Little Killer

We need to talk

Qual será o sentimento que uma mãe tem ao ouvir seu filho sendo chamado de assassino? Nenhuma pessoa escolheria ser chamada disso, nem o pior dos assassinos. Ser acusado de tirar uma vida, de destruir um futuro, roubar uma esperança. No meu ver, a opinião de Lize foi a que qualquer mãe em sã consciência teria, com algumas exceções claro.

Depois daquele show papai foi para o seu quarto como se nada houvesse acontecido, parando para desejar um "boa noite" para mim e para Mad.

Fui acordada minutos atrás com as constantes batidas da minha irmã na porta do meu quarto gritando coisas do tipo: "Em, você vai se atrasar!". Cinco minutos depois e eu continuo da mesma maneira, mas a diferença é que ela finalmente desistiu.

Ontem eu demorei muito para conseguir dormir, passei a noite pensando em tudo o que havia acontecido. O encontro com Harry, a visita da senhora Styles. Muitas emoções para uma só noite, mas nenhuma vai conseguir superar aquela noite.

Finalmente levantei, fiz minhas higienes matinais e pus-me a decer as escadas encontrando meu pai sentando na mesa da cozinha lendo seu jornal matinal com a TV ligada realizando a mesma função dos papéis que ele lia. Ele estava agindo como agia todos os dias em uma manhã comum, como se nada estivesse acontecendo. Papai é muito ruim em lidar com os seus problemas, ele geralmente os ignora e espera que desapareçam.Talvez esse seja o problema.

"Bom dia, pai!" Eu estava em frente a cafeteira colocando aquele líquido maravilhoso na minha caneca azul.

"Bom dia filha." Respondeu sem desviar seu olhar do jornal nas suas mãos.

"Mad ainda não desceu?" Perguntei pondo minha caneca de café sobre o piano e sentando-me no mesmo.

"Ela já foi, tinha algumas coisas para resolver na faculdade." Falou permanecendo como anteriormente. Eu apenas assenti em resposta e comecei a deslizar meus dedos sobre as teclas do piano, vez ou outra aumentando e diminuindo a velocidade das minhas mãos.

Papai finalmente parou de ler seu jornal e desviou sua atenção para mim. Ele amava me ouvir tocar, o trazia boas lembranças. Lembranças de quando éramos uma família normal. Mamãe e eu no piano, Mad sentada no seu colo nos aplaudindo e pedindo canções do seu conhecer. Eu sinto saudades desses momentos tanto quanto qualquer um, mas eu entendo que ficou no passado e o passado se chama passado para ser esquecido. Ao menos na minha concepção, sim!

Quando eu terminei de tocar papai bateu palmas, eu sorri para ele como forma de agradecimento.

"Vamos minha pianista, você vai se atrasar para a escola." Disse já se levantando. Eu repeti seu ato rapidamente e peguei minha bolsa em seguida indo para fora de casa, papai me acompanhava.

O caminho para a escola foi tranquilo, papai foi me fazendo várias perguntas de como estavam as aulas, e de como estava Jack. Ele sempre evitava tocar em algo que estivesse interligado com a noite passada, eu entendo por uma parte o lado dele.

Passei apressada pelos portões da escola, todos os alunos estavam espalhados pelo jardim, cada qual com seu respectivo grupo social. Sem precisar procurar muito encontrei Jack juntamente com o pessoal da equipe de decatlo. Cumprimentei todos e sentei-me ao lado de Jack. Logo eles iniciaram uma assunto sobre física quântica e eu fiquei lá presente apenas de corpo porque meus pensamentos estavam muito distantes dali.

As aulas passaram rápido, eu consegui transferir todas as minhas aulas para que se igualassem com as de Jack e pudéssemos ficar com juntos em todas as aulas, transferência feita com sucesso.

Fomos para a reunião do decatlo e foi o mesmo de sempre, cada dia que passa eu tenho certeza cada vez mais da minha decisão a respeito do decatlo. Eles são maravilhosos e atenciosos.

Como tempo bom passa rápido, assim como a felicidade, logo a reunião chegou ao fim. Nos despedimos do pessoal e fomos em direção ao Jipe de Jack. Ao sentar no banco do passageiro, peguei minha bolsa para verificar meu telefone celular. Procurei em todos os lugares possíveis, comecei a ficar nervosa.

