Capítulo 34

23 2 0
                                    

Faltava exatamente um mês para que o prazo que Clove havia me dado para eu cumprir com a nossa aposta chegasse ao fim. Eu não preciso dizer que a vaga no Dance já não tinha grande importância na minha vida. O que eu sentia por Peeta Mellark e a minha ânsia por contar a verdade a ele era muito maior do que qualquer coisa. 
Eu estava proibida de ver Peeta. E eu achava isso um tremendo de um absurdo já que ele era o meu namorado e eu não via nada demais na forma dele falar, nas tatuagens e muito menos na maneira dele se vestir. 
Meu pai bem que havia tentado colocar algum juízo na cabeça vazia da minha mãe, mas não obteve sucesso. E eu não preciso dizer que a minha convivência com ela estava cada dia pior. 
Por culpa da proibição maluca da minha mãe eu estava matando algumas aulas durante a semana para que assim eu e Peeta pudéssemos matar as saudades um do outro. 
O aniversário dele era em dois dias e eu estava enlouquecendo, enquanto tentava pensar em algo para presentear o meu namorado que aparentemente não precisava de nada. 
Eu estava sozinha na sala onde eu costumava ensaiar. Peeta havia se tornado a minha inspiração para os meus ensaios. Era só eu fechar os olhos e lembrar de todos os meus momentos com o meu namorado que os passos saiam de maneira automática e eu sabia que estava indo bem. 
Acabei sorrindo, enquanto girava na sala ao som de "I Don't Wanna Live Forever". Eu estava vestindo apenas um de meus tops pretos e uma saia de tule na mesma cor. Meus cabelos estava preso como um ninho no alto da cabeça. Nos meus pés, as minhas sapatilhas, e eu ainda usava polainas para fechar o meu visual. 
- Katniss eu estive pensando... - minha mãe adentrou a sala e seus olhos pararam no pedaço da minha tatuagem que estava a vista. - O que significa isso, Katniss? 
Suspirei pesadamente, antes de caminhar até o som e desliga-lo. Voltei a encarar minha mãe.
Eu sabia que mais cedo ou mais tarde ela descobriria sobre a tatuagem e por esse motivo eu não fiz questão de esconder a minha nova aquisição. 
- É uma tatuagem, mãe. - tentei sorrir, mas falhei. - Eu fiz a algumas semanas. - expliquei.
- E você me diz isso com toda essa calma? - ela gritou. 
- Por que seria diferente? - falei tentando parecer tranquila. - Como eu já disse: É apenas uma tatuagem. 
- Não é apenas uma tatuagem. - ela fechou as mãos. - Foi ele, não foi? Você riscou seu corpo por ele! - ela falou vermelha. - Você está se igualando com aquele marginal nojento, Katniss? - ela soltou com raiva. 
Dei apenas alguns passos até estar cara a cara com ela. 
Eu era tão parecida fisicamente com ela, mas eu me negava a ter o mesmo caráter que ela.
- Nunca! Nunca mais ouse chamar o Peeta de marginal. - falei a centímetros de seu rosto. - O lugar onde ele mora, as roupas, o jeito de falar e as tatuagens jamais mudarão a pessoa maravilhosa que ele é. - falei calma. - Assim como o seu dinheiro jamais vai comprar um coração para você, Evelyn.  
- Eu já proibi você de ver esse garoto, Katniss. - ela tentou soar calma. - Qual a dificuldade em você entender que ele não é pra você? - ela perguntou. - Esse garoto não presta. 
- Só de pensar em viver sem ele o meu peito dói. - falei contendo as minhas lágrimas. - Eu amo Peeta Mellark. - disse sorrindo. - Entenda isso, por favor. - pedi em um sussurro. - Ele me faz bem, ele me faz sentir viva, protegida. Ele é uma das poucas pessoas no mundo que me entende. Até mais do que você que é a minha própria mãe...
A ardência em meu rosto fez com que as lágrimas que estavam alojadas em meus olhos caíssem sem que eu percebesse. Levei minha mão ao lado do meu rosto que minha mãe havia acertado e a encarei. 
Ela me olhava com raiva e parecia não estar arrependida do ato. 
- Evelyn! - meu pai gritou seu nome. - Você enlouqueceu, mulher? 
- Ela mereceu, Haymitch. - minha mãe não tirou os olhos de mim. - Quem sabe assim ela não se dá conta do erro que está cometendo. 
- Então eu também posso te dar uns tapas? - meu pai perguntou calmo e ela franziu o cenho. - Assim pode ser que você recobre o juízo, também. 
- Você mima demais a sua filha. - minha mãe gritou com meu pai.  
- Nossa filha. - meu pai a corrigiu e me encarou. - Você pode dar uma volta, Lindinha. - ele sorriu tocando meu rosto. - Eu e sua mãe precisamos ter uma conversa. 
Assenti sem ter o que dizer e deixei a sala me dirigindo ao meu quarto. 
Me troquei rapidamente vestindo a primeira peça de roupa que eu encontrei e saí de casa já sabendo até onde meus pés me guiariam. 
- Mas o que você... - Peeta começou a questionar e eu apenas entrei com tudo em seu apartamento. - Flor? - ele estava sem camisa e com aparência de banho recém tomado. - Katniss? - dessa vez ele disse meu nome. 
Eu não queria mais chorar, não na frente dele. Ele não precisava saber o que eu estava enfrentando em casa. Com certeza, Peeta tentaria me proteger e eu tinha medo de que a maneira que ele encontrasse de fazer isso fosse se afastando de mim. 
Emaranhei minhas mãos no meio de meus cabelos e os puxei com força quase os arrancando.
