Capítulo 14

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Dia 24 de dezembro, véspera de natal. Para as crianças um dos dias mais aguardos no ano para poderem ganhar presentes do Papai Noel. Para os adultos é mais uma data comemorativa, agradecer pelas coisas boas e conquistas, agradecer pela família que tem e comer até não aguentar mais, ou seja, quase um ação de graças. Não posso esquecer também das brincadeiras, como o Amigo Secreto, Amigo Oculto ou Amigo da Onça, chame como preferir. Para ser sincero, tenho certeza que 99,9% das pessoas que participam do Amigo Oculto odeiam o presente que ganham e acabam nem usando.
Bom, eu sou uma dessas pessoas.
Durante a tarde, Allan foi o primeiro a chegar com seus pais, quando os vi comprimentei todos e dei um selinho na bochecha do baixinho. Enquanto nossos pais ficam na sala de estar, eu e Allan subimos para o quarto e chegando lá nós ficamos sozinhos no quarto, Allan sentada na cadeira ao lado na minha mesa e enquanto eu ficava sentado, quase me deitando, na minha cama. Então pergunto para ele:

— O que vamos fazer no próximo ano?

— Próximo ano? — O baixinho pergunta com cara de surpreso, mas logo desanima por algum motivo. — Eu não sei...

— Como assim? — Pergunto para ele. — Eu tava planejando uma viagem para nossas famílias para uma casa de praia, a gente ir ver alguns filmes ou ficarmos juntos mais tempo ainda.

— Eu amei tudo isso, de verdade... — Ele responde com olhar triste para mim como se fosse chorar de qualquer maneira. — mas é que...

Antes que pode-se terminar sua frase a campainha toca, era Ana e Brian. Eles chegaram juntos. Briam acompanhado de sua mãe e Ana de seus pais. Todos os adultos ficaram na sala ou na cozinha conversando sobre os mesmo assuntos de sempre, trabalho, trabalho e mais trabalho. Minha mãe ainda falava como era difícil fazer as coisas por conta do câncer, mas que pelo menos tinha a mim e meu pai para ajudar em casa.
No meu quarto, ficamos nós quatro, eu, Allan, Ana e Brian. Nós jogamos Uno e Jogo da Vida, depois fomos assistir filmes bem natalinos como Grinch e Esqueceram de Mim. Mas o pior foi quando Ana nos fez ouvir All I Want for Christmas is You, da Mariah Carey. Sem brincadeira, essa música é tão ruim que chega a ser tão boa por ser muito natalino. Natalino até demais. O Papai Noel deve estar até enjoado com essa música já. Mas o que me chamava atenção era que Allan aparentava estar deprimido e ansioso, de um jeito ruim, com alguma coisa. Como se algo o incomodasse demais. Sem contar que toda vez que ele me olhava, ele se virava pro outro lado, sem dizer nada ou ao menos deixar alguma coisa clara para mim entender o motivo dele estar assim. Eu sentia como se ele quisesse contar algo, porém, sabendo que pode me magoar de alguma forma com as palavras que fosse usar. E a única boa disso tudo é que pelo menos ele não disse "precisamos conversar" com aquela cara de preocupação e depressivo dele.
Então o tempo passou voando, e já era quase meia-noite para assim então chegar o Natal. Nossas famílias se reuniram na mesa de jantar e todos se sentaram em seus devidos lugares. Allan sentou-se ao meu lado, enquanto Brian e Ana ficaram do outro lado da mesa nos encarando como duas estátuas esperando a hora de atacar a comida na mesa de jantar. Mas antes de todos detonarem a comida como homens das cavernas a mãe de Allan levanta-se da mesa para fazer um anúncio que parecia ser importante.

— Eu queria agradecer por estar aqui com vocês, — Ela diz em voz alto para que todos possam ouvir. — agradecer por cada momento nesse ano até aqui, mas infelizmente tenho algo a dizer para todos. — Quando ela deu uma pausa dramática, eu sentia que meu coração estava sendo apertado e Allan abaixou a cabeça como se fosse começar a chorar. — Nós vamos nos mudar para Inglaterra no começo de Janeiro do ano que vêm.

Pronto, quando ela falou aquilo eu não sabia nem como respirar, fiquei sem reação e simplesmente fiquei parado sem mexer um músculo se quer ou ao menos falar alguma coisa. A mãe de Allan continou falando, porém, nem prestei atenção em cada palavra, era como se tivesse perdido a audição por completo. A única coisa que consegui fazer foi me retirar da mesa sem dizer uma palavra se quer, então, fui direto para meu quarto sem olhar para trás, porque sabia que todos estavam olhando para mim com uma cara de "o que será que aconteceu com ele?" ou "ele está bem?". Allan ainda tentou me chamar, porém, só ignorei e entrei direto no quarto e me tranquei lá, sozinho.
Eu desabei na cama, eu chorei mais do que imaginava que poderia chorar. Pensei em cada momento com Allan, cada momento feliz entre nós dois. Cada mês, cada semana, cada dia, hora e minuto. Desde quando eu pedi ele em namoro até hoje. Eu não sabia o que fazer agora que ele ia morar longe de mim. Não sabia nem como nós ia continuar mantendo um namoro. Eu não conseguia nem olhar mais para Allan sem pensar em tudo isso e apenas chorar na frente dele. Quando deu meia-noite, todos estavam comemorando e se divertindo mas eu fiquei no meu quarto trancado. Mas enquanto fogos de artifícios estouravam no céu eu ouvi alguns passos chegando perto da minha porta, e era Allan. Eu estava sentado no chão encostado na porta, e eu conseguia ouvir os movimentos de Allan por conta do piso. Ele se sentou no chão encostando do outro lado da porta, sem dizer absolutamente nada, nenhuma palavra se quer. Então, enquanto chorava, Allan finalmente abre a boca.

— Alex, eu sei como você deve estar agora, eu realmente te entendo, — Ele diz com a voz trêmula. — eu não consigo imaginar um dia se quer longe assim de você, Ana e Briam. Mas especialmente você. Eu não queria te contar porque sabia que você iria ficar desse jeito e não queria te ver assim.

Eu não respondo nada, e fico de cabeça abaixada com minhas pernas quase coladas na nela. Mas então Allan termina com uma última frase.

— Alex, foda-se a merda da distância que eu estiver de você, — Ele diz. — Eu te amo, eu sempre vou amar você.

Essa foi a última coisa que ouviria de Allan por um tempo. Depois disso, ele se levantou e desceu.
Então resumindo, eu passei meu Natal e Ano-Novo sozinho, sem ver o Allan, Ana ou Brian. Não sai de casa e não mando mensagens para ele. Eu ainda estava processando tudo, mesmo que me restasse pouco tempo para ficar com ele, já que sua família viajará no meio de Janeiro. Nesse momento eu só queria estar dentro de seu abraços fofos e quentinhos, enquanto me fala que vai ficar comigo, aqui, juntos para sempre.

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⏰ Última atualização: Nov 07, 2021 ⏰

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