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Any Gabrielly

A minha cabeça dói, e eu tenho quase certeza de que não sinto a ponta dos meus dedos. A claridade é a primeira a me incomodar, quando eu abro os olhos. Demoro alguns segundos para descobrir onde estou, mas mesmo depois disso, não consigo me lembrar de como vim parar aqui. Meu corpo inteiro dói, é como se eu estivesse deitada há muito tempo. Abro a boca para falar, mas o máximo que consigo fazer, é murmurar algumas coisas sem sentido. Viro um pouco a cabeça, e vejo uma mulher parada á alguns metros. Ela parece limpar, o que eu deduzo que seja um tipo de altar. Tem algumas flores, alguns desenhos e alguns porta-retratos.

Assim que se vira, ela parece surpresa. Ela larga tudo no mesmo lugar, e sai correndo porta afora. Eu decido ignorar, e tento concentrar toda a minha atenção em mover as minhas mãos. Obviamente, eu falho e eu sequer sei o motivo. É como se eu soubesse que meu corpo está inteiro, mas ele não responde mais aos meus comandos. A mulher que estava aqui antes, entra e traz consigo um homem. Ele se aproxima de mim, e sorri realmente contente.

— Olá, Any! — Ele diz. — Consegue falar?

Nego com a cabeça.

— Não se preocupe com isso. — Ele tenta me tranquilizar. — Você deve voltar a falar dentro de algumas horas, e também deve voltar a ter controle sobre o seu corpo. Os sedativos que ingerimos são fortes, e nós não esperávamos que você acordasse agora. Mas, eu estou feliz em ver que você está bem!

— Eu devo ligar pra família, Doutor? — A enfermeira pergunta. O homem se vira pra ela, e faz um sinal pra que ela deixe as coisas onde estão.

— Ligue. — Ele suspirou fundo. — Enquanto isso, vou conversar um pouco com ela.

— Tudo bem. — A enfermeira saiu do quarto.

O doutor puxou uma cadeira para o lado da minha cama, e se sentou. Eu continuei acompanhando ele com os olhos, enquanto via ele anotar algo em seu caderninho.

— Você se lembra do porquê está aqui? — Ele pergunta. Eu nego com a cabeça. — Houve um acidente na 106. Você estava com o seu namorado, o senhor Beauchamp. Um homem bêbado vinha dirigindo na direção contrária, e ele acabou atropelando vocês dois.

De repente, eu conseguia me lembrar de tudo. Consegui me lembrar de ver o farol chegando cada vez mais perto, de sentir os braços do Josh ao meu redor e da forma como ele disse que tudo ficaria bem. Agora, eu me lembro. Senti uma lágrima solitária descer dos meus olhos, e imediatamente o Doutor se levantou um pouco desconfortável. Essa não era a intenção dele.

— Desculpe... — Ele murmurou. Ele caminhou para a mesinha cheia de desenhos e quadros, e puxou um deles de lá. — Seus amigos sempre trazem uma foto nova. Essa menina vem sempre aqui. — Ele aponta para a Nour, e eu sorrio de leve. Meu corpo ainda dói muito pra que eu consiga sorrir. — Vou deixar que a sua família te conte as outras coisas... Está sentindo dor?

Eu assinto, e ele caminha até uma das máquinas que estão ligadas ao meu corpo. Eu não sei o que ele injeta ali, mas eu sei que começo sentir a dor passar aos poucos. Ele sorri uma última vez, e sai do quarto. Eu fecho os meus olhos, e me pergunto como o Josh está. Ele me abraçou pra que eu não me machucasse muito, e o meu maior medo é que ele tenha se machucado muito.

Eu não sei quanto tempo se passou, tudo o que eu sei é que eu comecei a ouvir alguns gritos vindos do corredor, e deduzi que fosse Priscila. Minutos depois, ela abre a porta do quarto e vem correndo ao meu lado. Ela sorri e hesita um pouco em me abraçar, talvez ela tenha medo de me machucar de alguma forma. Com muito esforço, eu consigo movimentar a minha mão e acariciar os cabelos de Priscila, que está com a cabeça apoiada no meu braço. Eu olho pro meu pai, e ele sorri com lágrimas nos olhos também.

HeartbrokenOnde histórias criam vida. Descubra agora