Estávamos sentados em um café que ficava na frente do hospital. Ele me encarava com um olhar confuso e eu apenas tomava meu café fingindo dissimulação.
— Então, prima? — seu tom de sarcasmo e os olhos revirando de leve me fez sorrir. — Do que está rindo?
— Você é exatamente como ela descreveu! — precisava ficar ao menos amiga dele, não queria perdê-lo novamente.
Ele ficou me olhando surpreso e sorriu.
— Alice falou de mim?
Indiquei que sim, terminando meu café e largando delicadamente a xícara na mesa.
— Ah! Claro, ela falava muito do irmãozinho dela! — falei sorrindo. — Mas você é bem maior do que eu pensava… Espera como você me… Digo, achou ela?
— Bem, eu já procuro por ela há muitos anos, mas nunca achei nem um rastro de Alice Martins. Se ela falou de mim, presumo que saiba da sua história. — apenas indiquei que sim para que ele prosseguisse. — Bem, eu me tornei policial depois de tudo para poder tentar rastreá-la, mas nesses anos todos nunca achei nada e então eu vi o jornal…
— Espera se ela usa nome falso, como reconheceu?
— Alice sofreu um corte no lábio e tinha uma cicatriz bem aqui. — ele levou a mão até o cantinho do lábio apontando.
Sem perceber toquei meu lábio me recordando:
— Você não passa de uma vadia estúpida. — ele segurava em meu braço enquanto entrávamos em casa, meu irmão vinha desesperado logo atrás.
— Pai… não foi ela…
O homem que deveria ser nosso pai, o empurra fazendo ele perder o equilíbrio e cair. Ele foi então para cima dele, podia sentir um mal exalando em volta do meu pai. Meu coração disparou ao ver que ele iria machucar meu irmão e então me coloquei entre seu punho e meu amado irmão. Perdi totalmente a força ao sentir o peso da sua mão e então acabei caindo.
— Vocês são dois inúteis, da próxima vez que você ousar ir atrás de mim para pedir dinheiro, eu mato você, ouviu? — ele falou saindo pela porta, certamente ia voltar para o bar.
— Me perdoe irmão, você vai… Continuar com fome… — falei abraçada nele enquanto o sangue escorria.
— Não acredito que se lembra desse dia, dessa cicatriz! — pensei em voz alta.
Ele me olhou confuso e eu apenas sorri, me fingindo como se não tivesse dito aquilo.
— Como? — ele perguntou querendo entender como eu sabia disso.
— Bem, presumi que você era pequeno quando ela se machucou… — sorri sem jeito.
— Ela se machucou por minha culpa… Nunca esquecerei disso. — seu olhar parecia distante e tão triste, sem perceber coloquei minha mão sobre a sua.
— Olie, eu tenho certeza que ela faria tudo por você! — falei sem perceber, me deparando com um olhar surpreso.
Ele retirou a mão de baixo de mim e tossiu seco.
— Como sabe que meu apelido é esse se eu não disse nem sequer meu nome? — seu tom severo e olhar analista me deixaram sem reação. — Pensando bem, como sabia que eu era o irmão de Alice?
Arregalei meus olhos deixando óbvio um olhar de que fora pego no momento errado, dei uma leve tossidinha, para tentar ajeitar minha voz.
— Bem, eu e Alice éramos melhores amigas, ela me contou toda sua vida, por isso. E quanto ao saber sobre você ser irmão dela, eu apenas deduzi, seus olhos são iguais. Você também tem uma aparência muito semelhante a da Alice! — apontei para seu rosto, os cabelos negros dele eram lindos e me faziam lembrar o da nossa mãe, seus olhos castanhos claro quase puxando para um verde, e tinha também sua pele um pouco mais escura do que a minha.
“Se tornou um lindo homem, irmão!”, pensei sorrindo.
— Meu Deus! — falei ao olhar pela janela e notar que estava escurecendo. — Eu preciso ir…
Levantei-me atordoada, sabia que aquela família já estaria em casa e provavelmente Clarice estaria desesperada, quando ia me retirar ele segurou em meu pulso.
— Ir aonde? Não vai nem me falar seu nome?
— Me chamo A… — me contive, por um breve momento quase disse meu verdadeiro nome, mas respirei fundo. — Anne, Anne Müller! — apenas disse meu nome e sai desesperada.
20h46min
Refiz todo o caminho que havia utilizado para fugir, ainda com esperança de que ninguém tivesse dado minha falta, mas quando entrei pela janela do meu quarto avistei Annie sentada em uma poltrona me olhando com um ar de vitória.
— Então a senhorita resolveu dar uma volta? — falou olhando-me dos pés à cabeça. — Tem sorte que a mamãe não está em casa, pois eu não perderia a oportunidade de acabar com você!
— Já acabou? — bufei irritada. — Então, sai do meu quarto.
Ela se levantou e caminhou em direção à janela, olhando para baixo.
— Tenho que admitir Anne… Você mudou muito depois desse acidente, parece até outra pessoa! — nesse momento um calafrio percorreu minha coluna, a incerteza veio à minha mente.
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Body and Soul
Mystery / ThrillerQuando tudo parece estar prestes a acabar, com medo e implorando, essa jovem mulher de 20 anos terá de enfrentar talvez a maior das dificuldades que já imaginou passar. Alice teve uma vida realmente turbulenta e quando estava prestes a quitar su...