Meu namorado me analisou por um breve segundo antes de silenciosamente me puxar para si em um abraço e só então eu me permiti chorar. 
- Está tudo bem, Flor. - Peeta sussurrou em meu ouvido. - Não chore mais, Kat. - ele me apertou mais em seu abraço. - Eu estou aqui com você.  
- Eu sei, baby. - falei com a voz abafada. - E é isso que me consola. - encostei meu ouvido em seu peito e pude ouvir as batidas de seu coração. - Ter você comigo. 
- Você quer me contar o que aconteceu? - ele perguntou tranquilo sem quebrar nosso abraço. 
Eu quero. Quero contar não só o que aconteceu como também toda a verdade. Desde o momento que você apareceu, a maneira com que você mexeu comigo, a minha descoberta sobre os meus sentimentos por você, a aposta com Clove, a nossa aproximação até o momento em que eu me apaixonei por você, baby. 
- Não agora. - falei baixo. - Eu só quero ficar aqui com você. - ouvi seu riso. - Pra sempre. - seu coração perdeu o ritmo das batidas. 
Ele desfez o abraço mesmo contra a minha vontade e me olhou nos olhos. Seus olhos azuis brilhavam em minha direção. Um brilho que eu sabia que era causado por mim. 
Sua mão fez um carinho gostoso em meu rosto, enquanto eu fechava os olhos para aproveitar melhor o momento. Senti sua mão quente segurar a minha, enquanto ele nos guiava para sua cama totalmente bagunçada. Ele sentou de maneira que suas costas ficassem recostada na cabeceira e deu dois tapinhas ao seu lado no colchão. Sorri antes de ir até ele e ocupar o meu lugar ao seu lado deitando minha cabeça em seu peito desnudo. 
- A minha mãe não tem coração, Peeta. - falei baixo. - Ela nunca sentiu nada por mim. 
- Não fale besteira, Flor. - ele virou o rosto para me encarar. - Ela tem os motivos dela para agir de forma errada com você e no momento esse motivo se chama "Peeta Mellark". - ele quase sorriu. - Vai passar. 
- A mãe do Finn nunca deixou o Finnick para ir viajar a negócios. Ela sempre deixou essa parte para o tio Gregory. - comentei. - Minha mãe viaja a negócios desde que eu era um bebê. 
- Nesse sentido a minha mãe também deixou muito a desejar. - ele falou baixo. 
Suspirei e levei minha mão até a sua costela tatuada, onde eu comecei a fazer um carinho e o ouvi sorrir baixo. 
- Quanto tempo faz que você não vê seus pais? - perguntei e foi a vez de Peeta suspirar. - Se não quiser responder agora não tem problema. 
- Não. Tudo bem. - ele sorriu fraco. - Desde o dia que eu deixei Austin. Vai fazer um ano. 
- Você não pensa em procurá-los? - perguntei com calma. - Afinal eles são seus pais. 
- Pensar eu até penso. - ele coçou a nuca. - Mas até hoje eles não me procuraram, Flor. Não é como se eles sentissem a minha falta. - ele suspirou mais uma vez. - Eu fiz muita merda, antes de vir embora, e eu queria consertar algumas delas. 
- Como por exemplo? - perguntei curiosa.
- Procurar os pais do Ethan e até mesmo a Rachel. - ele fechou os olhos. - Ela era a noiva dele.  
- Você não falou com eles?
- Não. Eu não falei com nenhum deles depois que Ethan se foi. - Peeta coçou a nuca mais uma vez. - No dia do sepultamento chovia muito. Os familiares e amigos de Ethan estavam todos segurando seus guarda-chuva, enquanto ouviam o pastor e choravam na sepultura dele. - a voz de Peeta era baixa. - Eu não queria chegar perto. Então eu apenas fiquei escondido atrás de uma árvore escorado na minha moto, enquanto assistia tudo em silêncio. - Peeta ficou em silêncio. - Eu só fui até lá quando todos já haviam ido embora, retirei as rosas brancas que eles haviam jogado em cima do monte de terra. Ethan odiava rosas brancas. - Peeta sorriu baixo. - Eu não lembro bem o momento, mas quando eu já não aguentava mais bancar o durão eu senti meus joelhos cederem e irem de encontro ao chão, enquanto eu chorava e gritava com Ethan e reclamava com Deus por ter tirado ele de mim. - a voz do meu namorado estava sumindo. - Eu não consigo me perdoar, Katniss. - Peeta me encarou e eu pude ver o brilho das lágrimas em seus olhos azuis. - Eu não consigo me perdoar por ter levado Ethan para a morte.
Foi a minha vez de sentar e aconchegar Peeta em meu abraço. 
Em poucos segundos eu pude sentir suas lágrimas molharem o meu pescoço. 
- Você não teve culpa, baby. - falei acariciando seus cabelos. - Foi uma fatalidade. - sussurrei em seu ouvido. 
- Eu não acredito nisso, Katniss. - ele disse choramingando em meu ouvido. - Eu não acredito nisso, quando todas as pessoas que eu mais amei na vida me deixaram ou foram tiradas de mim. - sentei na cama e puxei Peeta até que ele estivesse preso em meu abraço. - Eu não quero que isso aconteça com você também, Flor. Eu não posso viver sem ter você na minha vida. - meu coração se apertou - Eu não posso perder você, Katniss. 
Afastei meu corpo do corpo de Peeta e encarei seus olhos azuis que estavam úmidos, mas já não derramavam mais lágrimas. 
Eu também não podia viver sem ele e eu também não podia perdê-lo. Eu precisava contar a verdade. Eu precisava. 
- Você não vai me perder, meu amor. - segurei seu rosto entre minhas mãos fazendo com que ele me olhasse nos olhos. - Você nunca vai me perder, eu prometo.

Queen of disaster Onde histórias criam vida. Descubra agora