capítulo 4 - os papéis

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O caminho foi tomado por um silêncio inquietante. Eu não sabia o que havia acontecido mas estava disposta a descobrir. Me ajeitei no banco, que de repente pareceu desconfortável como uma cadeira de pregos.

-Minhas coisas ficaram na sua sala.- digo cortando o silêncio, fazendo Elizabeth piscar rapidamente por diversas vezes.

Ela estava lembrando de algo.

-As minhas também. Vou dar meia volta.

Ela foi direta e séria, e isso mexeu um pouco comigo. Aconteceu alguma coisa ou eu fiz alguma coisa? Por algum motivo não suportava a ideia de ter Elizabeth brava comigo. Me fazia querer chorar.

-Eu fiz algo de errado? - digo com o que me resta de coragem, antes de um nó se formar em minha garganta.

Ela me olha, pela primeira vez. Sua feição era triste mas ela tentava não demonstrar.

-Você não fez nada de errado... Eu só me lembro de coisas que não deveria as vezes. -ela balança a mão no ar na tentativa de afastar os pensamentos.

Queria que ela confiasse em mim. Eu também me lembro de coisas que não deveria as vezes.

-Olha, não se preocupa. Você realmente não fez nada de errado. -ela diz novamente, mas dessa vez mais confiante.

Paramos no sinal, em frente a mercearia. O mesmo sinal que ela gritou com aquela moça. O pensamento me diverte e então olho para ela, que está concentrada na sinalização. Ela percebe no mesmo momento que a encaro e então, com muito cuidado, sua mão vai em direção a minha.

Ela parece recuar um pouco, então decido fazer o resto do percurso por mim mesma e agarro sua mão, com força. Suas mãos estão quentes, mas um pouco úmidas. Eu poderia ficar assim por horas.

O sinal abre, e quando acho que Elizabeth vai largar minha mão ela simplesmente usa a mão do volante para trocar a marcha do seu carro automático. Continuamos o restante do percurso com nossas mãos unidas e sem trocar uma palavra.

Quando paramos em frente ao portão da faculdade, Elizabeth olha nossas mãos e volta seu olhar para mim. Eu sei... Eu também não quero soltar.

-Você pode me esperar aqui. Pego nossas coisas em um instante. -digo um pouco nervosa, pois sentia meu sangue circulando muito mais rápido do que deveria.

-Tudo bem. - assente com a voz baixa, e lábios semiabertos.

Eu não quero soltar minha mão da dela. E ela parece pensar o mesmo, pois estamos a segundos nos encarando.

-Eu preciso ir lá. -foi assustadoramente doloroso falar isso.

Ela balança a cabeça rapidamente, e pisca diversas vezes. O que ela estava pensando?

-Claro, claro. Desculpa. Te espero aqui. Eu-eu não vou sair daqui.- ela solta nossas mãos e eu abro a porta do carro no mesmo instante.

-Já volto, ok? -digo com voz baixa a olhando pela janela do carona.

Ela assente balançando a cabeça rápido e fazendo alguns fios do seu coque balançarem.

Saio em direção a pequena sala de estudos da Srta. Olsen e aproveito para pensar no que pode ter acontecido com ela. A reação no carro realmente me deixou preocupada... Não consigo imaginar algo de ruim acontecendo com ela.

Chego na sala em poucos minutos e aproveito para olhar mais perto os armários. Haviam inúmeras avaliações e papéis com coisas irrelevantes, como resumos e rascunhos. Decido pegar as coisas e sair o mais rápido possível pois prometi a ela que não demoraria.

Pego minha mochila e a coloco em um braço. A bolsa preta de Elizabeth não era tão pesada e agradeço muito por isso. Por último pego seus livros, mas a maldição da minha professora cai sobre mim, e alguns livros escapam pelos meus braços. Coloquei alguns na mesa, mas enquanto recolhia observei alguns papéis. Meus olhos voaram direto para algumas palavras.

