Capítulo 2 - Plano em ação

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Remus

A última semana foi um inferno com "I" maiúsculo. Por algum motivo que nem Dumbledore saberia dizer, Sirius e James decidiram que Remus – sim, Remus, vulgo lobisomem viciado em livros e solitário – deveria arrumar uma namorada, ou pelo menos ficar com alguém, como qualquer pessoa normal na sua idade. E Merlim sabe que quando esses dois enfiam alguma coisa na cabeça – ainda mais se essa coisa envolver outro maroto – não descansam até conseguir.

Isso, no curto período de sete dias, já rendeu à Remus cinco cartas com a marca de um beijo de batom vermelho no verso, dois encontrões que o fizeram derrubar todos os seus livros – e não, ele não recolheu os da garota por ela –, algumas caixas de bombom aparecendo misteriosamente em sua cama – ok, essa parte até que não foi tão ruim assim – e um feitiço de fixação na frase "aluado é um bom partido" escrito em laranja florescente no meio de sua capa.

Não pergunte sobre o último.

E Sirius depois de passar o rodo em Hogwarts durante o ano inteiro, parecia ter decidido entrar em um período sabático, finalmente largando aquela garota da corvinal... Angelina alguma coisa? Só de lembrar o nome lhe dava enjoo. Se algum dia tivesse filhos – o que não achava que pretendia – teria que se atentar para que a criança não se chamasse igual a ninguém que Sirius já tivesse beijado.

"Se acalme, Remus", pensou para si mesmo "ele tem todo o direito do mundo de ficar com quem bem quiser. A vida não se importa que você tenha uma queda insuperável desde o terceiro ano, e nem que você não esteja incluído no conceito dele de ficar com 'todo mundo de Hogwarts'".

Aquilo estava realmente virando seu mantra.

Respirou fundo pelo que deveria ser a terceira vez antes de entrar na sala comunal, já sabendo o que encontraria lá.

- Moony! Ainda bem que você chegou. Pads e eu elaboramos uma nova lista... – dizia James, ainda escrevendo furiosamente tópicos em um papel. Sirius, sentado (ou deitado, dependendo de sua perspectiva em relação a má postura) à seu lado, tinha as sobrancelhas franzidas naquela expressão ridiculamente linda de concentração.

- Lembrei! Mariadne Midgen, da lufa-lufa. O Moony tem cara de que se daria bem com uma lufana...

- De novo não... – lamentou Remus, mas os meninos não se abalaram. Estava prestes a subir para o dormitório o mais discretamente possível quando James se levantou, o olhar alarmado.

- Falei para Evans que devolveria seu livro de poções na biblioteca! Vence hoje, será que ainda está aberta...?

Olhou para Remus, como se ele fosse uma tabela de horários ambulante.

- Sim, fica aberta até as 20:00 nos dias de semana. Ninguém se importa se for feriado, fica do mesmo jeito. – respondeu, o que pareceu suficiente, porque James saiu correndo do recinto.

Sirius olhou para o buraco deixado no retrato da Mulher Gorda, parecendo divertido.

- James realmente aprecia o trabalho de empregado da Evans. – piscou - Enfim, voltando ao que importa, eu acho que está bom por enquanto. Venha aqui, você tem que começar por alguma delas...

- Sirius, está tarde e é sexta feira, por que nós não podemos só jogar xadrez mágico ou, sei lá, ir dormir?

- Porque xadrez mágico é chato e dormir também é.

- Pff. Por que você não consegue se entreter em nada por mais de 5 minutos?

- Por que você não para de me fazer perguntas e se concentra no que é importante?

Remus revirou os olhos, mais para não ter que sustentar o olhar incisivo de Sirius sobre si, e como sempre, acabou cedendo.

- Tudo bem. Deixe-me ver que pérolas vocês têm para mim hoje.

Black sinalizou para que Remus sentasse à seu lado, e quando este o fez, entregou-o uma folha de pergaminho amassado nas pontas, com diversos nomes escritos em uma mistura de caligrafia clara, prática e garranchada – James – e longa, preguiçosa e rebuscada – Sirius.

Reconhecia alguns dos nomes, inclusive achava que os amigos estavam superestimando ele – ou subestimando as meninas – se achavam que tinha alguma chance com elas.

Até mesmo Carolina Travers, uma recém admitida na grifinória após ser transferida do Instituto Durmstrang para lá.

- Ela é legal. – murmurou Sirius, olhando sobre seu ombro, sua respiração fazendo cosquinhas em seu queixo enquanto falava - Beija bem também.

Remus o encarou, fingindo ofensa.

- Não vou te perguntar como sabe disso.

- Aula de adivinhação – disse Sirius, e por seu tom de voz, Remus sabia que estava sorrindo. Sorrindo daquele jeito dos Black.

Continuou a ler e, um pouco antes do final, Sirius pareceu agitado, eventualmente tirando o papel de sua mão.

- Não vi que isso estava aqui...

- Hum? – questionou Remus, confuso, enquanto Sirius riscava alguns dos nomes na parte de baixo.

Conseguiu ler um: "Mathew Shacklebolt"

- Nada não, só algumas teorias do James. Esquece! Bom, continuando...

Remus não prestou muita atenção depois disso, se perguntando o porquê daquela reação. Remus sabia – ao menos ouvia falar – que Sirius já havia beijado outros garotos, mas eles não falavam muito disso – não falavam nada disso -, o suficiente para que Remus perdesse qualquer tipo de esperança que já tivesse alimentado a respeito.

Permitiu que o Black falasse por mais um tempo, só porque a sonoridade de sua voz fazia bem para seus nervos, até que os dois bocejaram umas três vezes e decidiram que era hora de ir para cama. James retornou, com um sorriso maior do que a cara, dizendo que tinha conseguido devolver o exemplar e, de quebra, trombado com Lily no caminho de volta. Peter vinha ao seu encalço, reclamando por ter "ficado de vela".

Todos riram e, quando já estavam deitados, devidamente cobertos e com as luzes apagadas, Remus soltou:

- Viram? Eu não preciso de uma namorada, tenho vocês.

Lobisomens não beijamOnde histórias criam vida. Descubra agora