Capítulo 39

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Fazia exatamente dois meses que Peeta Mellark havia deixado Chicago e retornado ao Texas, levando com ele o meu destroçado coração. Eu não preciso dizer o quanto aquele show foi desastroso para mim, e muito menos o quanto eu fiquei destruída ao ver o meu badboy sofrendo por culpa minha. E o pior de tudo era saber que nada do que eu fizesse faria com que aquilo tudo desaparecesse. 
Quanto a Madge, mesmo que ela tivesse errado ao contar um segredo que não era dela ao crápula do Gale, eu não conseguia culpa-la. Por mais que eu quisesse achar algum culpado para tudo isso, bem no fundo eu sabia que a única culpada pelo meu desastre era eu mesma. 
E Clove? Ela não havia se dirigido a mim desde o ocorrido, e eu agradecia a Deus por isso. Do mesmo modo que eu sabia que Madge não era culpada, eu também sabia que Clove era inocente, afinal, quem aceitou apostar o coração de Peeta, tinha sido eu. 
- Eu não acredito no que os meus olhos veem. - Annie dramatizou assim que me enxergou. 
- Bom dia, Cresta. - sorri sem ânimo. - Resolvi dar um pouco de cor em minhas bochechas, nada demais. 
Eu sabia que o drama dela era por culpa da pouca maquiagem que eu estava usando naquela manhã.
Fazia semanas que eu não passava nem se quer um batom, mas me senti na obrigação de esconder as minhas olheiras, depois de levar um susto com a figura que eu enxergava do outro lado do espelho. 
- Você se maquiou sozinha depois de meses. - ela pôs a mão no peito. - Tem ideia do quanto isso significa para mim? 
- Só falta tirar os óculos. - Finnick apareceu sorrindo. - Bom dia, minhas gatinhas. 
- Finnick. - Annie corou como costumava acontecer nos últimos dias, sempre que ela o encontrava. 
- O óculos vai continuar no mesmo lugar. - comentei, travando o meu carro. - Eu o aderi novamente, e acreditem, estou me sentindo ótima assim. - arrumei a armação dos meus óculos de grau sobre o nariz. 
- Você fica graciosa com ele. - Annie sorriu. - Eu não consigo me acostumar com lentes. Não entendo como você conseguiu usa-las por tanto tempo. 
- Elas nunca me incomodaram. – falei, atravessando o estacionamento com os dois ao meu lado. - Mas eu ando com preguiça de coloca-las.  
- Eu também me sinto igual as vezes. - minha amiga sorriu. - Vocês fizeram aquela tarefa que a Paylor passou na semana passada? 
- Eu não faço nada que a Paylor pede há tempos. - Finnick arrumou a mochila em seu ombro. - Aquela ali tem uma paixão platônica por mim.
- Como você é ridículo. - Annie se manifestou. - Você usa do seu charme para conquistar as professoras, e eu acho isso sujo. 
- Meu charme? - meu amigo sorriu torto. - Você me acha charmoso, Cresta? 
Annie corou e eu reprimi um sorriso. 
Finnick e Annie iniciaram uma pequena discussão, onde Annie reclamava sobre o ego inflado de Finnick, e ele rebatia, dizendo que ele era realista, e apenas afirmava o que todos já sabiam. Observei os dois discutindo, enquanto seguíamos pelos corredores da escola, e eu sabia que tinha algo muito errado ali. 
- Você mesma não resistiu semanas atrás. - Finnick falou, me fazendo parar de andar. 
- Finnick! - Annie praticamente gritou. - Você é um... É um... Argh.
- Eu fiquei interessada nessa última parte. - me pronunciei pela primeira vez. - O que aconteceu semanas atrás? - perguntei.
Annie começou a roer unha do seu polegar, e Finnick sorriu sem graça, enquanto coçava a nuca. 
- Foi mal, ruivinha. - ele deu de ombros. 
