Entre o Orgulho e o Dilema

Capítulo 1 - Ser ou não Ser

Conto de Fadas... Quem nunca sonhou em ser uma princesa, casar-se com o príncipe encantado e viverem felizes para sempre? É muito fácil escolher essa vida, estando fora dela. Claro, não serei hipócrita de dizer que crescer como uma princesa, num castelo cheio de luxo com milhares de empregados a sua disposição é uma coisa ruim, mas o fardo de ser herdeira, mulher e futura rainha, é muito grande. Tudo isso piora quando o seu mundo retrocede milhares de anos nas conquistas sociais e as mulheres voltam a terem papéis insignificantes na sociedade. Após as guerras civis nas últimas grandes potências do mundo, ou do que restou dele, foi decidido que a monarquia seria a melhor opção.

E aqui estou eu, após uma linhagem de 100 anos da família Quinett, no qual todos, repito, todos os herdeiros foram homens, a exceção à regra, Catherina Quinett.

Eu fui criada para ser uma esposa, a princesa perfeita, minha mãe a Rainha Lina, teve um parto bastante complicado, ninguém a culpa, por mais estranho que isso pareça pela sociedade machista que nos encontramos, a conturbação do parto se deve ao fato de que por várias vezes minha mãe teve de governar sozinha ou se imaginar lidando com o fato de que meu pai estava morto durante uma das últimas guerras que nosso reino travou. Meu pai mal chegou a tempo de me ver nascer, eu nasci há 17 anos, no dia 20 de abril de 2050, eu e minha mãe quase morremos no parto, mas pelo castelo tem um boato de que tudo melhorou quando o Rei David chegou e nos tomou em seus braços anunciando o fim da guerra com o reino de Fitz. Algumas vezes eu entendo o fato de que minha mãe e meu pai tentaram ao máximo me afastar das informações reais, foi tudo muito conturbado e minha mãe teve de assumir uma responsabilidade que quase custou nossas vidas. Eu disse que tentaram...

- Princesa Catherina – Diana entrou em meus aposentos fazendo uma reverência – O rei e a Rainha a aguardam para o almoço – suspirei e terminei de arrumar meu cabelo.

Diana era minha dama de companhia, desde pequena, passei mais tempo com ela do que com a minha mãe e meu pai juntos. Hoje ela deve ter em torno de 50 anos, mas essa mulher envelhece como vinho, seus olhos verdes e os cabelos ruivos cacheados fazem qualquer um ficar de queixo caído, sem contar que ela é a mãe de minha melhor amiga, Genevive Laurence que é tão bonita quanto a mãe, mas não tem seus olhos esmeraldas.

Desci as escadas para chegar ao salão de baile real, onde estranhamente seria o almoço de hoje, nem questionei, sendo em qualquer lugar sabia que seria desgastante. Os guardas abriram a porta para mim e eu acenei com a cabeça em forma de agradecimento, estava prestes a suspirar quando um rosto muito conhecido chamou minha atenção. Era meu tio Phillip em pé ao lado de meu pai, sorrindo para mim. Apressei-me em chegar ao seu lado e o abraçar, rapidamente fui correspondida.

- Não acredito que chegou e nem me procurou, estou profundamente ofendida – soltei com a voz abafada por conta do aperto do abraço. Meu tio tinha ido visitar alguns reinos vizinhos em busca de novos acordos econômicos, lembra que eu falei que minha mãe tentou de tudo para me afastar de questões políticas do reino e me tornar em uma princesa do lar? Meu tio é o motivo de ela não ter conseguido isso totalmente, desde pequena ele me presenteava com livros e me contava histórias sobre o passado de nosso mundo, a princípio minha mãe conseguiu convencer meu pai a impedi-lo de me contar essas coisas, mas a medida que fui crescendo, minha mãe teve que engolir o fato de que eu definitivamente não nasci para a fazeres femininos, se assim posso chama-los.

- Estive muito ocupado querida, me desculpe – me soltou – mas trouxe algo para você – meus olhos se iluminaram com os pergaminhos em sua mão, era uma tradição nossa, toda vez que ele viajava, voltava com um mapa e alguns relatos de como foram seus dias em tal reino – Mas esse você só pode abrir após seu aniversário de 18 anos e tem que me prometer que fará isso – ele me olhou sério e eu concordei com a cabeça, seria difícil aguentar a curiosidade por quase seis meses, mas eu faria, por ele.