Um som de bip ecoava em minha mente até que de repente ouvi algumas vozes. Não tinha forças sequer para abrir os olhos, então permaneci escutando.
— O quadro dela permanece complicado. Ela ainda não demonstrou nenhuma reação ao tratamento, tememos que seu cérebro esteja definhado! — disse calmamente uma voz masculina.
Pude ouvir o choro de uma mulher e então senti alguém tocar em minha mão.
— Por favor, doutor, não deixe minha filha morrer...
Essas palavras fizeram meu coração se aquecer. Queria poder vê-la. Queria ver minha mãe, então forcei meu corpo com tudo o que havia em mim.
— Ma... Mamãe? — minha voz saiu falhada e fraca.
Houve um breve silêncio e então ela beijou minha bochecha. Aquele ato me fez ter forças para abrir meus olhos e enfim ver minha mãe novamente, "Depois de tantos anos, mamãe...", pensei quando abri os olhos e enxerguei sua silhueta. Meus olhos estavam se acostumando com a luz, mas a felicidade dura pouco e quando avistei seu rosto, não consegui segurar as lágrimas.
— Você não é minha mãe! — pude ver nos olhos azuis da mulher sua dor, mas eu também estava com dor, lá estava mentindo para mim.
A mulher voltou seus olhos para o médico que também estava com uma cara de desentendido. Todos permaneceram em silêncio e então o médico se aproximou com um sorriso forçado.
— Você não se lembra da sua mãe, Anne? — ele indagou olhando em meus olhos.
"Isso tudo é uma verdadeira loucura", pensei negando com a cabeça.
— Essa senhora não é minha mãe! — falei com firmeza, ela definitivamente não era Eleanor. Ela não é minha mãe!
A mulher se aproximou tocando em meu rosto, seus olhos estavam marejando e seu rosto indicava que já estava um bom tempo sem dormir direito. Ela voltou a tocar em minha mão, acariciando-a com muito amor e então suspirou.
— Anne, eu sou sua mãe. Sou eu, Clarice, sua mamãe!
Definitivamente estou em um hospício, mas como vim parar aqui? Eu estava naquela estrada. A última coisa que me lembro foi do feixe de luz daquele farol e tudo escureceu. Como posso estar aqui? Respirei fundo fechando os olhos."Se não tem maneira de fazer esses doidos me entenderem, acho melhor fugir daqui", pensei segurando firme em sua mão.
— Eu poderia usar o banheiro?
O médico suspirou e apoiou sua mão em meu braço.
— Levarei a senhorita até o banheiro!
Assenti com a cabeça e apoiada nele, me levantei. Meu corpo todo doía, parecia estar entrevado há décadas. Entrei pela porta do banheiro logo dando de cara com um espelho o que fez meu corpo entrar em choque. "É mesmo um... Espelho?", pensei movendo lentamente minha mão até meu rosto.
Tudo aquilo era insano, estava parada olhando diretamente para um reflexo que não era meu, os olhos azuis profundos, a pele era tão pálida que chegava a ser transparente e os cabelos tinham a cor do fogo.
— Eu definitivamente estou maluca! — falei antes de perder totalmente o controle e a consciência, desabando no chão.
Acordo novamente naquela cama e com aquelas pessoas que nunca havia visto em minha vida. O médico se aproximou puxando uma cadeira e se sentando próximo da minha cama. Seu olhar demonstrava preocupação, ele suspira fundo.
— Senhorita Anne, olha você realmente nasceu de novo! Não é todo mundo que sai de um acidente de caminhão e sobrevive. Ontem mesmo uma garota um pouco mais velha que você morreu aqui na rodovia nove. Como era mesmo o nome? — fez uma expressão forçando para lembrar-se. — De qualquer maneira, ela sofreu o mesmo acidente que você e todos os ossos do corpo dela foram quebrados. Foi algo bem trágico, mas a senhorita sobreviveu sem quebrar nenhum osso sequer, e depois de três dias em coma, acordou! — ele pegou uma lanterna e começou a examinar meus reflexos e coordenação. — Ainda está respondendo muito bem, até ontem parecia que nem estava lutando para viver e agora está aqui, acordada.
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Body and Soul
Mystery / ThrillerQuando tudo parece estar prestes a acabar, com medo e implorando, essa jovem mulher de 20 anos terá de enfrentar talvez a maior das dificuldades que já imaginou passar. Alice teve uma vida realmente turbulenta e quando estava prestes a quitar su...