I Hate You, But I Want You.

Capítulo 1

Dois meses de aula já haviam se passado, sem que eu precisasse usar meu réu primário.
Não por falta de vontade, mas sim por um autocontrole surpreendente que desenvolvi nesse período. 

Sempre fui a melhor aluna da minha turma, então esperava continuar assim. Mas não estava sendo fácil com a aula de Direito Penal. Começava às 07:30 da manhã, e o Rennan era o único professor que não esperava até as 08:00 pra começar.
O que significava que sempre que eu me atrasava por causa do trânsito, eu perdia boa parte da aula. E ele fazia questão de não voltar sequer uma palavra, para atualizar quem se atrasou. Não era justo. Eu saía do Méier 05:30 da manhã, para não me atrasar. Mas quem é que pode controlar o trânsito maluco do Rio? 

Absolutamente ninguém. 

E o querido assistente do professor, fazia questão de anotar cada mínimo atraso meu. 

-Amiga, o professor acabou de explicar sobre as Avaliações. Você perdeu, mas depois eu te explico. - Luís me falou assim que eu entrei na sala. 

-Tá brincando que ele deu um recado importante desses, no começo da aula? Ele só pode me odiar. - sussurrei enquanto me sentava. 

-Avisos não tem horário definido, Sarah. - Gabriel falou atrás de mim, me dando um susto por não tê-lo visto ali, como a boa assombração que era - Você deveria sair de casa mais cedo, pra evitar tantos atrasos. 

-Me desculpe se eu não ganhei um carro do papai quando fiz 18 anos, e dependo de transporte público para estudar - eu rebati com raiva - vai cuidar da sua vida patética e esquece que eu existo. 

-Como se eu precisasse esquecer uma coisa que é tão insignificante como você. - ele rebateu e saiu andando antes que eu pudesse responder.

Bufei.

-Ainda acha que eu não tenho motivos para não gostar dele? É um completo babaca. 

Comecei a pegar o meu material, já sabendo que eu precisaria pegar a matéria depois, para rever o começo da aula.

                              ***

   Insuportável.
Era isso que Sarah Trajano era. O ser humano mais insuportável que existe. 
Ela se acha a melhor aluna de todos os tempos e faz questão de deixar isso bem claro.

Não me agrada. Gosto de gente que demonstra o quanto ama aprender. Eu nunca quis ser monitor na turma dela,
exatamente porque eu sabia que bateríamos de frente. E eu não posso correr o risco de perder a assistência, só por causa de uma menina irritante. 

Por isso eu fiquei, só pra ver que em todos esses anos, os elogios a ela não eram tão reais assim. A menina não sabia o significado de pontualidade. Se atrasa em todas as aulas, apenas para chegar impecável em suas roupas de grife.
Ou seja: o rótulo de melhor aluna da turma, não deveria ser dela. 
A prova disso é que hoje é dia de avaliação na turma e ela está mais uma vez atrasada.
Em exatos dois minutos encerraria o limite de quinze minutos de atraso e ela não poderia mais entrar. 

Sim, ela me irritava, só a existência dela já me tirava a paz. 
Mas o professor Rennan parecia gostar dela, mesmo com toda a arrogância.
Eles deveriam combinar, afinal. Pois ele não parava de olhar para o relógio e para a porta, como se quisesse que ela conseguisse chegar. 

Mas ela não conseguiu. 
Sarah Trajano, melhor aluna da turma, foi a única a não chegar a tempo para a prova. 

Eu a vi chegar quatro minutos depois e ser barrada, pois o professor seguia as regras à risca.

Ela implorou para fazer a prova, e confesso que meu lado sádico amou vê-la tão desesperada. Fiquei com um sorriso estampado na cara e pelo olhar que ela me deu, eu sabia que me mataria se pudesse. 

A única coisa que tirou o sorriso de mim, foi Rennan me chamar no final da aula, para dizer que a Sarah teria direito a fazer a segunda chamada. 

E pior do que isso: Eu teria que vir trabalhar a noite para aplicar a prova para ela. 

Isso só poderia ser uma viagem muito mal organizada da minha cabeça. 

Ou era apenas o universo sendo filho da puta comigo e me castigando por rir da senhorita perfeição.