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"I do, I do, I do
You may not know right where you're going
But I do, I do, I do."

Angélica1/3

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Angélica
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--- Padre Mateus, bom dia, eu queria confessar meus pecados antes de migrar para a casa dos meus pais. - entrei na capela e vi o padre de joelhos - Peço imensas desculpas, eu não sabia que o senhor estava orando. - me senti envergonhada com a situação em que me coloquei.

--- Bom dia filha, não se sinta envergonhada eu já havia acabado de rezar, estava me preparando para uma grande missa, de hoje, domingo. - o padre se levantou e caminhou até mim - Como se sente hoje?

--- Me sinto tão bem padre depois de tanto tempo, eu posso dizer que a igreja foi o lugar onde me mostrou que a esperança é a última que morre. - respirei fundo - Depois de tanto tempo sendo maltratada por aquele homem, estou livre.

--- Você ainda não citou o nome dele para mim, nunca vou a poder ajudar se você não colabora. - o padre se aproximou e pousou sua mão em meu ombro.

--- Quando eu estiver pronta, no momento ainda me encontro em situações difíceis, padre.

--- Não se preocupe filha, o supremo ainda te dará forças para continuar na sua jornada, vamos. - o padre se dirigiu ao confessionário o segui e me sentei por fora.

--- Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém. - fizemos o sinal da cruz.

--- Você como penitente pedirá perdão para se reconciliar com Deus e a igreja católica. - o padre segurou no terço e beijou o mesmo. - Deus conhece seus pecados e nós não precisamos lembrá-lo.
Embora este sacramento a ajude a se sentir melhor, ele é simplesmente um resultado natural do restabelecimento da comunhão. - fez um sinal para que eu começasse a confissão.

--- Padre eu queria pedir perdão por ter guardado rancor dos meus pais, foi um peso e tanto que carreguei no momento em que me tiraram de casa, padre, o senhor não imagina com o que me deparei naquele lugar, era um mundo tão diferente com o que eu vivia, era tudo tão sujo, era difícil engolir o óbvio, eu me encontrava em uma situação daquelas, eu estava fazendo meu último ano de faculdade. - sorri. - O senhor deve estar se perguntando como uma moça de 24 anos ainda frequenta a faculdade, pois, eu tive que trancar todas as minhas cadeiras porque a situação lá em casa não era das melhores, estávamos passando por momentos precários, mal eu tinha uma marmita para levar de almoço, algumas vezes nem tínhamos pão sequer um ovo, apenas tínhamos água, minha mãe tentou seu trabalho de empregada mas não chegava para as despesas de casa, meu pai, padre, meu amado pai, trabalhava dia e noite incansavelmente, voltava às 1 da manhã e às 6 da manhã tinha que ir trabalhar, eu via a situação e decide agir, arranjei um trabalho como garçonete, não me pagavam tão bem mas com as gorjetas dava para um nobre pequeno almoço em casa, e quando eu chegava na faculdade ia direto para o auditório, algumas colegas me chamavam para tomar café, mas se nem dinheiro para comprar pão imagina um café, eu via alunos com carros luxuosos e roupas de marca. - meu rosto já estava ensopado de lágrimas. - E se eu disser que não sentia inveja, estarei mentido, eu sentia muita inveja, e depois quando chegava em casa eu sentia uma certa vexação, não me orgulhava em dizer que era ali onde eu morava.

--- Todo o ser humano se sente envergonhado nessas situações, é o novo normal, mas também é antiguidade, se orgulhe em pelo menos ter um teto, agradeça, nem todos têm esse privilégio, nem todos têm a oportunidade de frequentar a faculdade muito menos a primária, a pessoas que pedem esmola, perguntam por abrigo e são ignoradas, são insignificantes ao ver de alguns.

--- Faça 10 Avé Maria, e um Pai Nosso.

--- Avé Maria cheia de graça, o senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Jesus, santa maria mãe de deus, rogai por nós... - parei de rezar quando ouvi um estrondo vindo da porta.

--- ANGÉLICA! - era ele, o diabo, era ele.

Frustrada, apertei minha roupa, o diabo caminhava até mim com passos pesados e sua face não escondia sua raiva, atrás dele estava aquela mulher Rosana, tentando fazer com que ele se acalmasse mas sem sucesso.

--- MATEUS me devolve a Angélica ela é minha. - mas como ele conhece o padre.

--- Padre por favor é ele, ele vai me matar. - meus olhos tinham o terror que ele sabia que tinha sobre mim.

--- Vai ficar parada aí sua filha da puta? - ergueu minha cabeça, me puxando pelos cabelos, tento olhar em seus olhos e procurar compaixão mas não a encontro.

--- Eu... - engasguei. - Como você me encontrou aqui?

--- Mundo tão pequeno não, você achava mesmo que fugiria de mim e eu não fosse te encontrar. - soltou uma gargalhada. - Você continua ingénua não?

--- Pablo se controle a gente não está na boate, por favor não faça nada que possa se arrepender. - Rosana tentou argumentar.

--- Rosana cale a porra da boca ou sobra para você. - ameaçou.

--- Pablo é você? - era nítido a surpresa e decepção que tinham nos olhos do padre.

--- SEU MERDA, FILHO DA PUTA. - o diabo gritou e partiu para cima do padre.

Soltou meus cabelos, com seus punhos fechados e suas mangas levantadas, caminhou até ao padre e depositou um soco na face dele, Rosana deu um grito, e eu apenas estava paralisada, me sentindo num filme de terror, o padre caiu no chão e segurou seu maxilar massageando, diabo sem qualquer empatia continuou socando o padre, toda a dignidade dele estava no chão.
Rosana com lágrimas nos olhos correu até a porta e gritou :

--- Seguranças segurem ele, ele vai matar o padre. - desesperada ela pedia ajuda.

Os seguranças com suas mãos cruzadas se manteram imóveis, ignorando qualquer palavra que saia da boca dela.

--- Seus inúteis de merda, vocês não servem para nada. - Rosana correu até ao encontro deles e segurou diabo.

--- Não faça isso por favor, você já encontrou ela, vamos embora Pablo. - Rosana implorou segurando nos braços dele. - Pelo amor do inferno você já fez o que queria , olha ele mal consegue abrir os olhos.

Diabo ainda tomado pela ira se levantou, caminhou até mim e me pegou pelo braço, eu ainda não conseguia entender aquela realidade e lidar com a situação, minhas pernas se moviam apenas porque estava sendo puxada, sua respiração ofegante e seus punhos com manchas de sangue, ele me levou até o carro e me atirou para dentro dele, Rosana se sentou no banco de frente e respirou profundamente, diabo entrou no carro, ligou o motor e deu partida e meu coração apertado por ter deixado o padre daquele jeito.

Triângulo Morto- Em BreveOnde histórias criam vida. Descubra agora