Capítulo 42

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- Ótimo. - sorri animado para Gloss.
Ele havia acabado de me convidar para uma luta no porão, coisa que eu não fazia desde que havia voltado para Chicago. Talvez eu estivesse um pouco enferrujado, mas a luta morava em mim. Alguns poucos dias de treinamento intenso e eu estaria novinho em folha. 
- Estamos combinados, então. - ele deu um tapinha amistoso em meu ombro. - Quinta-feira que vem, as oito horas da noite. - ele olhou para os lados. - O ganhador vai se dar bem. - ele fez sinal de dinheiro com os dedos. 
- É tudo o que eu preciso. - sorri, antes de deixa-lo para trás. 
Eu tinha usado todas as minhas economias com as pousadas que eu passava a noite, antes de Johanna finalmente me convencer a voltar. Em Chicago, pelo menos eu ainda tinha meu apartamento. Johanna havia me contado que ela tinha feito um acordo com Taylor, em relação ao meu pequeno apartamento. Um acordo onde ele deixava o lugar fechado por três meses, sem nem mesmo tirar as minhas coisas de lá. E não me pergunte o que ela deu em troca por esse pequeno favor. Na verdade, nem eu quero saber. 
- O que faz aqui? - perguntei a Katniss, assim que a encontrei sentada no gramado da escola.
Ela ergueu os olhos em minha direção, seus lindos e tão expressivos olhos de tempestade. Uma tempestade que havia tirado toda a minha vida do lugar. 
- O mesmo que você. - ela voltou a atenção para o livro em suas mãos. 
A observei por alguns segundos. Vez ou outra ela arrumava seus óculos em seu rosto. A maneira com que ela o empurrava sobre o nariz, usando o indicador, me fazia querer sorrir. Ela havia adotado um novo visual, isso eu já havia percebido há tempos. Seu inseparável salto alto havia sido substituído por saltos menores, e, na maioria das vezes, tênis, vestido ainda fazia parte do visual e eu agradecia por isso. 
- E o que eu faço aqui? - perguntei querendo irrita-la. 
- Nada? - ela fechou o livro, largando-o de lado. 
- Peixe! - respondi de maneira infantil, e ela revirou os olhos. - O que você tem? - perguntei, realmente querendo saber. 
- Por que tantas perguntas? - ela devolveu a minha pergunta. - Você não tem matéria acumulada para estudar? 
- Você não devia estar, assim como eu, na aula do Cinna? - retruquei. 
Ela suspirou, e recostou sua cabeça no tronco da enorme árvore, fechando os olhos em seguida. Algo no jeito dela, me dizia que ela não estava nada bem, e eu queria saber o que a fazia ficar assim, e quem sabe ajuda-la. 
Eu ainda me preocupava com ela, e isso não mudaria nunca. 
- Não quero participar da peça de dia das mães. - ela soltou, abrindo os olhos em minha direção.
- Eu ia me sentar aqui. - falei, olhando para os lados. - Na verdade, eu ainda vou me sentar aqui. - falei, e ocupei o lugar ao seu lado. 
- Ei. - ela reclamou. - Tem vários lugares para você sentar. 
- Eu sei, mas eu queria sentar aqui. - falei, pegando o seu livro, e comecei a folhear. - Eca! Romance! Que nojo. 
- Me devolve isso. - ela puxou o livro das minhas mãos, me fazendo sorrir. 
- Eu também não quero. - ela me encarou, sem entender. - Participar da peça, e é por isso que estou aqui. 
- Nisso a gente ainda combina. - ela soltou, e pareceu se arrepender em seguida. - Como foi seu reencontro com seus pais? 
- Desastroso. - falei, simplesmente. 
- Você e sua mãe conversaram? - ela questionou, e eu não entendia porque eu queria contar tudo a ela. 
- Não foi bem uma conversa. - falei, lembrando do dia fatídico. - Foi mais um acerto de contas. 
- Ah. - foi o que ela disse. - Por que resolveu falar comigo hoje? 
Porque eu notei no seu jeito que algo te perturba, porque eu te vi aqui sentada sozinha, e algo em meu peito me fez querer me aproximar e tentar te animar de alguma maneira, porque eu sinto a sua falta, porque eu tenho uma necessidade fora do normal de te proteger, porque eu sou um idiota, porque, por mais que eu tente te esquecer, eu não consigo, porque eu ainda te amo.
- Não tinha nada melhor pra fazer. - respondi, e ouvi ela suspirar. - Annie está melhor? 
