capítulo 2

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  Escuto o telefone tocar e levanto num sobressalto, estavam me ligando da delegacia que trabalho.

  Não entendi exatamente o que diziam, muito menos identifiquei quem era, apenas entendi "venha" e "urgente". Em minha defesa, demoro um pouco pra assimilar as coisas quando acabo de acordar.

Desligo e vou até o outro sofá em que Maya dormia.

- Céus, como você ronca.- resmunguei.- Maya, acorda! - gritei.

     Após tomarmos café, Maya e eu nos arrumamos rapidamente, vesti minha calça jeans preta junto com minha camiseta preta larga, de acessórios escolhi apenas meus anéis porque são a única coisa que não saio sem. Maya continuou com seu pijama de unicórnio lilás, colocando apenas um tênis.

     Fomos até a garagem e entramos no carro, eu no volante pois não confiava em Maya dirigindo. Certa vez ela me atropelou com uma bicicleta, não gosto nem de imaginar o estrago que faria com um carro.

   Deixo Maya em sua casa rapidamente por conta da pressa, e sigo meu caminho até a delegacia.

Ma metade do caminho ouço meu telefone tocar na minha bolsa de trabalho. Estaciono o carro no acostamento com o pisca alerta ligado e atendo.

- Alô? - Digo, já sabendo quem é.

- Bom dia detetive Andrews, ocorreu um assassinato na avenida 350, precisamos de você imediatamente, cinco de nossas aviaturas estão no local.- reconheci a voz de Ember, uma policial que trabalha comigo na delegacia.

- Que ótimo jeito de começar o dia- digo ironicamente.- já estou a caminho.- concluo desligando o telefone.

O caminho até lá foi tranquilo, por sorte não peguei trânsito por conta do horário.

Cheguei até o local, vesti meu distintivo e me aproximei de alguns policiais que estavam ao redor de algo, deduzi que fosse a vítima. Dei mais alguns passos e vi o corpo. Era uma mulher, por volta dos 25 anos, provavelmente até menos, vestia um vestido rosa cintilante e estava maquiada. Seu corpo mostrava diversos ferimentos, provavelmente a arma do crime era uma lâmina, seu cabelo loiro estava vermelho por conta do sangue.

- Levem para a autópsia. Quero que busquem tudo que puderem saber sobre a vítima, nome, parentescos, tudo.- Alguns policiais assentiram e começaram a trabalhar.- Essa mulher claramente estava naquela boate à um quarteirão daqui, quero que chequem as câmeras e interroguem todos.- concluí com autoridade.

Deduzi que estava na festa que Maya me convidou para ir ontem, parece que foi uma festa e tanto.

  Me virei e fui até quem estava no comando da operação.

- Detetive Adrael, isso tá uma bagunça, plena segunda feira e esse pessoal inventando de morrer.- reclamei com tom de tédio.

- Não seja tão Insensível Akira. - disse ele me repreendendo, mas senti um fundo de diversão em sua voz.

- Indo ao que interessa, temos alguma testemunha?

- Até agora só uma, mas está completamente em choque, ainda não conseguimos fazer com que ela falasse nada, achamos que é uma amiga próxima da vítima, e decidimos deixar ela por sua conta. - disse dando um pequeno sorriso no final, como sempre faz quando me pede alguma coisa que por mais que eu queira não posso recusar.

- Ah, ta bom.- disse revirando os olhos, fala sério, qualquer outro policial poderia fazer isso. - Imagino que ela esteja na delegacia, certo?

-Sim, e sugiro ir logo. Vou te levar pra almoçar depois que acabar.

É bem comum que Adrael me leve em algum lugar depois do trabalho, somos amigos há muito tempo, já é um costume antigo nosso.

- Não posso recusar.- me afasto com um pequeno aceno e vou para a delegacia.

Chegando lá vou direto para a sala de interrogatório, sem parar em meu escritório como costumo fazer.

