Capítulo 2

28 4 2
                                    

O príncipe trabalhava na sala de seu pai no palácio quando duas batidas ressoaram em sua porta, e um homem de cabelos quase vermelhos e chifres azulados entrou.

   — Vossa Alteza, a princesa Adeena solicita sua presença.
Todo o corpo do príncipe se arrepiou com aquele nome sendo proferido de seu criado, como se apenas ao ouvir o nome dela, seu corpo entrasse em alarde e pura adrenalina, talvez curiosidade.
   Damen por um segundo, não soube o que fazer.

   — O que ela quer?

   — Disse algo sobre recuperar a memória, quer falar antes com você.
O príncipe suspirou.

   — Onde ela está?

   — No salão principal.

   Ele desceu um pouco depressa as escadas até dar de cara com ela. Adeena estava ali, ao lado de seu irmão com aquele olhar de culpa misturado com angústia e medo que ela tanto lançou a ele nas terras humanas. E com aquela aparência que ele se esquecerá por pouco mais de dezoito anos quando ainda eram Hayley e Aidan.

   — O que deseja, Adeena?

   A princesa passou a mão pelo vestido na tentativa de limpar o suor que se acumulava pelo nervosismo. Ela o olhava como se não o reconhecesse, e o príncipe não a culpava, sua aparência agora estava totalmente diferente.

   Adeena encarou Aidan totalmente dispersa

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Adeena encarou Aidan totalmente dispersa. O garoto vestia uma túnica azul marinho com alguns detalhes em prata, suas orelhas pontudas como a da princesa e seu cabelo... De um tom preto em tal intensidade que parecia a mais pura escuridão, sem reflexo algum, era como se engolisse qualquer vestígio de luz. Diferente de seus olhos, ela poderia olhar para eles o dia inteiro, cinza como a lua. Em seu pescoço ela conseguia observar algumas tatuagens do lado esquerdo em espirais em garras como vira tantas vezes em suas costas nas terras humanas que provavelmente se estendia pelo resto de seu corpo.

— Eu não libertei minha memória... Ainda — Ela falou.

Ele a analisou.
— Fico surpreso, a Adeena que conheço não esperaria um dia para voltar a ser a garota mais insurportável que é.

Qualquer vestígio de um sorriso, se dissipou dos lábios da princesa.

— Não deveria falar assim... comigo.

Ah... Eu deveria sim. Você pode ser a filha do rei mas eu sou o herdeiro do trono. Te conheço bem para saber que isso passou pela sua cabeça durante a semana.

A princesa olhou para seu irmão e ele confirmou com um gesto.

— Você pode não saber o que isso significa para você agora — Damen continuou — Mas quando recuperar a memória, entenderá. Então não vou perder meu tempo com quem você era para depois virar quem você realmente é.

Morneg se colocou na frente da irmã. A mão no cabo da espada em sua cintura.

— Podem ir embora — Damen disse sem esperar uma resposta e subiu as escadas para seus aposentos.

— Se Adeena te odeia tanto, talvez eu agora consiga entender o porquê! — A princesa disse falando de si mesma. Gritando a Damen que já estava longe. Ele não olhou para trás.

   Adeena saiu furiosa do palácio

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

   Adeena saiu furiosa do palácio. Os feericos nas ruas mantinham distância, com medo da fúria da princesa estampada em cada passo e em seu rosto. Morneg a seguia sem muita pressa para que a irmã não se irritasse. Até os guardas mantiveram distância do ódio enraizado nos olhos âmbar dela.

   — Golren já chegou?
Ela disse escancarando a porta enorme da sala do trono.

   — Estou aqui, Vossa Alteza — Um homem de cabelos marrons, pele cor de amêndoas e olhos verdes disse fazendo reverência na direção da garota.

   — Ótimo. Como vai ser?
Morneg chegou logo atrás.

   — Você beberá uma poção e então vai dormir por algumas horas, quando acordar conseguirá se lembrar.
   Adeena assentiu.

   — Qual a chance de isso não dar certo?

   — Celeste me pediu para que quando liberasse sua memória, que não voltasse tudo de uma vez para não deixá-la... Atordoada.
A princesa sentiu o medo e a hesitação em sua voz.

— Imagino que com o príncipe Damen... Não teve todo esse cuidado.

— Não, não teve.

   — Faça como quiser.
Alívio percorreu o corpo de Golren.

   O curandeiro mexeu em sua bolsa de couro marrom e retirou um frasco com um líquido branco brilhoso e entregou para a princesa.

   — Beba quando achar que está pronta — Ele sussurrou em seu ouvido. — O príncipe Damen é um pé no saco — Adeena sorriu.

— Obrigada — Adeena assistiu um guarda acompanhar Golren até a porta, quando o curandeiro saiu viu seu pai se remexer no trono.

— Um jantar de despedida de Hayley seria agradável — Disse o rei.

Adeena suspirou.
— Uma boa ideia, de fato.

— E imagino que já tenha pedido para prepararem tudo — Morneg proferiu.

Naquela noite depois do jantar, já em seu quarto, a princesa chorou enquanto se despediu da pessoa que foi por dezoito anos. Se despediu da bruxa, irmã, filha e amiga que foi um dia, com medo de não conseguir manter aquela pessoa junto de Adeena, mas mesmo assim prometera para si mesma que tentaria.

Encarou o frasco com o líquido esbranquiçado brilhante e depois observou suas orelhas pontudas e suas presas como a de um lobo, sua aparência nova e tão exótica.

Finalmente ponderou sobre Aidan, sobre todas as palavras que foram ditas e não ditas antes dos dois morrerem, sobre Beatrice... Prometeu para si mesma de criar um novo nome para ela com um bonito significado se um dia a tivesse novamente.

E então deixou que Adeena se libertasse, que voltasse, que revivesse. Deixou que a sua parte de quinhentos anos, que sua parte feerica, que sua história fosse liberta. Sem medo da pessoa que é e que se tornaria.
A princesa se deitou em sua cama e bebeu a poção. Logo o sono a atingiu e tudo se tornou escuridão.

Princesa Sem Trono (Reino Mítico Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora