─ Mata quem tá te matando. ─ Melinda entrou no meu quarto sem cerimônias, jogando-se sobre a minha cama com os braços abertos.
─ Como você entrou? ─ perguntei, virando a cadeira de rodinhas que eu estava em sua direção.
Já eram umas seis horas e o sol estava se pondo, eu gastava tempo em minha escrivaninha cutucando as redes sociais alheias quando a maluca entrou com tudo pela minha porta.
─ Sua irmã estava saindo e me deixou entrar. Solta a língua, o que houve para você me mandar mil mensagens afobadas pedindo para eu vir aqui?
─ Você descumpriu o nosso acordo de hoje! ─ acusei-a, levantando-me e colocando a minha mãos em punho na cintura.
Melinda me olhou de baixo para cima e riu, jogando sua cabeça para trás na cama.
─ Você acha que essa sua pose vai me assustar? Querida, isso só funciona para seus subalternos da Atlântica, não comigo. ─ Piscou e inclinou o seu tronco, apoiando os cotovelos sobre a colchão.
Joguei uma almofadinha que eu tinha em cima da mesa sobre ela e Melinda se protegeu com o braço, gargalhando em seguida.
─ Eu falo sério, Mel. Você disse que ia andar com a gente esse ano.
─ Epa ─ ela estendeu a mão e endireitou-se até estar na posição sentada ─, eu disse que ia me esforçar para sentar com vocês... às vezes. Andar com o monte de pau mandado que duelam egos já é muito para minha sanidade e não faz parte das minhas expectativas de terminar o ensino médio.
─ Vamos, Mel. Por mim...
Joguei meu corpo sobre o dela, derrubando-a na cama e entramos em uma "briga" de cosquinhas até ficarmos as duas sem fôlego, deitadas de barriga para cima com a respiração entrecortada.
─ Por favor? ─ Fiz minha melhor cara de cachorro sem dono, virando o meu rosto para ela. Melinda, com a mão esquerda, pegou uma almofada que havia caído no chão e tacou bem na minha cara, gargalhando em seguida.
Xinguei-a enquanto esfregava o meu rosto, mas logo fiquei séria e ela sabia que o meu pedido não era apenas por brincadeira.
─ Você sabe que eu não suporto andar com aquele povo e eles também não me suportam, então, por que deveria?
─ Porque você é uma bromélia, uma de nós ─ respondi, prontamente, e Melinda arqueou a sobrancelha para mim como se dissesse: "Sério?".
A verdade era que, apesar de Melinda fazer parte do time, a sua excentricidade não era bem-vista por todos. Talvez por medo do diferente ou apenas por incompreensão, o seu jeito verdadeiro e suas roupas e estilos icônicos faziam que muitos a hostilizassem.
Melinda pintava o cabelo de cor em cor de acordo com o seu espírito, ela não se importava de usar cores vibrantes ou vestir roupas chamativas e desiguais. Os batons amarelos, laranjas e azuis cintilavam por onde ela passava e era difícil não notá-la.
Na maior parte das vezes eu queria ser como ela, mas não é todo mundo que consegue assumir o seu jeito e enfrentar tudo sozinha. Melinda era intimidante e não se importava com a opinião alheia. Ela sempre dizia que quem realmente importava estava ao lado dela, então o resto "o que tenho a ver?".
Teoria bonita, mas...
Por causa disso a nossa amizade acabava sendo mais do lado de fora do que dentro da escola. Não porque tinha vergonha dela, mas sim porque Melinda não suportava as pessoas que eu andava e o meu grupo se autointitulava bom demais para uma pessoa como Melinda.
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Intocável
Teen FictionNo colégio Atlântica, Mariana conseguiu chegar a um status que poucos conseguem. Popular e em seu terceiro ano, ela e suas amigas adoram um desafio, no entanto, sempre tudo é muito tedioso quando as pessoas simplesmente cedem as suas vontades de mão...