"Algum problema Juliet?" Perguntou preocupado.

"Acho que perdi meu telefone." Disse ainda revirando toda minha bolsa na procura do mesmo.

"Você pegou do seu armário no fim das aulas?"

"Você acaba de salvar minha vida Jack." Respondi sorridente dando um beijo na bochecha de Jack antes de sair praticamente correndo do carro em direção ao portão da escola.

Andei rapidamente pelos corredores da escola em busca do meu armário.Ao chegar no corredor em que o mesmo ficava um alívio correu pelo meu corpo aumentando no momento em que eu coloquei meu código no armário e vi meu celular ali dentro.

Peguei rapidamente o objeto, estava pronta para bater à porta, mas longos e gélidos dedos seguraram meu pulso impedindo que eu fizesse tal ato.

Minha primeira reação foi gritar, até que a outra mão da pessoa passou pela minha cintura me abraçando por trás e colocando a mão que segurava meu pulso agora a pouco sobre a minha boca impedindo que eu gritasse.

"Calma, sou eu." Harry falou tirando seus braços da minha cintura, no mesmo momento virei de frente para ele.

"Você ta maluco Harry? Você quase me matou!" Falei colocando a mão no coração tentando cessar meus acelerados batimentos.

"Desculpa, mas eu realmente preciso conversar com você."

"Eu não tenho nada para falar com você." Falei batendo meu armário, decidida e pronta para sair dali. Harry entrou na minha frente.

"Por favor Juliet, me dê apenas um minuto." Falou tocando meus braços que estavam cruzados.

"Meu nome é Julieta e agora você tem 50 segundos." Falei colocando os meus braços ao lado do meu corpo para evitar contato com o garoto.

"Eu sei que você tem todos os motivos para me odiar, eu sei que marquei sua vida de uma maneira muito ruim, eu sei que você nunca será capaz de me perdoar por tal ato, mas..." Ele falava olhando fixamente nos meus olhos como se conseguisse ver a minha alma. Meu coração mandava escutá-lo, meu subconsciente gritava "assassino".

"Seu tempo está acabando."

"Não me interrompa, por favor." Apenas assenti revirando meus olhos."Eu sei que no fundo, você sabe que eu não fui o culpado mas você prefere não acredita nisso." Ele abaixou a cabeça de uma maneira decepcionada.

"Harry, me diga. Se você não a matou, quem foi?" Perguntei tocando seu ombro de uma maneira acolhedora.

"Eu não posso contar, você não entende." Ele levantou seu olhar e eu pude notar a vermelhidão junto com as lágrimas. No mesmo momento aquela Emma forte que se preparou por oito anos para esse momento foi invadida pela Julieta  que no fundo guarda algum tipo de sentimento.

"Eu posso tentar Harry, mas você também tem que entender o meu lado. Você não tem ideia de como todos esses anos vem sendo difíceis para mim. Você pode ir embora, eu não. Tive que lidar com tudo, as pessoas, as lembranças. Tudo, todos os dias da minha vida." As lágrimas desciam descontroladamente, eu não me reconhecia.

"Vamos conversar com mais calma, em um lugar longe daqui." Apenas assenti, eu estava bastante constrangida graças aquele momento, eu expus meus pensamentos mais profundos com o causador de todos eles. Mesmo me preparando todos esses anos para esse momento, ele foi mais forte que eu. Ele foi mais forte que a capa que me cobria durante esses anos.

"Eu vou dar um jeito de entrar em contato com você, agora vai. Seu amigo já deve estar ficando preocupado." Apenas assenti e sai em disparada sem me despedir ou olhara para trás.

No caminho para o carro eu tentei cessar as lágrimas que continuavam descendo pelo meu rosto, o que era meio impossível. Estava torcendo para que Jack não as percebesse. Cheguei a entrada e vi o carro de Jack juntamente com um par de olhares preocupados. Apenas abaixei a cabeça e me controlei em relação a minha voz.

"Desculpe a demora, não foi fácil achar meu celular." Jack apenas assentiu ainda mantendo seu olhar preocupado sobre mim, me conhecendo bem ele preferiu não falar nada a respeito do que poderia ter acontecido dentro da escola.

Jack deu partida e seguimos pelas ruas escuras e silenciosas de Holmes Chapel, como se fosse apenas mais um dia normal na vida de uma pessoa comum.