O Farol Trancado

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Era meado de novembro, quando ela o havia deixado

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Era meado de novembro, quando ela o havia deixado. Ele não se lembrava mais direito, pois, fazia muito tempo, fora em um dia quatro?

Sinceramente, ele andava como um possuído por ali - Embora esse não fosse o caso, bem sabia. Era uma época ridícula e sombria, e já havia adiado aquilo por tempo demais: A casa pequena e bonita ao estilo barroco, em estado invejável de conservação, cravada justamente no coração de Puerta Del Sol, uma cidade costeira ao sul do México, e no momento, estava pela primeira vez em anos, aberta, para ser decorada e aberta ao público, para as comemorações de Dia de Muertos.

Doía estar ali, enquanto os últimos indícios da infância, de sua esposa desaparecia com a poeira do tempo.

Mas, havia sido um total idiota. O apego pelos últimos resquícios de Regina o fez postergar todas as decisões referentes as vendas e coisas do gênero. Já se fazia anos, era bem a verdade, mas a dor continuava bastante presente, e isso fazia com que estar ali tornasse tudo um pouco mais ridículo.

Olhar para o céu lhe causava tristeza.

Olhar para a rua, visível demais para o seu gosto, lhe causava repulsa.

O festival anual em homenagem aos mortos começaria no dia seguinte, e era, talvez, a única época do ano em que Puerta Del Sol era lembrada como uma cidade pertencente ao mapa. Pessoas de todos os lugares do país, e até de fora, chegavam, alegres por presenciar o melhor que a cidade tinha a oferecer. E sendo um forte gerador de receita, os moradores já iniciavam os preparativos e as decorações, e esse ano, sua casa, a casa que havia sido de sua esposa, talvez seria parte dos preparativos e do circuito turístico.

Ele não sabia muito bem o que pensar a respeito.

Diziam que já era hora de pensar mais a frente - Desfazer-se de tudo que o "prendia" e viver.

As horas, os dias e as estações se foram, e voltaram, mas ali ele permanecia, respirando, de coração batendo, mas não, de fato, vivendo.

Geralmente, as pessoas faziam bons discursos motivacionais sobre como a vida era linda e bela com uma ou duas surpresas em cada esquina - Ele divagou vendo pessoas indo e vindo alegremente ao longo daquela rua - Contudo, curiosamente, essas pessoas não entendiam a real dor da perda - Você nunca esquece...

Regina amava aqueles festivais. E mesmo tão longe de casa, todo o ano, sem jamais falhar, ela decorava uma parte da casa com flores de papel coloridas, bandeiras e doces. Ele lembrava de ser um dos momentos mais alegres, para a esposa. Regina dizia que era uma maneira gentil de tentar ajudar os vivos com a dor da perda, e ela sempre o lembrava que, assim como os túmulos, o Dia De Los Muertos não era nada para os mortos, de fato, e sim, para os vivos - A última materialização de algo que já partira.

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