Me esgueirava por entre a multidão, de vez em quando esticava meu pescoço para não perde-lo de vista, viramos, uma, duas, três vezes até chegarmos em uma espécie de corredor escuro formados por duas longas paredes de casas destroçadas, meus olhos demoraram para se acostumar com breu, assim que pudesse ver algo a minha frente, fui brutalmente jogada contra a parede fria, algo afiado tocava minha garganta, uma faca, um gritinho escapou involuntariamente, meus olhos encontraram os seus, segurei o ar o máximo que consegui, pois estávamos tão perto que minha respiração bateria em seu rosto.
- Por que está me seguindo?- ele estava ofegante, Hector mantinha seu olhar grudado no meu, por um segundo sua voz me fez estremecer, senti que ouviria para sempre em meus sonhos, tramando a guerra, planejando minha morte, abri a boca sentindo a faca prensar ainda mais minha garganta -está atrás de mim desde o discurso na praça, o que quer?
Tremi, nervosa, meus olhos estavam agitados, olhando de seu rosto para a faca inúmeras vezes, pigarrei com a garganta antes de falar para me certificar de que minha voz não falharia, segurei seu olhar tentando ao máximo lhe passar determinação
- Você está errado com relação a princesa
Sua sobrancelha se ergueu e um sorriso debochado surgiu em seus lábios
-Estou?- seu riso de escárnio faz meu sangue ferver e esquecer da permanência da faca em minha pele
-Está completamente enganado e disseminando mentiras para o povo, que facilmente acreditará em suas palavras, eles se agarrarão em qualquer coisa que lhes dê esperanças e você está nitidamente usando isso ao seu favor- cuspo minha raiva de uma vez sem me permitir sentir culpada
A reação que recebi me deixou ainda mais confusa com toda aquela situação, os olhos de Trevor brilharam, tive um vislumbre de desejo, pelo desafio, eu o desafiei e agora o medo retornava a mim, eu o estava entretendo, ele estava gostando, não sabia se me sentia enojada ou furiosa, seu olhar desceu, percorrendo meu corpo, seu sorriso se esticou e logo depois o ouvi estalar a língua nos dentes.
- É uma empregada do palácio, não me admira ser tão submissa a sua querida princesinha, deixe-me adivinhar, é a primeira vez que sai do seu palácio real? Como pode afirmar que eu sou um mentiroso depois de ver a situação que essas pessoas se encontram?- sua voz sai como um rosnado e a faca crava levemente minha pele, gemi de dor fechando os olhos mas logo os abri com ainda mais raiva
- Posso afirmar de que a princesa nunca deixaria seu povo viver nessas circunstâncias e...- fui interrompida por uma risada alta gutural
-Então como explica nossa atual situação? vai dizer que ela nos proveu de tudo do bom e do melhor e que é nossa culpa não usufruirmos de tudo isso?
-Ela não sabe o que está acontecendo aqui!- gritei com toda a minha força, cansada de ouvir que os abandonei, queria lhe dizer que lamentava, que eu também tinha sido enganada, quem eu realmente era, mas esse homem, esse povo, me odeiam e me querem morta por faze-los sofrer, não posso fazer nada além de tentar concertar as coisas, de uma forma que ainda não sei
-O que? como assim ela não sabe?- sua surpresa foi tanta que Trevor se afastou levemente de mim, suas sobrancelhas se ergueram em surpresa e logo depois sua expressão mudou para confusão, retomei meu argumento
-Sou uma de suas principais empregadas, sou sua dama de companhia, cresci com a princesa no palácio, nunca tínhamos saído, nenhuma de nós duas, mas recentemente em baile de coroação uma ex funcionária que foi demitida apareceu pedindo comida, os guardas a mandaram embora mas a princesa a ajudou e trouxe comida escondida da dispensa para a moça, nos questionamos do porque ela estava passando fome e a mesma nos pediu para virmos até a cidade mais próxima vermos com nossos próprios olhos, a futura rainha me mandou para entender do que aquela mulher estava dizendo, Katherine não sabe o que está acontecendo com essa gente, com o país, acho que alguém no palácio a está enganando, este lugar e essas pessoas deveriam estar recebendo hoje mesmo suprimentos de remédios e livros escolares além de uma longa remessa de alimentos vindo do norte, eu a vi assinar os documentos para isso... Ouvi o seu discurso, sei que quer ajudar mas a situação não é como você pensa, querem culpar Katherine por tudo o que está acontecendo mas imploro para que averigue as coisas e ouça tudo que tenho para te falar, por favor, o problema é bem mais amplo do que pensa.
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Lagrimas de ferro
Ficción histórica''- Fui criado para faze-la se apaixonar por mim'' ''- Confesso que se eu fosse a mesma garota ingênua, certamente seria assim, do jeito em que fingiu ser amável, condescendente e um excelente cavalheiro, sempre me manipulando com palavras gentis e...