capítulo 1 - silêncio

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Sinto meus pulmões arderem e minhas pernas não aguentarem meu peso. Tento continuar o máximo que consigo, mas sinto meu sangue ardendo em meu rosto e não exito em relaxar as pernas fazendo com que eu caia. Meus joelhos e minhas mãos agora estão enterradas em montes de folhas secas. Eu preciso continuar correndo... Olho para frente e vejo a linha de chegada amarrada em árvores finas, sem folhas. Sem cor.

-Volta aqui!- ouço seus gritos e levanto na mesma hora.

Continuo correndo, eu não posso parar. Ela não vai me pegar... Ela não pode. A brisa gelada consome todo o meu corpo, agora quase coberto pela neblina. Estou perto. Estico as mãos para alcançar a linha amarela mas sou tomada por surpresa quando percebo que agora tem linhas pretas na faixa. Faixa amarela e preta... Não, não, não. Meu Deus, de novo não. Então sinto meu pé ser puxado e meu rosto ir de encontro ao chão. Abro meus olhos e encontro a luz do sol refletindo na minha parede. Mais uma vez, com meus olhos marinados e meu corpo suado colado nas cobertas.

Olho para o relógio ao meu lado e são 06:59. Eu não me lembro da última vez que consegui dormir tanto e fico feliz com isso. Estou fazendo avanços.

-Filha?- ouço três batidas na porta antes dela ser invadida pelo cheiro de café fresco.

Me sento na cama, um pouco mais calma. Minha mãe abre a porta com uma caneca em sua mão.

-Bom dia, mãe. - ela me observa com olhos baixos, e só então me lembro que estou completamente suada. Passo minhas mãos na testa na tentativa de melhorar a minha situação mas sinto meus cabelos encharcados.

-Eu ainda acho que você deveria ir a psicóloga, querida.

Tiro as cobertas de cima de mim e me levanto. Não quero ter essa conversa novamente.

-Eu já disse que estou bem... E você sabe o que o papai acha sobre isso.

Olho para ela e vejo sua expressão de preocupação. Penso em como acalmar a situação e chego perto dela. Preciso que ela olhe no fundo dos meus olhos. Pego sua mão desocupada e dou um beijo.

-Eu estou bem, mãe. Confia em mim. Eu não quero que a senhora se preocupe comigo. Isso tudo é apenas passado pra mim. E você sabe que sempre tive pesadelos... Não é algo para se preocupar agora.

Solto sua mão antes de dar um sorriso de consolação e vou em direção ao meu guarda-roupas.

-O que precisamos nos preocupar agora, Dakota?

Começo a olhar minhas pilhas de roupas e me lembro que hoje é meu primeiro dia de aula. Faculdade nova, cidade nova... Meu deus.

-Precisamos nos preocupar em como vou me vestir, ou como vou falar com as pessoas.

Minha cabeça é tomada por pensamentos absurdos, como por exemplo: como me portar caso eu esteja no meio do refeitório e a bandeja de comida cair em cima de mim. Não me seguro ao compartilhar esse pensamento com a minha mãe.

-Você é realmente doida - ela ria enquanto tomava seu café sentada na minha cama. Sua expressão era leve... Acho que consegui acalma-lá um pouco.

Com que roupa eu vou? Aqui também tem normas de vestimenta? Reviro meu armário em questões de segundos, e ele fica completamente bagunçado.

-Eu não vou arrumar isso.

-E nem deve. Sabe que não gosto quando mexe nas minhas coisas- a observo indo em direção a porta.

- Você tem 40 minutos, vou arrumar a mesa. Se você se atrasar, vai de ônibus.

Ouço ela descer as escadas e aproveito para ir ao banheiro e tomar um banho. Eu realmente precisava disso.

wild eyes - elizabeth olsen Onde histórias criam vida. Descubra agora