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Olho o cômodo que me encontro, avisto um espelho, médio, imóvel, comum, analiso a figura do outro lado e a encaro nos olhos, vejo minuciosamente os movimentos copiados, observo se algum olhar duvidoso ronda seus olhos, mas nada, porém, algo me diz...

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Olho o cômodo que me encontro, avisto um espelho, médio, imóvel, comum, analiso a figura do outro lado e a encaro nos olhos, vejo minuciosamente os movimentos copiados, observo se algum olhar duvidoso ronda seus olhos, mas nada, porém, algo me diz que eu preciso prestar mais atenção.

Uma garota de 5 anos com olhos brilhantes, boca pequena, sorriso fofinho e pele parda, encontrada submissa a uma trágica morte no ano de 1708, acreditamos que foi ali o início de tudo, mas não há certezas. Os boatos sobre os casos não são apenas boatos, eu os chamaria de fatos quebrados ou mal explicados.

Aquela mesma garotinha do primeiro caso confirmado, Molly, foi encontrada em uma calçada, incomum, o intrigante de tudo, foi que apenas seus restos mortais e um espelho quebrado foram deixados ali, aberto para qualquer um presenciar e saciar sua curiosidade e enjôo.

Tenho acesso a algumas informações, privilegiadas, eu diria.

Um dos relatos mais recentes e intrigantes é de um homem de 27 anos, cujo nome não tem importância, que não acompanhou os 659 casos passados, seu corpo não estava como todos, largados em uma calçada qualquer com um espelho quebrado, foi uma cena nova e inédita.

Quando adentrei o local junto a todos e dei de cara com o corpo dele, vi seres enjoados saírem para respirar ar puro, chorar um pouco e vomitar, a cena era catastrófica. Um corpo estraçalhado, com furos que não atravessavam apenas pele como também os ossos pelos braços e pernas, o sangue escorreu por quase o cômodo todo, como se houvessem feito uma faxina com água de corante vermelho. Me aproximei mais do corpo e seu rosto estava deformado, parecia que haviam jogado água quente ou colocado fogo. Havia algo diferente, a situação que ele se encontrava não era normal e como de lei, a presença de um espelho estava ali, porém, intacto.

Observei o espelho que obtinha um reflexo normal, como todo o espelho que olho enquanto me arrumo para o trabalho. Como instinto, mexi meu corpo através de movimentos duvidosos e voluntários e então eu vi, quando um simples movimento havia sido errado, a imagem a minha frente tomou vida própria, seu sorriso era maligno e seus olhos misteriosamente se afundavam lentamente até se tornarem fundos e obscuros, seus olhos inexistente parecia refletir a escuridão do vazio que havia dentro de mim e me hipnotizava. Me aproximei mais do espelho me amnesiando da existência de todos e tudo ao meu redor, eu só queria tocá-la. No fundo eu sentia que o vazio que existia escondida em mim, iria sumir quando eu a tocasse.

— Jhuddy! — Erny, meu colega e amigo, me puxou para trás me tirando de transe. Minha respiração sem que eu notasse já estava descontrolada — Tudo bem? — Escutei sua voz no fundo, sentindo meu corpo aéreo, leve.

— Eu estou bem, obrigado — Tirei meu braço de suas mãos e encarei o espelho rapidamente, vendo aquela mesma imagem me encarando, de imediato puxei Erny e antes que eu percebesse apontei para o espelho — Está vendo? Aquela sou eu, mas não sou eu. Está vendo aquele sorriso? — Meus olhos que a admirava antes, olhavam com espanto e medo.

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