— VOCÊ NÃO PASSA DE UM LIXO... — ele gritou segurando a garota pelo pescoço.
Não se podia enxergar nitidamente seus rostos, mas podia sentir o quão pesado estava o clima no local. Ele a joga contra o chão com uma força estrondosa que a faz soltar um gemido abafado de dor, outro homem se aproxima segurando ela pelos cabelos ruivos e lhe fazendo olhar em seus olhos, tudo escurece.
A garota agora perambulava em meio a uma avenida movimentada, ela soluçava, seus olhos azuis estavam avermelhados de tanto chorar, seus lindos cabelos cor-de-fogo estavam desgrenhados. Podia-se ouvir os sons dos carros, suas buzinas e seus faróis altos, de repente um cantar de pneu, o farol se torna mais alto e seu corpo é atingido, o som do seu último suspiro foi alto.
Pulei da cama em desespero, parecia tão real.
— Mas quem diabos?! — me indaguei em voz alta, passando a mão por minha testa limpando o suor que escorria. — Foi tão... Real.
Quando toda a euforia passou, voltei meu olhar para o celular para ver a hora, meu corpo congela ao ver que passava das cinco, pulo da cama em desespero indo me aprontar.
Costumo sair quando o sol ainda nem sequer despertou. Não posso me dar ao luxo de me atrasar, pela manhã trabalho em uma mercearia e cá entre nós, a senhora Irene não é uma pessoa amigável.
Cheguei à mercearia três minutos atrasada e a senhora Irene já estava parada próxima da porta me olhando com maus olhos.
— Alice, você está atrasada! — seu tom severo me arrepiou, voltei meu olhar desesperado em sua direção.
— Mas foi apenas três minutinhos, senhora! — o tom de medo era nítido em minha voz, eu realmente precisava desse trabalho e nunca me atrasava.
Ela se aproximou lentamente então bufou.
— Três minutos ou não se isso se repetir você ficará sem salário!
Apenas assenti com a cabeça, sabia que não voltaria a acontecer, realmente só perdi à hora por conta daquele sonho maluco, ela tocou em meu ombro e sorriu amarelo, logo se afastando.
O trabalho lá sempre era entediante. Passar a manhã toda com uma senhora rabugenta de sessenta anos era realmente difícil. Já passava do meio-dia quando saí de lá, afinal ainda tinha que correr para não me atrasar para o meu outro trabalho. Lá era bem mais agitado e ainda mais cansativo. Era em um hotel bem famoso, onde eu passava a tarde limpando quartos nojentos, mas eu não podia reclamar, afinal tenho uma dívida a pagar. Uma gigantesca dívida!
Já logo na entrada do Royal Hotel, fui parada pelo gerente.
— Graças a Deus você chegou, Alice! — pelo seu tom de voz já sabia que viria algo desagradável e complicado. O gerente nunca se dirigia há mim, a não ser que fosse uma verdadeira tragédia. — A senhora Benedita não veio e estou tendo de cuidar da ordem de limpeza por hoje... — o gerente revirou os olhos, pois esse definitivamente não era um trabalho para um gerente. — Mas enfim, uma "criança" teve intoxicação alimentar e vomitou o quarto todinho, já estou tendo uma baita dor de cabeça por conta dessa tal intoxicação. Poderia ir imediatamente limpar o quarto 506 no quinto andar?
"Ele pergunta como se eu pudesse me recusar", pensei apenas assentindo com a cabeça e soltando um sorriso amarelado. Hoje realmente não está fácil! Fui até ao quarto, que mais parecia uma cena de crime. Respirei fundo e dei início ao meu dever, era exatamente por isso que eu sonhava em voltar a estudar e mudar minha vida. Eu não quero seguir sendo apenas o capacho de uma velha e limpando vômito. "Eu serei melhor. Vou provar para aquele maldito que sou muito mais do que ele nem sequer imaginou!"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Body and Soul
Mystery / ThrillerQuando tudo parece estar prestes a acabar, com medo e implorando, essa jovem mulher de 20 anos terá de enfrentar talvez a maior das dificuldades que já imaginou passar. Alice teve uma vida realmente turbulenta e quando estava prestes a quitar su...