Abro lentamente a porta e entro. A garota estava sentada com as mãos cruzadas sobre a mesa, os olhos fixos nelas. Parecia assustada.
   Pigarreei, a garota levantou seus olhos castanhos para mim, olhei para ela e vi, não estava apenas assustada, estava confusa.

     É compreensível sentir o medo e a confusão. Temos medo do desconhecido, quando não sabemos o que está acontecendo somos tomados pelo medo. Medo por não fazer ideia do que aconteceu, do que está acontecendo, e principalmente do que ainda vai acontecer.

- Olá, sou a detetive Akira Andrews e preciso te fazer algumas perguntas. - comecei cautelosamente, não queria a deixar ainda mais nervosa.- Seu nome é? - me aproximei um pouco e me sentei a sua frente junto a mesa.

- L-lauren.- disse com a voz trêmula, respirou fundo e continuou, me olhando nos olhos - Lauren Evans.

- Ok, Lauren. Era amiga da vítima?

- Katy e eu éramos colegas desde a faculdade.

- A conhecia há quantos anos mais ou menos?

- Três anos, tínhamos 21 quando nos conhecemos.

- Quando foi a última vez que viu ela? - perguntei séria mas ainda cautelosa.

- Na festa de Halloween ontem, ela saiu com um cara pelos fundos e depois...- desviou o olhar e voltou a encarar melancolicamente suas mãos sobre a mesa.- Bom, acho que já sabe o que aconteceu.- disse com a voz fraca, estava claramente deprimida por conta de sua perca.

- Pode me falar mais sobre esse "cara"? -  a fitei seriamente.

- Era um moço alto, tinha cabelo bem curto e loiro. Devia ter por volta de 25 a 30 anos. Não sei o sobrenome dele mas parece que o chamavam de Bryan. - relatou voltando a me olhar nos olhos

Bryan, já temos nosso primeiro suspeito.

- Então, Lauren...- calmamente. - sinto muito pela sua perda. - disse com sinceridade.

- Obrigada... sinceramente não sei o que vai ser de mim agora sem ela, Éramos consideravelmente próximas, a casa em que moramos vai ser tomada pela família de Katy já que eles são os proprietários. Estou sem rumo sem ela, literalmente. - falou tudo de repente, não sabia que moravam juntas.

- Você não tem parentes por perto?- perguntei genuinamente curiosa.

- Não, eu só tinha ela. E agora ela...- deixou a voz morrer antes de completar sua frase.

Droga eu sei que isso não é problema meu, mas não posso largar a garota desamparada nessa cidade. Talvez eu possa fazer algo...

- Ei, Lauren...você pode passar uns dias comigo se quiser. - quando menos percebi já tinham saído as palavras de minha boca. - Pelo menos até conseguirmos algum lugar pra você, tenho alguns contatos que talvez possam ajudar.

  Merda. Somos completas estranhas, isso nunca daria certo. E se ela for o tipo de pessoa que eu odeio? E se ela for daquele tipo de pessoas que acordam felizes em plena segunda feira?

  Estou fazendo isso porque é meu trabalho ajudar as pessoas, mesmo que isso seja completamente inconveniente no momento. Ainda assim não gosto da ideia de dividir minha casa com alguém, por sorte é algo temporário.

Ela me olhou surpresa, com um minúsculo e adorável sorriso nos lábios. - é muita gentileza da sua parte, e eu realmente não tenho escolha a não ser aceitar... - disse docilmente apesar da ideia repentina.

-Tudo bem então - comecei a falar levantando da cadeira e me dirigindo para a porta. - tire o dia para arrumar as suas coisas, ao anoitecer passo te buscar. Já acabamos por aqui, eu te prometo que vamos achar o desgraçado que fez isso com sua amiga.

- Eu nem sei como agradecer...mas muito obrigada. - e novamente sorriu, um pequeno e adorável sorriso.

- Nos vemos ao anoitecer então, até logo Lauren.- Dei um meio sorriso e um breve aceno e saí ao encontro de Adrael sem olhar para trás.

Eu vou me arrepender muito disso.

Behind the crimes scenesOnde histórias criam vida. Descubra agora