisas, Seus 200mil Kwanzas iam para uma parte das despesas da casa e a outra usava também para mim e o Jary, mas então ela teve a ideia de investir em mim e criar uma pastelaria online, fazíamos doces/ sobremesas/bolos por encomendas, e pela manhã eu despachava os mais simples e pela tarde depois do trabalho a senhora Jamelia cuidava das encomendas mais complexas. E o bom de tudo isso é que rendia e já disponha eu de algumas finanças. Meu empoderamento começava quando ia passear com o Jary e ele via alguma coisa e eu podia dizer pode tirar eu pego! Pó para mim era o auge da independência financeira hahaha.

Então fazia os doces, tira tempo para estudar e as 11:30 deveria ficar pronta esperando o transporte escolar.

- Nia, o transporte chegou – gritou a tia Rosa. Automáticamente peguei na minha pasta e telefone e corri em direção a porta da sala. Despeço-me da dona Rosa e fui para mais um dia no meu pequeno inferno cor de Rosa.

O trajecto casa-escola era sempre calmo, comprimentos a o Senhor Miguel que simpático, respondia-me sempre com um sorriso. E no final a minha companhia era a música. Não havia muita gente no transporte que usava, e a maior parte era do primeiro e segundo ano do ensino médio, então eu ficava no meu canto.

Depois depois de quase 45 minutos havíamos chegado ao nosso destino. Era o meu terceiro ano naquele lugar e ainda assim eu  ficava com nervosismo sempre que chegava. Era quarta-feira e quarto dia de aulas desde que as aulas haviam começado, então era o meu quarto dia no último ano, um passo para faculdade, um passo leve para ir estudar em Portugal e ficar perto da minha irmã, se tudo desse certo, eu não via a hora de chegar o dia.

Desci do transporte e segui em direção ao corredor que dava lugar as escadas que me levariam ao segundo andar, onde ficava a minha sala. No caminho, eu me cruza a com alguns conhecidos e cumprimentava. Havia ali muitos alunos brancos de diversas nacionalidades, os rapazes? Eram lindos de morrer, nem todos, claro mas na sua maioria. As meninas não ficavam para trás, eram lindas e muito finas, era uma diversidade de belezas. Onde eu me enquadrava?
Bom, minha mãe é Caboverdiana, morena e de cabelos cacheados e meu pai, meu pai é preto. E eu? eu puxei o tom de pele do meu pai, sou só um pouquinho mais clara, bem pouco. Mas herdei traços da minha mãe, meu rosto é fino e minha pele lisa, um nariz afinado. A frase que mais ouço é " nossa você é uma preta tão linda" ou então " és uma preta com brilho". O que chega a ser irritante, parece que é difícil dizer que sou bonita. É como se ser preta não seja sinônimo de beleza aí quando se acha uma é preciso enfatizar, odeio!
Meu cabelo é crespo, com um volumão e até forma leves cachos facilmente, diferente da minha irmã que tinha um cabelo um pouco mais liso com cachos naturais mas ela preferia sempre alisar. Meus olhos são grossos, levemente castanhos, meu lábios carnudos, digamoa não sou de se jogar fora, posso dizer que sou bonitinha. Nem alta nem baixa, perfeita para a minha Idade, nem tão magra, nem avantajada, um bom corpo.

Subi então as escadas, os bancos do lado de fora das salas estavam cheios. Uns trocando conversa outros namorando, havia quem optasse por um livro, outros por fones de ouvidos.
Cumprimentei alguns conhecidos e como sempre, fui direito para a sala.
E para a minha surpresa ela estava cheia, algumas meninas da minha turma digo as meninas populares da minha turma têm muitos amigos como elas, populares. A sala estava cheia deles, havia colegas sentadas no colo dos rapazes e outros em conversas fortes. Outra parte da turma estava do outro lado sem se importar muito com tudo que estava acontecendo por ali.

Quando pensei em dar um paço para o meu lugar, senti alguém a puxar por mim.

Thaís, a chata e desnecessária, Thaís.

- Olhem só quem chegou, Niara!!!!! - falou quase gritando enquanto me puxava pela manhã e me levava para onde estavam os seus amigos. Naquele momento eu estava com nervos a flor da pele querendo me esconder debaixo da minha cama.

Todos olharam para mim com atenção, na verdade alguns com desdém.

- A Niara é super selectiva, não anda com todo mundo, na verdade é muito na dela, mas essa é o último ano do ensino médio, tempo de se soltar e fazer amigos. Então meninos essa é a Niara, conversem com ela. – terminou de falar e foi abraçar um dos meninos lá. Eu não entendi o porquê da cena e o pior, me sentia totalmente desnorteada, o completo peixe fora da água.

Todos voltaram para as suas conversas e telefones.

Mas havia alguém ali que chamava a minha atenção deste a 10ª classe, um crush? Sim, eu tinha um leve crush.
Bruno Furtado, um rapaz branco, cabelos com leves cachos, olhos negros, alto, estatura alta e um rosto, aaaaa, simplesmente lindo. Quando eu estava na 10ª classe ele estava na 11ª mas ele estava repetindo o 12° ano 
No entanto, somos de turmas diferentes e não só, somos também de mundos diferentes.
Estava com os olhos fitados no telefone ouvindo música com fones de ouvido. De certeza não me notava ali.
Sou tirada dos meus pensamentos quando ouço uma voz grossa.

- Niara né? – falou Pedro estendendo a mão, eu o conhecia de longe. Um dos populares também repetente do colégio.

- Sim, Niara. Mas pode me chamar de Nia. – respondi tímida.

Pedro e eu conversamos até ao toque do sinal. Era até um rapaz fixe e educado, trocamos números e redes sociais. Talvez as coisas estivessem mudando por aqui..

28/20/2021

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