Enigma

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Estava andando entre planícies e montanhas, matando gorgonas e medusas, beijando mulheres e homens. Não havia na Terra ninguém mais vazia que eu, ninguém com olhos mais opacos que os meus.

Foi então que ela se aproximou e acreditei ser meu fim. Seu rosto era dos mais belos que já vi, seus cabelos compridos e lisos. Tinha a cabeça de uma mulher, corpo, cauda e garras de um leão, unhas de harpia e asas de águia. Bem disse então:

"O que queres, esfinge? Fazer de minhas tripas um coração?"

Ela gargalhou e respondeu:

"Não lhe sobrará nenhum coração."

Foi dado o veredito. Um enigma seria dito. Custaria minha vida. O gosto amargo da morte eu já sentia.

"O que queima como fogo, lava como a água, assopra como o vento e se sustém como a terra?"

Pensei com tudo que havia em mim, cada gota de saber e cada explosão de conhecimento.

"A resposta darei-lhe com certa facilidade. Somente o amor é capaz de transformar elementos em verdade."

A esfinge urrou com seu ódio, olhou em meus olhos e disse:

"Miserável! O amor era a resposta! Vai te achar seu amor!"

Procurei por longos 18 anos o amor que a Esfinge dissera. Até finalmente encontra-la.

A garota que amo é uma deusa, filha de Cronos, mãe do amor. Minha deusa é aquela que ascendeu o fogo do meu coração, lavou minha alma, assoprou em meus cabelos e firmou os meus pés. Jurei para mim mesma que faria uma oferenda, dando meu corpo como sacrifício e minha alma como incenso.

Nem a Esfinge seria capaz de prever que eu me renasceria em todas as vidas como amante de uma criatura divina.

O sangue de mil serpentesOnde histórias criam vida. Descubra agora