- Parece que sim. - ela respondeu. - Não se preocupe, em poucos dias ela retoma seu lugar, e você não terá mais que me ver. 
Quem disse que eu não quero te ver? As aulas com Katniss, haviam se tornado a minha parte preferida no dia. No começo eu até fiquei irritado com o fato de ter que depender dela para alguma coisa, mas com o tempo as coisas foram mudando. Mesmo que eu tentasse ignora-la, no fundo, eu sabia que não conseguiria isso por muito tempo. 
Eu sentia que eu estava cedendo aos poucos, e eu não sabia se isso era algo bom ou não. 
-  Você ainda dança? - perguntei, encarando descaradamente suas longas pernas a mostra. - Suas coxas me dizem que sim. - completei, e tive o prazer em ver Katniss corar. 
- Cala a boca, tarado. - ela puxou o vestido. 
- O que você acha que está fazendo? - perguntei, quase sorrindo. - Não precisa se esconder, eu já conheço tudo o que tem aí embaixo. - ela corou mais ainda, me fazendo sorrir. - Eu vou lutar na próxima quinta. - falei do nada, e ela me encarou, surpresa. - Vai ser a minha primeira luta, depois que eu fui nocauteado, duplamente. - não havia qualquer emoção em minha voz. - Se você quiser aparecer, será no mesmo lugar de sempre. - foi o que eu disse antes de levantar, e começar a andar, sem dar chance pra ela responder. 
Eu não sabia por qual motivo eu havia convidado Katniss para a luta, assim como eu também não entendia, porque essa droga de amor não me deixava em paz. Ela havia brincado comigo, e destruído a primeira coisa bonita que eu havia sentido por alguma mulher. Mas isso não importava agora, não mais. 
Ponto de Vista Gale
Katniss Everdeen. Esse era o nome do meu alvo, no momento. 
Existiu um tempo em que Katniss e eu nos dávamos muito bem. Eu cheguei a acreditar que ela pudesse sentir algo por mim. 
Ela e Finnick Odair sempre foram muito próximos, quase nunca se desgrudavam na escola, até que, em um jogo na sétima série, Finnick quebrou a perna, e teve que ficar mais de dois meses em casa de repouso. Foi nesse meio tempo, que Katniss e eu nos aproximamos. 
Na maioria das vezes, a Undersee estava por perto, e eu fazia o possível para ser agradável com ela, afinal, ela era melhor amiga da garota que eu estava afim. Katniss me tratava com educação, e eu buscava em cada atitude dela, algum sinal de sentimento recíproco por mim, mas esse sinal nunca veio. 
Quando o repouso de Finnick chegou ao fim, a minha amizade com ela também se foi, me fazendo perceber que ela só estava me usando para ocupar o espaço do Odair. A Undersee continuou tentando manter a amizade comigo, e eu, no começo, até que me esforcei para ser um bom amigo, mas Katniss já havia acabado com tudo de bom que eu tinha.  
Eu estava naquele porão fedorento que Peeta Mellark costumava lutar. Eu o odiava mais do que qualquer coisa. Se antes dele aparecer, Katniss já não me notava, depois que ele apareceu ficou impossível. Ela parecia só ter olhos para aquele bad boy de bosta. 
O meu namoro com Madge tinha apenas uma finalidade: descobrir tudo o que eu pudesse sobre esse relacionamento ridículo dos dois. E eu consegui atingir a minha meta, ao descobrir que tudo não passava de uma aposta. Se era real ou não, isso não me interessava, desde que eu conseguisse acabar com o casalzinho. E eu já tinha uma ideia de como eu atingiria Peeta Mellark. 
Na porta de entrada, Katniss apareceu acompanhada de Annie e Finnick. Eles conversavam e riam de algo, como se fossem as pessoas mais felizes daquele local, e eu odiava isso. 
Katniss usava um vestido curto, acompanhado de um par de tênis, e vestia um cardigan cor de rosa. Ninguém podia negar que ela era extremamente gostosa, e só de pensar em tudo que eu podia fazer com ela, o meu sorriso se alargou. O olhar dela se dirigiu ao ringue, onde o Mellark já se aquecia. Os dois trocaram um pequeno aceno, que me fez sentir vontade de vomitar.
Katniss se despediu dos dois amigos, que pareciam entretidos demais em uma discussão calorosa, e começou a andar em direção ao ringue, no mesmo momento em que Cato anunciava o início da luta, e então eu já sabia o que fazer. 
- Hey, Everdeen. - me coloquei na frente de Katniss, obrigando-a a parar de andar. - Como tem passado? 