Intercalei meu olhar entre os dois buscando a minha resposta. Observei Annie morder o interior da bochecha, antes de me encarar, corada. 
- Eu... Eu... - ela gaguejou corando mais ainda. 
- A gente se beijou. - Finnick completou, e eu arregalei os olhos. 
- Como assim? - perguntei, não conseguindo segurar o meu sorriso. 
- Aquela coisa, boca na boca, língua na língua e...
- Finnick! - Annie chamou a atenção do meu amigo. - Meu Deus, onde eu fui me meter.
- Eu não sei nem o que dizer. - falei, abraçando os dois de uma só vez. - Só que eu shippo. 
Annie corou mais ainda, e Finnick sorriu de lado. 
Já era quase noite quando eu finalmente terminei de fazer o meu trabalho de História me jogando na cama em seguida. 
Naquele dia estava fazendo dois meses que eu não tinha notícia nenhuma de Peeta, o que me deixava quase doente. A imagem dele jogando a corrente, que eu havia lhe dado, em minha direção não saía da minha cabeça. Eu havia o magoado mais do que eu podia imaginar, e eu não sabia o que fazer para tentar consertar as coisas. 
- Você já tentou ir atrás dele? - a voz do meu pai me fez abrir os olhos. 
- Papai, o que o senhor faz em casa? – perguntei, sentando na cama. - Você não tinha negócios em Nova Jersey? 
Meu pai sorriu. 
- Sua mãe sabe se virar muito bem sozinha quando o assunto é a nossa empresa. - ele se aproximou, beijando o alto da minha cabeça. - Já eu, não conseguiria me concentrar em nada, sabendo que a minha lindinha estava sofrendo. 
Dei um salto da cama, pulando direto para o abraço protetor do meu pai. As lágrimas que eu achava já terem secado, começaram a cair de maneira contínua. Senti o carinho dele em minhas costas, enquanto ele me dizia palavras de conforto, e por mais que eu quisesse acreditar nelas, eu sabia que eu não conseguiria. 
- Eu não sabia o que era o amor até conhece-lo. - comecei assim que consegui me recompor. - Foi uma porcaria de um amor à primeira vista. O tipo de coisa que eu não acreditava que existisse. O meu coração reagiu a ele desde a primeira vez que eu coloquei os meus olhos nele. – falei, lembrando da cena no estacionamento. - Eu tinha horror a tatuagens. Não entendia como as pessoas podiam gostar tanto de riscar o corpo dessa maneira. Mas vendo ele, eu passei amar tatuagens, a ponto de eu mesma querer ter a minha. Ele está marcado em mim, e não é só no coração. - meu pai me fez sentar na cama, e sentou ao meu lado, enquanto segurava as minhas mãos. - Eu amo a dança, e confesso ter chegado a pensar que nada iria mudar esse amor. Que eu seria capaz de fazer qualquer coisa para ser uma bailarina reconhecida. Mas a dança, o meu amor por ela, não é nada perto do que eu sinto por ele. - meu pai permaneceu em silêncio, apenas atento as minhas palavras. - Você tem noção do que eu fiz? Eu queria ter o poder de voltar atrás e fazer tudo diferente. - fechei os olhos, lembrando de Clove. - Se eu pudesse voltar atrás, eu teria me apegado aos pequenos sinais que meu coração mandava para o meu cérebro, e não teria aceitado aposta nenhuma. Eu prometi conquistar e quebrar o coração dele em seguida, sem saber que assim eu estaria machucando a mim mesma também, e quebrando o meu próprio coração. – solucei alto, mas as lagrimas já haviam chegado ao fim. 
- Você realmente o ama. - meu pai sorriu para mim. - Ele me pareceu um bom garoto. 
- Ele é um bom garoto. – sorri, lembrando do meu badboy. - Ele é melhor do que eu, pai. 