"Contrato com advogados" "boletins de ocorrência" "ordem de restrição" "divórcio".

-Meu Deus. -não consigo falar nada além disso.

Junto as coisas o mais rápido possível e tentando assimilar o que acabei de ver. Coloco tudo em meus braços e saio de lá o mais rápido possível. Era dessa pessoa que ela estava fugindo? Por isso ficou triste no carro? Saio quase atropelando algumas pessoas pelo corredor. Eu precisava manter a calma pois não queria que ela soubesse que eu sei.

A vejo de longe pela janela do carro. Eu preciso manter a calma, mesmo que esteja sentindo meu peito perto de explodir de preocupação.

Abro a porta do banco traseiro e coloco seus livros e sua bolsa. Fecho a porta e entro no banco do carona. Tento respirar fundo e me acalmar.

-Você não deveria ter visto aquilo.-Elizabeth da partida no carro sem me olhar.

Ela sabe.

-Vi o que? Do que você está falando?- tento soar confiante em minha mentira, mas pareço ter feito ela confirmar o que estava pensando.

Ela abre um pequeno sorriso, enquanto fechou seus olhos por um segundo. Fudeu.

-Dakota, está tudo bem. Isso não é um problema. Só me deixa te explicar melhor.- sua voz era calma enquanto ela se concentra na pista.

-Tudo bem. -aceito meu destino como péssima mentirosa.

-Podemos almoçar no meu restaurante preferido. O que acha?

Ela parece um pouco mais animada.

-Perfeito. Estou faminta.- levo a mão ao estômago, pois realmente estou morta de fome.

-Sei que nós nos conhecemos agora, mas sinto algo diferente em relação a você. - sua expressão é concentrada.

-Eu também sinto, Elizabeth. Parece que sou capaz de qualquer coisa perto de você. -digo sem exitar, pois é verdade.

Ela abre um sorriso na mesma hora mas continua com seus olhos na pista.

-Posso confiar em você? - ela finalmente olha pra mim.

Ela quer ter certeza disso.

-Pode confiar em mim de olhos fechados e mãos atadas.-digo olhando diretamente para seus olhos.

Seu sorriso aumenta mais, e sua bochecha cora instantaneamente. Confesso que falei sem pensar, mas a ideia de tê-la vedada e de mãos amarradas parece extremamente excitante.

-Olhos fechados e mãos atadas...-ela levanta uma das sobrancelhas e dá um sorriso leve- Estou extremamente ansiosa para saber o que acontece depois disso, Dakota.

Suas palavras parecem dar a volta no meu corpo, me deixando completamente desnorteada. Eu não esperava por isso mas não via a hora de mostrar a ela o que acontece.

-Você não imagina o quão ansiosa eu estou para te mostrar, Elizabeth.

Ela tira os olhos do trânsito e me olha. Seus olhos estão escuros enquanto ela analisa cada parte do meu rosto, com os lábios entreabertos. É oficial. Ela realmente queria aquilo.

Na mesma hora ela para o carro no lugar que acredito ser o restaurante, mas eu não consigo saber pois não tirei os olhos dela ainda.

Uso minha mão esquerda para tocar sua coxa e aperta-la sutilmente. Chego perto do seu rosto a ponto de sentir sua respiração acariciar minhas bochechas.

-Quem é você, Elizabeth? -digo baixo e intercalando meus olhos entre os olhos e a boca dela.

Estava dizendo mais pra mim, do que para ela. Como ela mexia tanto comigo?

-Você vai descobrir agora. -ela diz ainda mais baixo e chegando mais perto de mim.

Só então percebo que ela estava pegando distância para abrir a porta do carro atrás dela. E em um pulo ela sai do meu lado e me olha pelo vidro do carro, com um sorrisinho vencedor. Ela sabe o que causa em mim.

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cap não revisado.
espero que gostem...
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wild eyes - elizabeth olsen Onde histórias criam vida. Descubra agora