8 . D U P L A

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Hoje era o dia da segunda fase dos testes do time de vôlei, por isso tive que chegar mais cedo na escola para passar algumas coisas com Heitor e a treinadora. Os inscritos seriam divididos em times que se enfrentariam entre si e, caso necessário, completaríamos com um dos nossos. Esses jogos seriam abertos para quem quisesse assistir, por isso as aulas só seriam hoje até meio dia e, na parte da tarde, o torneio teste.

Alguém ainda tinha dúvida como o vôlei era algo sério por aqui?

Os papéis estavam espalhados na mesa enquanto eu conferia as listas e as divisões. Tive que acordar mais cedo e tenho certeza que não estaria no meu melhor momento, mas Heitor havia me trazido café, então até que eu conseguia fazer meu serviço em paz. Se fosse treinamento ou dia de jogo, minha adrenalina estaria lá em cima, mas essa coisa de papel me dava sono.

Heitor como sempre estava perfeito. Aquele garoto parecia uma máquina. Sempre contido, sem muita emoção, sem sono e se bobeasse sem fome. Se eu não sentisse certas coisas despertarem do seu lado quando estávamos juntos, eu diria que ele era um robô.

Esse ano ele estava ainda mais sério em relação a tudo. Em outras palavras, insuportável. O time masculino estava muito desfalcado. A maioria dos caras haviam formado no ano anterior, então a equipe basicamente teria mais calouros, o que era ruim porque precisariam aprender a trabalhar em conjunto quase do zero. Além disso, era o último ano do Heitor e ele queria fechar com chave do ouro, além de ser importante para uma possível mudança para o time oficial na sua carreira.

Eu tinha conseguido fechar dois times femininos, completando com Eduarda e Stella, que eram reservas das Bromélias. Acho que seria bom pra elas serem colocadas contra as inscritas. Se elas não derem o melhor de si, alguma menina nova poderia muito bem pegar o lugar de titular que vagou.

— Como os grupos de vocês? — Virei-me para Heitor, que rabiscava os nomes no papel.

— Quatro, redondo. Deixei um reserva pra cada time, aí vão trocar durante o jogo. Nem vou precisar dos meninos — respondeu.

— Ótimo.

Isso dava mais de vinte alunos sendo testados. Era bom, já que tinha oito vagas no time. Caso contrário, teriam mais chances de entrar no time meninos não tão bons à altura dos Macucos.

Entregamos as listas corrigidas para a treinadora Frota e ela inclinou seu óculos de aro escuros na ponte do nariz, encarando o que escrevemos.

— Muito bom. Pelo visto entreteremos a escola a tarde inteira. — Seu lábio se inclinou. — Lembraram de dividir as crianças de acordo com o resultado do teste anterior.

Heitor e eu balançamos a cabeça em afirmação. Tentamos deixar os times o mais balanceados possível para que não houvesse vantagem para nenhum lado.

— Ótimo. Vejo vocês à tarde, então. Podem ir para aula — despediu, continuando a ajeitar os papéis e eu saí com o Heitor do escritório dela, que ficava na quadra esportiva do colégio.

Caminhamos juntos até a porta da quadra, eu iria pela passagem por dentro da escola que dava no pátio e, depois, para a área das salas de aulas. Contudo, Heitor segurou minha mão e me impediu de continuar. Eu arqueei a sobrancelha para ele em questionamento.

— Vamos entrar juntos por fora — respondeu, sucinto.

— E posso saber o porquê?

Heitor me olhou como se me achasse estúpida.

— Mariana, hoje é dia dos jogos de teste. A escola inteira reparará em nós. Só não é mais importante do que o dia dos jogos oficiais, mas é o maior evento do início do ano letivo.

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