Mom called

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Os psicólogos nunca souberam me diagnosticar, talvez eu seja um caso distinto para os estudiosos do mundo.

Depois daquele dia eu passei a ignorar Harry, eu não saberia o que falar para ela se tivesse que olhar nos seus olhos, então preferi fugir dos meus problemas assim como eu venho fazendo toda a minha vida.

"Quanto deu a 33?" Jack falou tirando-me dos meus pensamentos. Estávamos no meio da aula de química.

"-1. E a sua?"

"O mesmo." Jack percebeu logo no primeiro dia que algo estava errado comigo, ele é o melhor amigo que alguém poderia ter.

"Vai continuar o ignorando até quando?" Jack perguntou parando os seus cálculos e olhando diretamente nos meus olhos.

"Até eu morrer." Respondi seria e caímos na gargalhada chamando a a atenção do professor.

"No sério Julieta, quando vai ser?"

"Eu não sei Jack, até o máximo que eu conseguir." Respondi

"Eu não gosto dele e acho que ele já te fez muito mal, mas não acho legal você ignorar o cara pelo resto da sua vida." Jack diz batendo de leve seu cotovelo contra o meu que estava apoiado na mesa.

"Eu sei, mas é difícil. Você tem que entender o meu lado."

"Você está tentando fugir de algo que você deseja imensamente." Quando Jack disse aquilo eu apenas assenti, não queria responder nada pois sabia que ele estava certo, mais uma vez.

As aulas passaram rápido, Jack continuava a falar que eu sempre fugia dos meus problemas, que enfrentar esse seria uma porta para os problemas futuros, e várias outras coisas que eu minimamente dei ouvidos.

O sol se foi e a noite chegou junto com a escuridão. Eu passei toda a tarde no meu quarto, estudando, fazendo exercícios e pensando. Era só isso o que eu sabia fazer.

Deixei meu quarto e pus-me a descer as escadas em busca de algum ser vivo que eu pudesse dialogar. Papai estava na cozinha e Madison no sofá na companhia de David.

"Não vi quando vocês chegaram. Oi David." Falei atirando-me no sofá vago e cumprimentado educadamente o namorado da minha irmã.

"Chegamos a pouco tempo." Madison disse e David sorriu como forma de comprimento, ele era bastante tímido.

"Madison vai chamar sua irmã para... Ah! Você ha está aqui." Papai disse vindo em minha direção e beijando o topo da minha cabeça em seguida. "Como foi na escola hoje?"

"O de sempre." Respondi-lhe. Papai apenas sorriu e assentiu em resposta, saindo logo em seguida para a cozinha finalizar seus maravilhosos temperos.

David ficou para jantar conosco, ele estava sentado ao lado da minha irmã enquanto eu permanecia ao lado do meu pai. Nenhuma palavra era pronunciada, era possível ouvir apenas o barulho dos talheres contra os pratos. Acredito eu que o silêncio por ali predominava por ser confortável, ao menos para mim.

"Então..." Madison disse desconfiada, a teoria dela sobre o silêncio instalado foi diferente da minha.

"Sua mãe ligou." No mesmo Madison e eu eu olhamos para o papai e em seguida nos olhamos.

"O que ela queria?" Madison perguntou tentando não demonstrar curiosidade.

"Ela queria saber como vocês estavam." Papai disse olhando para o prato que estava em sua frente.

"Desde quando ela se importa?" Madison falou em um tom elevado e se levantou da mesa correndo em direção às escadas.

"Mad..." David fez menção de ir até ela mas foi empedido.

"Pode deixar David, muito obrigado mesmo assim." Nos despedimos do David agradecendo por sua preocupação com a minha irmã.

Papai e eu subimos as escadas sem trocar uma palavra sequer, ele sabia que eu não era de falar o que eu sentia, mas que se eu pudesse eu teria feito o mesmo que a minha irmã fez.

"Madison? Podemos entrar?" Papai perguntou, Madison estava sentada no parapeito de sua janela, ela tinha o olhar perdido pela janela, quando ela nos olhou foi possível notar as lágrimas em seus olhos.

"Filha eu sei que é difícil, mas você tem que tentar." Papai falou acariciando o rosto angelical da minha irmã.

"Não é assim tão fácil." Ela desabou, chorando sem cessar no ombro do meu pai enquanto ele a acolhia em seus braços com todo o carinho possível.

As ações de Madison expressavam exatamente o meu interior, todos os sentimentos guardados e não revelados, todas as noites longas e maldosas, as manhãs solitárias, os dias que passaram, os tempos perdidos, as memórias que nunca voltarão a acontecer, eu preferia não tentar expressar porque provavelmente eu não aguentaria. Não sou tão forte assim.

Little KillerOnde histórias criam vida. Descubra agora