Little Killer

At the park

Estávamos em um fim de tarde frio de um sábado, Harry havia marcado de me encontrar para conversar em um parque que costumávamos brincar quando crianças, poucas pessoas ainda freqüentam aquele parque, apenas algumas famílias com renda menos elevada levam seus filhos para se divertirem nos brinquedos mal cuidados e desgastados de lá. Quando Harry e eu éramos crianças a praça sempre era bem cuidada. Harry, Lucy e eu costumávamos passar tardes e mais tardes nos divertindo como se o tempo nunca passasse, como se não houvesse preocupações. Assim como "nós" a praça também deixou de transmitir alegria.

Papai e Mad estavam no sofá conversando e vendo um programa qualquer.

Eu coloquei minha touca, meu casaco e pus-me a descer a escadaria.

"Onde você vai, Juliet?" Papai perguntou desviando seu olhar da TV, Mad fez o mesmo.

"Vou encontrar o Jack na biblioteca." Meu coração palpitava, eu odiava mentir para o meu pai.

Ele me olhou desconfiado como se soubesse que eu não estava a falar a verdade, mas apenas voltou seu olhar para a TV.

"Tudo bem, tenha cuidado." Apenas assenti e segui meu caminho até a porta.

As ruas estavam bastante molhadas, a maioria das pessoas preferiam ficar no conforto de suas casas em dias como aqueles. Era isso o que provavelmente eu faria, mas cá estava eu, indo atrás de respostas.

Em poucos minutos cheguei ao parque, ele estava muito diferente do que eu lembrava. O seu majestoso jardim estava mal tratado e sujo, seus brinquedos enferrujados e destruídos. Mesmo assim havia um número relativamente grande de pessoas para as condições físicas daquele lugar.

Sentei-me em um banco mais afastado, eu estava bastante nervosa. Pus-me a observar os detalhes daquele lugar no qual passei grande parte da minha infância, momentos divertidos e felizes. Várias memórias me invadiram, eu precisava me controlar, ser forte.

"Obrigada por ter vindo." Escuto uma voz atrás de mim. Viro-me e meu coração acelera assim como todas as vezes que meu olhar cruza com o dele.

Harry estava com suas típicas botas, seus braços eram cobertos por um casaco aparentemente pesado para auxiliar na luta contra o frio, os seus cabelos eram cobertos por uma touca azul.

"Você se incomodaria em andar pelo parque enquanto conversamos?" Ele perguntou.

Apenas assenti e me levantei, abaixei minha cabeça para não precisar encarar aquele olhos. Harry percebeu a situação e começou a andar, eu apenas o segui.

"Minha vida vem sendo bem difícil desde aquele dia." Ele desabou olhando para baixo enquanto andávamos.

"Eu digo o mesmo." Falei baixo, ele apenas ignorou o que eu falei e continuou.

"Todos os dias da minha vida eu penso naquilo, penso que eu poderia ter evitado, mas eu me deixei levar." Ele estava se preferindo ao assassinato. "Minha mãe age como se nada tivesse acontecido, ela prefere esquecer tudo o que aconteceu."

"E o seu pai? Onde ele está?"

"Um dia depois que tudo aquilo aconteceu ele fugiu. Eu e minha mãe ficamos na casa dos meus avós na Itália e nunca mais ouvimos falar dele." Falou cabisbaixo.

"Sinto muito." Toquei levemente seu ombro.

"Não sinta, você vem tendo que passar por coisas parecidas sendo que você não fez nada." Ele estava certo, mas eu não podia deixá-lo assim.

Harry me contou como foram seus anos na Itália, de como ele era o garoto misterioso da sua escola nos primeiros meses, mas depois fez amigos os quais foi difícil ter que deixar para trás.

Conversamos, rimos e nos divertimos. Esquecemos apenas por um momento tudo aquilo que havia nos feito mal, agimos como se nada houvesse acontecido, como se fôssemos os velhos Harry e Julieta. Eu sentia muita falta daquilo, e essa conversa me fez muito bem.

Harry e eu caminhávamos para nossas casas, nós éramos vizinhos. Nós brincávamos e fazíamos piadas como nos velhos tempos, ele realmente estava disposto a recomeçar, era possível ver em seus olhos o quão arrependido ele estava.

"Obrigado pela tarde Harry, fazia um tempo que eu não me divertia assim." Disse parando em frente à minha casa.

"Digo o mesmo, muito obrigada por ter aceito meu convite." Fui surpreendida quando os braços de Harry me rodearam em um caloroso e forte abraço, nos primeiros momentos eu não soube como reagir, mas em seguida eu apenas retribui.

Nos despedimos e cada um entrou em sua casa. Eu estava com um sorriso bobo no rosto lembrando de toda a tarde, todas as nossas conversas, todas as risadas. Harry continuava o mesmo de sempre, eu sentia muita falta de poder conversar com ele daquela maneira, Harry era a única pessoa em que eu confiava, a única pessoa que sabia meus segredos mais profundos.

"O que você pensa que estava fazendo com aquele garoto?"