Redemption

reconnected

PASSADO

Demorou quatro dias desde que vi o anúncio e tomei coragem para vir. Já faziam três longos anos desde que eu havia feito a ligação no meio da noite, terminando tudo que nem tenho certeza se tinha começado. Eu estava em um péssimo lugar, meus pais estavam se separando, minha mãe estava internada na ala psiquiátrica, minha irmã não estava falando comigo porque segundo ela, eu a abandonei, agora nossa "tia" era nossa madrasta e meu irmão resolveu dar uma de Jack Chan e bater em todos na escola.

Eu não tinha energia para lidar com um relacionamento à distância, estávamos em fases da vida completamente diferentes, eu estava no ensino médio e ele estava na faculdade começando um negócio próprio. Concordamos que não era uma boa ideia, e insisti que não mantivessemos nenhum contato, porque aquilo só aumentaria a dor. Eu preferia ficar no escuro, sem saber o que estava acontecendo do que vê-lo vivendo a vida dele em outro país, talvez até se apaixonando por outra pessoa.

Mas agora as coisas estavam diferentes. Eu tinha dezenove anos, estava estudando engenharia civil e ele finalmente conseguiu abrir a Valderrama's Enterprise no coração de Miami. Foi uma tremenda coincidência minha colega de quarto, Heather, ter pedido uma carona quando estava vindo fazer uma entrevista de emprego e imediatamente soube que ele estava ali, mas não tive coragem de entrar, estava com muito medo de descobrir que ele seguiu em frente e minha colega não ter conseguido o emprego não me ajudou.

-Boa tarde - falei para quem deduzi ser a recepcionista carrancuda, ela parecia ter uns quarenta anos e odiava o trabalho. - Gostaria de falar com o Wi... senhor Valderrama.

-Tem hora marcada?

-Não. Eu sou uma velha amiga - ela me olhou como se não acreditasse. - Pode avisar que a Demi está aqui, por favor?

-O senhor Valderrama tem uma reunião agora, já deve ter saído.

Estava abrindo a boca para pedir que ela verificasse isso quando a porta de madeira atrás foi aberta e ele saiu de lá. Foi como se o mundo inteiro tivesse parado e houvesse se acendido um holofote sobre ele ao mesmo tempo que borboletas se agitavam meu estômago. Sua reação foi igual a minha, perdendo o foco quando nossos olhos se encontraram, mas ele logo abriu um sorriso enorme e veio em minha direção com os braços abertos para me abraçar e minhas pernas bambearam enquanto estava em seus abraços e respirei profundamente o seu perfume que era exatamente o mesmo desde Los Roques.

-Demi! Quanto tempo! Uau, você não mudou nadinha.

-Isso era para ser um elogio? - consegui brincar como se não estivesse completamente desarmada só por aquele abraço.

-Sim, claro, está linda como sempre - minhas bochechas arderam na mesma hora e mordi os lábios desviando os olhos, me esforçando para não fazer uma careta, afinal, eu tinha me arrumado para isso, então deveria estar bonita, né?

-E você parece maior.

-Senhor Valderrama, não está atrasado para sua reunião?

-Cancele, Astrid. Agora vou levar a Demi para almoçar, você não almoçou ainda, né? - neguei com a cabeça - ótimo, vamos?. - ele estendeu a mão e peguei com prazer, por mais que no fundo quisesse que ele me envolvesse nos seus braços e cantasse hold my girl pra mim. Mas naquele momento eu estava disposta a ir em qualquer que ele quisesse me levar.

O almoço se tornou um café da tarde e em seguida um jantar. Eu não tinha planos para hoje e ele havia cancelado os seus porque a ideia de nos separarmos de novo era dolorosa demais. Não que tivéssemos feito mais do que conversado, assim como no dia em que nos conhecemos, conversar com ele era fácil demais. Nós tínhamos muitas coisas em comum, os mesmos princípios, as mesmas opiniões em praticamente tudo e as pequenas coisas que discordavámos poderiam ser facilmente toleradas.

Estava sentada em uma das namoradeiras na sacada de seu apartamento e de lá dava para ver o céu estrelado e me lembrei de nosso único beijo sobre as estrelas há milhares de quilômetros de distância e há praticamente uma vida inteira atrás. Wilmer logo voltou com uma garrafa de vinho e duas taças em mãos e ainda estava entretida com as estrelas quando ele me ofereceu uma das taças.

-É quase mágico aqui.

-É a primeira vez que sinto isso aqui, então chutaria que é a companhia e não o lugar - ele disse e minhas bochechas queimaram pela milésima vez naquele dia. O que ele mais havia feito naquele dia era me fazer corar, sorrir como uma boba e fazer borboletas se agitarem no meu estômago e ele ainda nem havia me beijado. Ele havia fingindo se espreguiçar para colocar um braço em volta do meu ombro e, inconscientemente, me aconcheguei procurando ainda mais contato.

-Então… - começamos a falar ao mesmo tempo, e rimos de nós mesmos. - Isso é tão cliché. 

-É, exatamente por isso que eu ia te beijar. Você está linda, assim, sabia?

Minhas bochechas queimaram como não faziam há muito tempo e, ao invés de me retrair, fechei os olhos e inclinei a cabeça esperando seu toque, o que seria basicamente meu segundo beijo. Eu considerava aquele beijo em Los Roques como meu único e real beijo até então, porque as outras experiências não foram nada comparado, poderiam até ter sido meros toques de cotovelos que não iria fazer diferença. Mas isso aqui, era completamente diferente, eu o sentia antes mesmo de nossos lábios se tocarem e as borboletas no meu estômago enlouqueceram completamente quando finalmente aconteceu.

Apenas os nossos lábios se tocando bastava para uma corrente de eletricidade correr pelo meu corpo me deixando viva como nunca antes. O beijo se tornou mais íntimo quando senti sua língua tocar os meus lábios e permiti que ela explorasse o que quisesse em mim. Ficamos nos beijando por muito tempo, algumas vezes era calmo e amoroso e outras era feroz e apaixonado e eu estava adorando tudo que acontecia ali. Eu queria mergulhar completamente em todas aquelas sensações de cabeça, mas havia uma coisa apitando na minha mente, quando as coisas ficaram ainda mais íntimas, me impedindo de me entregar completamente.

-Hm, eu nunca fiz isso antes então.. - eu disse.

-Não trouxe você aqui com essa intenção, é que eu não conheço mais nenhum lugar legal para te levar e... Eu esperei muito tempo para te encontrar de novo, não consigo nem suportar a ideia de ter que me despedir de novo de você, então isso é meio que um sequestro.

-Não é um sequestro se eu estiver aqui por livre e espontânea vontade. Senti muito a sua falta, queria que as coisas pudessem ter sido diferentes.

-Mas estamos aqui agora e é isso que importa. 

-E dessa vez eu só tenho a mim para me preocupar, me sinto livre pela primeira vez. 

-Espero que não tão livre para me ter na sua vida agora.

-Não, não quero mais me ver livre de você, Wil.

-Que bom, porque eu não vou te deixar livre de mim, Sunshine - e então ele me beijou de novo, e várias outras vezes noite adentro.