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Nikolai

-Vamos lá Nikolai, você consegue! - incentiva meu pai. Ele realmente acha que uma criança de doze anos consegue calcular todos os gastos do reino dentro desse mês.

-Pai... não - nego.

-Niko, se esforce, uma hora ou outra você vai ter que fazer isso. - apoia, minha mãe.

-Não vou, não. Temos funcionários que fazem isso. Eu terei que arcar com os gastos, não com a contagem deles!

-Mas você precisa estar prevenido, ao menos tente garoto! - disse meu pai, levando a mão a testa, frustrado.

O problema, é que eu realmente tentei. Só não consegui. Não é que eu não queira ser rei, ou ter as responsabilidades de um, eu só não consigo, não me sinto capaz. E eu jamais admitiria isso. Encaro meus pais.

-Já está na hora de ir à escola, o filho do rei eu não pode se atrasar não é? - digo, mesmo sabendo que podia, afinal, como eu mesmo disse, eu era o filho do rei.

Os dois me encararam de volta, e se renderam em altos suspiros e ânimos alterados. Vendo minha vitória sobre eles, me levanto, já com a mochila em mãos, e sigo em direção a porta.

-Nikolai - chama minha mãe.

-Sim - respondo, já esperando uma bronca, ou um castigo.

-Tenha um bom dia! - é tudo que ela diz.

Agradeço, e saio. Enquanto desço as escadas do palácio, encontro Caleb, nosso tenente.

-Reizinho!

-Soldadinho de chumbo! - nos cumprimentamos - O que faz por aqui?

-Vim trazer alguns relatórios para o rei.

-Por que o capitão não faz isso?

-Ele tem mais o que fazer, criança.

-Tipo o quê?

-Tipo garantir que sua família e esse seu umbigo estejam seguros.

-Só isso?

-Respeite o homem, ele sabe o que faz.

-Tá bom, tá bom. Vai lá cumprir seu papel de pau mandado do capitão, tenho mais o que fazer.

-Um dia, vou amar ver ele te dando uma surra - brinca, o tenente.

-Você não é a primeira pessoa que me diz isso!

Assim, nos despedimos e encontro Astrid já no vestíbulo, me esperando.

-Conseguiu fazer os cálculos?

-Você sabe a resposta.

-Mas eu ainda quero ouvir você dizer. Vai, fala, conseguiu?

A encaro.

-Sinceramente, Astrid... - penso bem na minha resposta. Sei que Astrid é ótima em matemática, não posso dar a ela o gosto de ser melhor do que eu - É lógico que eu consegui, sou mais que um rostinho bonito! - Astrid me olha, de cima a baixo.

-Sério?

-Você ainda dúvida da minha capacidade, irmãzinha?

-Não... é só que... se você não conseguisse, eu iria lá em cima tentar, mostrar ao nosso pai que eu consigo... mas como você conseguiu... deixa pra lá. Vamos, não quero me atrasar.

Isso foi estranho; por que Astrid gostaria de resolver os cálculos? Ela é a princesa, não precisa se preocupar com isso. Mas não penso muito sobre o assunto. Logo, estamos a caminho da escola.


Pólvora e adagaOnde histórias criam vida. Descubra agora