Seus olhos cinzas me analisaram com um certo desdém, antes de ela tentar retomar o seu caminho novamente, porém eu a impedi, me colocando em sua frente mais uma vez. 
- Por que a pressa? - perguntei provocativo, e ela nada disse. - Quer ver seu namoradinho apanhar? -  perguntei e logo emendei. - Ah, ele não é mais o seu namoradinho. Você fez merda, e o relacionamento de vocês, acabou. 
- Sai da minha frente, Gale. - ela tentou me empurrar para o lado. - Me deixa passar, por favor? 
Soltei um riso forçado, e cruzei os braços, a encarando. Ela estava começando a ficar irritada comigo, e eu estava pouco me fodendo pra isso. 
- Não antes de você me responder algumas perguntas. - ela olhou para os lados, nervosa. - O que você viu no Mellark? 
Ela me mediu da cabeça aos pés, e empinou levemente o nariz quando voltou a olhar em meu rosto.
- Apesar de eu ter sido a idiota, por ter feito aquela aposta, você foi um tremendo de um babaca por ter espalhado aquela merda de vídeo. Peeta jamais tentaria destruir a felicidade de alguém, só porque está insatisfeito com a própria vida. Então, só pra começar, ele é muito mais homem do que você.
Ri com desdém.
- Isso não o torna mais homem do que eu, Everdeen. - me aproximei um pouco mais. - Pra você saber quem é mais homem, terá que foder comigo... Pra comparar melhor, sabe? - sorri malicioso, e ela pareceu surpresa. - Não faça essa cara. Nem parece a mesma Everdeen que conheço. A líder de torcida mais rodada do colégio - provoquei.
Era mentira. Eu sabia. Mas isso a atingiu profundamente, pois sua surpresa foi embora, dando lugar para as lágrimas, em seus olhos.
-  Vamos lá, Katniss. Podemos ir pra minha casa, e...
Sua mão voou com força na direção do meu rosto, sem ao menos me dar tempo de me defender.
Antes que ela fugisse, eu a segurei com firmeza pelo cotovelo, fazendo com que Katniss girasse sobre os calcanhares, e voltasse para perto de mim.
- Você só sai daqui, comigo. - rosnei, apertando seu braço entre meus dedos. 
Katniss fez uma careta de dor.
- Me solta. - implorou, tentando se livrar de mim, sacudindo o braço. - Por favor. - sua fala saiu chorosa, fazendo com que eu me deleitasse com seu desespero.
- Eu não vou soltar você. - falei, começando a arrasta-la por entre as pessoas. - Na verdade, eu pretendo te apertar ainda mais, quando estivermos a sós.
- Me solta, imbecil. - Katniss resmungou tentando se livrar do meu aperto. 
Em um ato rápido e calculado, ela fez força com o braço para baixo se livrando do meu aperto, mas antes que ela começasse a correr, eu a segurei novamente, e a joguei contra a primeira parede que eu encontrei no caminho. 
- Me solta. - ela repetiu, e eu pude sentir o medo em sua voz. - Eu vou gritar, Gale. - ela ameaçou, e eu sorri. 
- Vai, você vai gritar, e muito, se depender de mim. - falei, apertando sua cintura. 
Coloquei uma de minhas pernas no meio das pernas de Katniss, deixando-a imobilizada contra a parede. Com o seu braço livre, ela começou a tentar me atingir com pequenos socos no peito. Com raiva, eu ergui seus dois braços os colocando acima de sua cabeça, e segurando com uma única mão, enquanto a minha outra mão tocava a sua cintura. 
- Por favor. - as primeiras lágrimas de Katniss desceram. 
Desci minha mão por sua cintura até chegar em sua coxa grossa, coberta pelo vestido. Eu já estava imaginando mil e uma obscenidades. Comecei a subir a barra de seu vestido curto, e aproximei minha boca da dela, louco para sentir seus lábios cheios contra os meus.
- Gale, me solta. - ela insistiu, e eu sorri. 
- Só depois de eu terminar o que eu comecei. - falei malicioso, e ela começou a se debater com mais força. - Colabora Katniss. Vou ser rápido se você colaborar, vadia. 
- E eu vou te ensinar a nunca mais tocar no que não é seu.
Antes que eu pudesse me aproximar mais de Katniss, senti meu corpo ser arrancado da frente dela, e ser arremessado no chão com uma força brutal. Minhas costas bateram no piso frio, e eu imaginava ter quebrado alguns ossos, apenas pela dor que eu sentia. 
- Vou te mandar pro inferno, Hawthorne!

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