capítulo 3

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-VOCÊ ENLOUQUECEU? - gritou Adrael me olhando incrédulo com uma mecha de seu cabelo prateado caindo nos olhos.

  Estávamos almoçando na mesa de fora de um restaurante no Brooklyn, eu queria sumir naquele momento de tanta vergonha que eu sentia. Adrael tinha o péssimo costume de ser meio escandaloso em situações impróprias.

- Você nem conhece a garota...- respirou fundo e continuou- e vai deixar ela morar na SUA CASA?!

- Vai ser só por uns dias, vai dar tudo certo. - estava mais tentando convencer a mim do que a ele.

- Bom, que seja, você que sabe. Você já é adulta, confio nas suas decisões e sei que essa foi a melhor escolha.- disse convencido.

- Obrigada por me entender.

Ele pareceu lembrar de algo.

- Então Akira...- Começou, parecia hesitante. - Não conversamos faz um bom tempo por conta da correria, como anda sua vida?

- Extremamente parada mas ao mesmo tempo extremamente agitada, e a sua?

- Mesma coisa. Sabe Akira, a gente deveria marcar de fazer alguma coisa, ir em alguma festa sei lá. - sugeriu ele.

- Odeio festas, você sabe muito bem disso.

- Quanta amargura. Sinceramente eu acho que deveria arranjar um namorado. Ou só um ficante, de qualquer forma você precisa mesmo é transar.

- Creio que minha vida sexual não é da sua conta Adrael...e não, não quero um namorado, nem namorada.- concluí decidida.

- Não foi o mesmo que disse há 5 anos atrás. - me olhou com um sorriso malicioso, ele adora me irritar.

- Éramos idiotas com tesão acumulado e muito bêbados, só isso. - O lembrei e ele riu.

Adrael e eu já tivemos um "caso", saímos algumas vezes mas nunca passou disso. Não nos arrependemos, foi bom enquanto durou.

  Conversamos mais um pouco sobre coisas aleatórias. É por isso que gosto de sair com Adrael, nos divertimos sem falar sobre trabalho, apenas dois amigos normais conversando sobre coisas normais do dia-a-dia.

  Me ofereci para pagar a conta e saí, entrei em meu carro e comecei a dirigir para casa.

Amo dirigir, meu carro é extremamente importante pra mim. Desde pequena eu era fascinada por Camaros. quando finalmente comprei o meu na cor preta me senti realizada.

  Quando me dei conta já estava em casa. Estacionei o carro na garagem e entrei para descansar um pouco.

  Subi as escadas até meu banheiro e tomei um longo e demorado banho. Por incrível que parece não estava cansada, então resolvi me ocupar com alguma coisa até a hora de buscar Lauren.

Ainda não sei como vai ser daqui pra frente, ter alguém em casa vai ser uma mudança e tanto, mesmo que temporário. Sempre pensei em dividir a casa com alguém, sinceramente acho ela grande demais pra alguém que mora sozinha.

Situações como essa costumam me deixar extremamente ansiosa, então saio para caminhar um pouco.

Gosto de caminhar pelo meu bairro, as pessoas daqui são gentis. Gosto principalmente do ar fresco vindo das várias árvores que tem por todo lado.

Logo já estou em casa novamente, tiro um cochilo e acordo na hora de buscar Lauren.

  Penteei meus cabelos pretos ondulados, e não pude deixar de notar que cresceram uns dois dedos de comprimento desde que cortei na altura do ombro. Vesti uma calça moletom e uma blusa de banda qualquer e desci as escadas.
 
  Desde pequena meus pais implicavam comigo por ser muito "masculina". Costumava me magoar, mas atualmente não me afeta mais. Eles diziam que as pessoas me achariam com "cara de quem gosta de mulher", sinceramente ela não estava errada.

Tenho problemas até hoje com eles por conta da minha sexualidade, mas espero que um dia eles me entendam.

Quando me dou conta já estou entrando no carro em direção ao endereço que peguei nas fichas do caso. Durante o caminho fico imersa em pensamentos, mais especificamente sobre minha sexualidade e minha relação com meus pais.

Aos 16 me assumi bissexual pra eles, obviamente deu tudo errado, principalmente pelo fato deles serem extremamente religiosos e conservadores até mesmo pra idade deles. As palavras deles se resumiam em: "o que é isso?", "você sempre vai ser uma menina!" (aparentemente nem a diferença entre gênero e sexualidade eles sabiam), "é só uma fase", "você vai queimar no inferno." e por aí vai.

Gostaria de dizer que isso me afetou apenas na época, mas não, isso foi além. Aos 17 comecei a trabalhar duro para pagar minha faculdade e sair da casa deles pois as ofensas estavam ficando insuportáveis. Mas antes de conseguir atingir meus objetivos pra me livrar de meus problemas, alguém me atingiu antes; a depressão.

Meus sonhos foram tirados de mim, minha felicidade, minha capacidade de amar a tudo e a todos e de me relacionar com as pessoas, e principalmente; minha vontade de viver.
 
  Lutava todos os dias contra a vontade de acabar com a minha própria vida apenas por não ser aceita como sou, principalmente por alguém tão importante como meus próprios pais; minha única família.

Consegui alcançar meus objetivos, mas me custou caro. Sofro até hoje aos 25 com essa doença, e especialmente por não ter recuperado minha relação com meus pais.

Balanço minha cabeça para afastar esses pensamentos e os direciono para o trânsito em que estava.

-Droga de trânsito das seis da tarde.- murmuro aborrecida.

Luto contra a vontade de descer e ir a pé. Trinta minutos depois chego ao meu destino.

Era uma casa simples, nada chamativa. Observei por um breve momento a grama bem cuidada, as paredes de um cinza claro, e as janelas e portas brancas antes de descer do carro. -Número 376, creio que seja aqui. - pensei

Lauren esperava na porta da frente com algumas malas, parecia nervosa.

A cumprimentei e ela apenas retribuiu com um aceno de cabeça. Isso vai ser difícil.

- Quer ajuda pra pôr as malas no carro?- Me ofereci educadamente, sempre falando calmante para esconder meu nervosismo.

- Claro. Por favor. - Disse a garota sem mudar de expressão.

Após colocar as malas no porta-malas, me aproximo do lado dos passageiros e abro a porta para Lauren, fazendo sinal para que entre.

Dou a volta até o lado do motorista, entro e ligo o carro.

-Está pronta? Podemos ir?- Pergunto amigavelmente.

- Sim e sim. - responde a garota com um de seus adoráveis e fracos sorrisos.

- Vamos então.

E partimos.

Behind the crimes scenesOnde histórias criam vida. Descubra agora