Capítulo 11

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Ando por horas e mais horas, sem conseguir firmar um dos pés no chão, a quilômetros atrás desisti de fingir não mancar, a mão quebrada lateja de dor fazendo gotículas de suor se acumular em minha testa. Por todo caminho eles falam apenas em seu idioma mas não me importo com o que seja que eles conversam, minha mente está focada em lembrar de cada um dos rostos, cerro os dentes ao rever vez após vez a luta e a flecha voando para Padruig. Estamos perto da fronteira e eu nunca estive tão longe antes.

De longe escuto um alto estrondo que me tira de meus pensamentos e então os homens ao meu redor param de caminhar.

- Garota selvagem.

O homem de costas fala chamando minha atenção em minha lingua.

- Vamos passar a noite, estamos perto da fronteira e a sinais de confronto, eu avisaria para não fugir mas não me parece que conseguiria ou que teria para onde ir.

Desvio os olhos dele, se ele pensou que suas palavras surtiriam algum efeito estava enganado, não me importo com o que eles falam ou fazem, apenas me concentro em permanecer viva e voltar mais forte, eu voltarei e colocarei fogo nas plantações dos lordes e derrubarei pedra por pedra de suas fortalezas, até lá eu não confiarei em ninguém.

Dou apenas alguns passos ainda sentindo os olhos fixos em minhas costas e então apoiada em uma árvore me abaixo até sentar abaixo dela. Observo enquanto eles acendem uma fogueira e se juntam ao redor dela me deixando afastada do calor, engulo em seco ao lembrar da sensação de sentir o corpo começar a congelar. Então o mesmo homem alto se abaixa a minha frente, olho em seus olhos pretos assim como seu cabelo.

- Não dou a mínima para sua mão mas preciso enfaixar a perna ou vai nos atrasar novamente amanhã, e eu não gosto da ideia de passar mais tempo com uma selvagem.

Ele fala sério e com a voz baixa a minha frente e não consigo controlar soltando uma gargalhada.

- Você acha mesmo que está me assustando? Com essas ameaças e provocações... é patético e eu não preciso da sua ajuda.

Puxo o pano de sua mão mas ele o segura e sua outra mão sinto encaixar em meu pescoço.

- Talvez assim você consiga entender já que parece burra o bastante para nos desafiar estando sozinha.

Sorrio sentindo a pressão e então com a perna boa o empurro rapidamente o vendo cair sentado.

- Não estou impressionada, entenda homem de Uttara.. eu estou indo voluntariamente pois como mesmo disse eu não tenho para onde ir mas não ache que estou fraca ou com medo... se eu consigo ficar em pé então eu consigo lutar e não me importa quantos você chame.

Vejo o pano em minha mão e o amarro rapidamente puxando com os dentes já que tenho apenas uma mão para me ajudar agora. Vejo ele levantar e voltar para os seus sem dizer mais nada. Quando amarro a mão sinto involuntariamente um urro escapar entre os dentes cerrados e logo depois suspiro aliviada ao a sentir dolorida porém firme. Encosto a cabeça para trás a recostando na árvore.

Sinto uma lágrima escorrer por meu rosto quando a lembrança de Padruig, alguns meses depois de me acolher, volta a minha mente mais uma vez, nessa lembrança ele estende o meu primeiro arco feito por ele, é quase um brinquedo para a eu de seis anos.

Então volto a realidade ao ver o garoto mais jovem se aproximar, atrás dele iluminado pela fogueira vejo o homem que nem ao menos sei o nome mas que insiste em me lançar ameaças. O garoto ainda manca com seu ferimento. Ele se aproxima carregando algo em seus braços.

- O que você quer?

Pergunto e ele me olha confuso me fazendo lembrar que ele não me entende.

- Kalíta Runny.

Ele estende pra mim e percebo ser um cobertor de lã tecida, não entendo o que ele fala ou o porque de estar me oferecendo então ele segura com apenas uma mão e esfrega seu braço como que para se esquentar, ele aponta para sua perna enfaixada e então para mim, encosta em seu peito e então volta a estender o cobertor. Receosa o pego, não posso congelar até a morte.

- Cot nubra Kalíta Runny.

Ele fala e então sorrindo se vira voltando para perto da fogueira, vejo o outro homem também sentar assim que ele se aproxima. Me enrolo no cobertor porém mantenho meus olhos abertos mesmo na escuridão da noite. O vento parece assoviar tristemente embalando os galhos secos e os fazendo ranger, a lua está escondida sob as nuvens e a única luz vem das chamas feitas pelos inimigos. Suspiro sentindo que a noite consegue fazer com que a tristeza se sobreponha a raiva. Puxo minhas pernas contra o peito sentindo meu coração se apertar e cada vez mais se encher de sofrimento.

AileanaOnde histórias criam vida. Descubra agora