- Ninguém é melhor do que ninguém, lindinha. - meu pai acariciou o meu rosto. - Nós somos seres humanos, e todos erramos. A diferença é que cada um erra de uma maneira. - ele sorriu mais abertamente. - E todos nós temos o poder de consertar os nossos erros. Você quer consertar o seu, e ter o garoto de volta? 
- É tudo o que eu mais quero. - falei convicta. - Ter Peeta comigo novamente é tudo o que eu mais quero. 
- Então vá atrás dele. - meu pai piscou. 
- Quer que eu vá para Austin? - perguntei em dúvida, e meu pai negou. 
- Primeiro você precisa descobrir onde ele está, e a que nível está a mágoa dele em relação a você. - meu conselheiro coçou o queixo. - Depois dessa primeira etapa, se preciso for, você irá para Austin sim. 
Sorri para o meu pai, e, naquele momento, eu tive a certeza de que ele era o melhor pai do mundo. 
Ele me deixou sozinha, e eu comecei a buscar na minha mente uma boa maneira de encontrar Peeta. 
Primeiro me veio o questionamento do porque eu não ter ido atrás dele antes, e a resposta me veio em seguida. Eu estava fechada demais em meu sofrimento, e talvez isso tenha me impedido de raciocinar. Em seguida veio o questionamento sobre como eu iria encontra-lo. 
*Encontrar o telefone da casa dele.
*Perguntar para Johanna. 
*Voar para Austin. 
A segunda opção era a pior de todas, e a partir daquele momento, eu comecei a pedir ajuda divina para que eu não precisasse coloca-la em pratica. 
Busquei no fundo da minha mente, em minhas conversas com Peeta, algo que pudesse me ajudar a localizar o lugar onde ele morava em Austin, e acabei lembrando dele mencionar o restaurante de seu avô. Deduzi que não haveria muitos restaurantes em que o dono fosse um Mellark, e eu tinha razão. 
- Alô. - a voz feminina me fez dar um pulo da cama, quase caindo sentada no chão.
- Alô. Com quem eu falo? - perguntei educadamente. 
- Brenda Mellark. - a voz feminina e aveludada soou atenciosa do outro lado. - Com quem eu falo? - ela repetiu a minha pergunta. 
- Katniss Everdeen. - falei nervosa. 
- Em que posso ajudar? - ela perguntou formalmente. 
Suspirei, tentando mandar o nervosismo para longe.
- Dona Brenda. Eu liguei para algumas famílias com o sobrenome Mellark em Austin a procura do seu telefone. - comecei devagar. - Na verdade eu estava à procura do telefone dos pais de um amigo meu, e me disseram que você poderia me informar o paradeiro desse meu amigo. - falei finalmente. 
- Como seria o nome do seu amigo? - a voz dela pareceu apreensiva.
- Peeta Mellark. - falei por fim.
Um longo tempo de silêncio absoluto se seguiu, onde a única coisa que se podia ouvir era a respiração descompassada da mulher, e o meu pé batendo no chão do quarto em puro nervosismo. 
- Eu não conheço nenhum Peeta Mellark. - ela finalmente falou. - E eu nunca tive filhos. Não tenho como ser a mãe dele. - mais um tempo de silêncio. - Eu não tenho filhos. 
Foi a última coisa que ela disse, antes de desligar o telefone na minha cara. 
Procurei no fundo da minha mente o nome da mãe de Peeta, e lembrei que ele havia citado o mesmo uma vez só, em uma conversa sobre o quão difícil era a relação deles. 
Não restava dúvidas. A mulher que me atendeu era a mãe de Peeta, e a única coisa que eu precisava saber naquele momento era onde e como estava o meu badboy. 
- Katniss. - eu mal havia estacionado, e Annie já chamava o meu nome. - Você não vai... - ela parecia desesperada, mas ainda assim sorria. - Você não vai acreditar... 
- Fala logo, Annie. – pedi, travando meu carro. 
- Você não faz ideia de quem está em Chicago. - ela finalmente completou a frase, fazendo meu coração perder o ritmo. - Ou melhor, você não vai acreditar quem está aqui, no colégio. 
