Capítulo III

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Estava caminhando sem rumo, meu corpo doía e minha mente estava nebulosa e sombria."Só quero que tudo isso acabe... Só acabe...", pensei quando me joguei contra um forte raio de luz, tudo escureceu, só pude ouvir o som dos pneus cantando no asfalto.

Quando volto a enxergar, era como se minha alma estivesse flutuando para fora do corpo e pude ver que aquele corpo não era o meu e sim o da Anne. Estava caída no chão olhando no fundo dos meus olhos, parecia tão tranquila, tinha um sorriso em seus lábios.

— Livre, finalmente! — com seu último sopro de vida ela falou.

Senti uma mão delicada tocando meu rosto, o que me fez despertar lentamente. Quando abri meus olhos, vi Clarice sorrindo.

— Bom dia, filha! Trouxe seu café. — falou mostrando a bandeja que estava em seu colo. — Quando pequena, você adorava receber café na cama!

— Eu... Ainda gosto! — falei sorrindo, aquela mulher era de fato uma ótima mãe.

— Bem, hoje conversarei com a escola para planejarmos o seu retorno, então terá de ficar em casa e nada de aprontar! — disse em um tom divertido.

— Tenho que ficar trancada aqui o dia todo? — questionei triste.

— Olha, filha, tenho medo de que você se machuque. Você ainda não está completamente bem. Já está sendo difícil aceitar sua volta na escola. Só aceitei, pois, Annie cuidará de você. Ela prometeu!

"Tenho certeza de que vai", pensei apenas confirmando o que ela dizia, "Eu de maneira alguma vou ficar trancada aqui, preciso ir atrás dessa garota e saber se meu corpo ainda está no hospital ou algo assim".

Esperei até que todos saíssem de casa e os empregados se distraíssem com seus afazeres e fugi. Sempre fui ótima em fugir:

Tinha um cheiro forte, estava escuro lá fora, abri meus olhos sentindo o peso do meu corpo contra o cinto, ela estava caída logo abaixo de mim. Ela olhou em meus olhos. Eu podia sentir seu medo. Ela se aproximou com dificuldade e soltou meu cinto me fazendo cair por cima, ela gemeu de dor.

— Filha, você precisa fugir... — falou com dificuldade.

O carro estava destruído, os vidros quebrados. Olhei em seus olhos já não contendo as lágrimas. Eu estava com medo, ela estava muito machucada e cheia de sangue, não conseguia me lembrar ao certo como tudo aconteceu.

— Mas mamãe... — ela tocou em meu rosto e sorriu.

— Vai logo! — falou me empurrando para fora da janela.

Não queria perdê-la. Eu me arrastei novamente e comecei a puxar ela para fora, não tinha muita força. Ela tentava conter os gritos de dor mesmo estando coberta de vidros nas costas.

— Alice, Você tem que fugir! O carro vai explodir.

— Não irei sem você, mamãe! — não conseguia segurar o soluço. — Nunca mais fugirei...

"Babaca, estou até hoje fugindo", pensei tentando afastar essa lembrança da minha mente, afinal precisava me concentrar para pular o muro sem que ninguém me notasse. Após pular o muro com facilidade, pude seguir meu caminho. Sem dúvida nunca fui a um bairro tão chique como aquele. Nem sabia como sair, depois de um bom tempo andando, achei um ponto de ônibus que por sorte logo peguei um. "Primeiro quero ir até minha casa para checar se ela não está lá", realmente precisava de esperança. Era certo que ela não estava, mas não podia desistir, não como desisti de tudo em minha vida, afinal era do meu corpo que se tratava. Quando parei na porta não pude controlar as lembranças:

Estava parada olhando para a porta com a senhoria do prédio e Jeremy ao meu lado. Se fosse qualquer outro lugar, certamente chamariam a polícia. como uma criança de 14 anos estaria acompanhada de um homem que certamente não é um cara de bem? Mas como era um bairro controlado por homens como ele, aquilo era algo comum de se ver.

Body and SoulOnde histórias criam vida. Descubra agora