ii. sentença de (talvez) morte

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Caro Rhys,

Se eu achasse que hoje poderia ser um dia melhor, não estaria mais enganado. A pior parte dele não foi a aula de três horas com a sra. Foster, nem o aconselhamento de drogas com o Oficial Collins; foi saber que ainda não havia me livrado da americana.

No intervalo entre o fim das aulas profissionalizantes e o jantar, nós dois estávamos sentados em um banco de madeira ao lado da porta da sala do sr. Shappell, esperando o momento em que fossemos chamados.

A garota estrangeira, cujo nome eu ainda nem sabia, mas por quem já tinha uma tonelada de ódio, balançava as pernas nervosamente, fazendo o banco tremer. O movimento estava me irritando e fiquei tentado a segurar seus joelhos.

— O que estamos esperando? — perguntou, e, como reflexo, eu imediatamente olhei para ela. Ela fitava a parede a nossa frente. A tinta, que aparentemente costumava ser branca uma vez, estava marrom com os esbarrões de mão sujas e rabiscada com obscenidades pelos vários jovens detentos que estiveram aqui antes de nós. Eu sei que o orçamento da instituição é baixo, mas não deve custar milhões uma nova lata nova de tinta.

— Está falando comigo?

Ela virou-se para mim com a testa franzida. Até aquele momento não tinha tido a oportunidade de olhá-la com calma. Ontem à noite no telhado estava escuro demais para avaliar seu rosto, e desde que fomos encontrados não tínhamos nos vistos. Essa era a primeira vez que eu a via de perto com clareza e sem maquiagem. Apesar de irritante e meu sangue ebulir só de ouvir sua voz, suas feições são claramente harmônicas. Mas eu nunca diria uma coisa dessas em voz alta, Rhys.

— Mesmo que a parede seja menos ignorante que você, ela não tem uma boca. Quem será que tem uma boca aqui além de mim? — Levantou uma sobrancelha.

Fiquei tentado a dar uma resposta sarcástica, mas não queria alongar nossa interação, então apenas disse:

— Eu acho que estamos esperando nossa punição.

— Pensei que eles já tivessem feito isso ontem. — Voltou a olhar para a parede e começou a enrolar no indicador direito um cacho que escapara de seu rabo-de-cavalo.

Depois disso, nem um de nós falou qualquer coisa.

O oficial que nos encontrou ontem estava com muito sono para decidir alguma coisa além do meu aconselhamento de drogas, então ele ainda não havia falado a respeito de nossa sentença. Meio dormindo, ele nos guiou até nossos quartos e hoje de manhã recebi o aviso de me apresentar ao sr. Shappell.

Parte de mim estava borbulhando ódio pela americana, afinal era tudo culpa dela. A outra parte estava ansiosa. Tinha mantido meu histórico de bom comportamento há semanas, esse pequeno deslize poderia adiar a obtenção da minha licença para sair daqui. Meu estômago dava cambalhotas com a possibilidade de estenderem minha pena. Eu não posso ir para uma prisão de verdade, Rhys!

A porta da sala do sr. Shappell se abriu, dando passagem para um garoto mais novo, talvez de uns quinze anos, e o próprio sr. Shappell. Os dois se despediram e, quando o jovem infrator sumiu na curva do corredor que levava à saída, o sr. Shappell foi até diante de nós e nos encarou com uma expressão amigável.

Ele vestia um de seus costumeiros ternos bem passados, o dessa vez era cinza acompanhado de uma gravata rosa. Seu cabelo grisalho, também como sempre, estava impecavelmente alinhado.

— Vamos lá? — Acenou para o acompanharmos.

A americana e eu apenas obedecemos em silêncio, sentando-nos cada um o mais longe possível do outro nas cadeiras em frente à mesa do sr. Shappell.

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