Antes que eu pudesse perceber, eu já caminhava em direção ao prédio, de maneira apressada. Eu podia ouvir o quão alto meu coração batia no peito, e podia sentir o perfume tão conhecido por mim, invadir minhas narinas, fazendo o meu corpo todo reagir por culpa dele. 
Fiquei impossibilitada de andar assim que o vi, parado ao lado do meu armário mexendo em suas próprias coisas. Eu não podia enxergar o seu rosto. A única coisa que eu via era a sua calça de lavagem escura, e sua inseparável jaqueta de couro. 
- Céus! - sussurrei pra mim mesma.
Respirar tinha se tornado uma tarefa difícil, mas ainda assim eu puxei o ar com força para os meus pulmões, enquanto mandava um comando para o meu coração se manter calmo. 
Passei minhas mãos nervosas em meu vestido, para tirar o suor que eu nem sabia que estava ali, e em seguida arrumei a bolsa em meu ombro, voltando a focar o meu olhar na porta do armário. Antes que eu pudesse perceber, ela já era fechada com força, enquanto ele arrumava seus próprios livros embaixo do braço.
Ele parecia irritado por estar ali. 
- Céus! - repeti a única coisa que eu sabia falar naquele momento. 
Ele ergueu a gola da jaqueta, como de costume, e em questão de segundos ergueu o seu olhar para o corredor, e por sorte, ou não, a primeira coisa que ele pôde ver, foi eu. 
Senti a minha garganta secar, e o meu coração retumbar alto em meus ouvidos, enquanto meus olhos não conseguiam olhar para outro lugar que não fosse seus olhos azuis. Eu sentia a eletricidade que havia entre nós dois. Eu enxergava as faíscas no ar, e eu podia sentir a combustão de sentimentos que havia ali naquele corredor, prestes a explodir.  
Ele uniu as sobrancelhas, enquanto permanecia parado no mesmo lugar, apenas me observando, assim como eu fazia com ele. Sua mão tatuada encontrou o caminho de seus cabelos, e ele os bagunçou assim como eu havia feito com sua vida. 
Medi seu corpo de cima a baixo, apenas para ter a certeza de que ele estava mais gostoso do que nunca. Seus olhos azuis varreram o meu corpo, assim como eu havia feito com ele, e eu me senti corar. Em um ato impensado, levei a mão aos meus óculos, arrumando a armação sobre o meu nariz. 
- Merda. - falei para mim mesma, ao lembrar que eu estava de óculos. - Merda.
Ele ergueu a sua sobrancelha falhada, e eu quase desfaleci por presenciar esse simples ato. 
Ele começou a andar em minha direção, me fazendo perder qualquer tipo de controle que antes eu tinha sobre o meu corpo. Minhas pernas perderam a força, enquanto as batidas do meu coração ficavam cada vez mais altas. Encarei seu rosto bonito, que ficava cada vez mais próximo de mim, enquanto seus olhos azuis não desgrudavam dos meus. 
Comecei a planejar algo para dizer, quando ele finalmente chegou perto, mas tudo o que ele fez, foi desviar do ponto onde eu estava, e seguir seu caminho, como se eu não estivesse ali. 
- Eu não acredito. - murmurei depois de longos minutos. - Ele me ignorou. - senti algo quente subir por meu rosto. 
Era raiva. 
Mesmo que a única pessoa que tivesse razão para ter raiva, entre nós dois, fosse Peeta, o fato de ele ter me ignorado tinha me deixado com muita raiva. 
Mas acima dessa raiva, estava um grande emaranhado de sentimentos, entre eles, saudade, amor, felicidade e esperança. 
Saudades do meu badboy que eu tanto amava, felicidade por ele estar por perto novamente, e esperança de que, de uma maneira ou de outra, as coisas iriam se ajeitar, e de que o nosso amor não acabaria daquele jeito.

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