Me tornei a princesa da Lua!

Capítulo 7 - O Poder da Luz

A Lua. A Terra. O Sol. Era possivel sentir e ver toda a galáxia claramente. O sistema solar e sua suntuosa dança ao redor do Sol. Eu podia sentir toda a vida e todos os lugares onde alcançava a luz do Sol, que preenchia o vácuo com um alegre tom de dourado. A Terra era como um enorme coração pulsátil, onde a alegria e a tristeza dos humanos chegavam a mim como cores vibrantes e aguçavam os meus sentidos. Belo e impressionante. 

Quando Apolo me tocou foi como se minha essência deixasse meu corpo e vagasse no tempo e espaço, desvendando todo os lugares acalorados pela luz solar e lunar em um voo empolgante e divertido. Nossas almas se conectaram e deram origem a aquele poder desconhecido. Apolo então retirou sua mão de meu rosto, mas eu continuei a vagar pelo vácuo do universo que me rodeava, sendo atraída em direção a Terra. Quando me desconectei de Apolo, todo o dourado da luz do Sol se apagou, restando apenas a luz resplandecente e prateada da Lua a iluminar uma das faces do planeta Terra. Na face mais escura, onde a luz da Lua e do Sol não conseguiam chegar, algo estava me puxando. Eu não conseguia voltar.

Conforme fui me aproximando atraída pela escuridão fui percebendo que algo maligno ainda não desperto jazia em algum lugar profundo do planeta Terra, como se respirasse lenta e profundamente num sono profundo aguardando o momento de despertar. Mesmo estando distante algo negro foi subindo pelas minhas mãos e tomando meu corpo. Pude sentir um frio congelante e doloroso tomando meu corpo, e eu estava sendo engolida por aquela força maligna desconhecida, porém quando senti chegar ao meu pescoço voltei a mim subitamente.

Eu caí no chão ofegante. As dores e o frio haviam sido reais, portanto percebi que o que eu havia visto não era apenas uma visão. Eu realmente estava sendo engolida por aquele poder maligno. Apolo chamava por mim, mas não consegui perceber de imediato.

"Serenity! O que houve?!" disse Apolo me levantando.

"Está tudo bem, Apolo, está tudo bem." eu respondi ainda ofegante.

"Assim que a soltei seus olhos foram ficando negros, mas foi muito rápido e eu nem tive tempo de reagir. Em menos de um segundo você caiu de joelhos. O que houve?" Apolo soava calmo, mas era possível notar sua preocupação.

"Algo não me deixou voltar e quase fui engolida, algo maligno que ainda não despertou. Pude sentir aquilo me atraindo na face mais escura da Terra." eu disse com o olhar longe.

Apolo não respondeu, apenas ficou pensativo a olhar as estrelas. Sua mão direita agarrava fortemente sua espada dourada presa a sua cintura por um cinto de couro marrom.

"Está tudo bem Apolo?" eu perguntei. Apolo rapidamente ficou de frente para mim e se ajoelhou.

"Me perdoe Alteza por tê-la exposto ao perigo. Fiquei empolgado e não pensei antes de agir. Eu jamais me perdoaria caso algo acontecesse com Vossa Alteza!" as palavras eram ditas rapidamente e sua cabeça estava abaixada em direção ao chão. Me sentei no chão a frente dele.

"Apolo, está tudo bem. Não havia como saber que algo assim iria acontecer. Esse poder que descobrimos é realmente incrível e eu também não entendo muito bem que tipo de poder é esse. Não há o que perdoar e estou bem, mas terei que puni-lo caso continue a me chamar de Alteza." eu disse e com as duas mãos levantei seu rosto que ainda estava abaixado em direção ao chão. Nos olhamos por alguns segundos.

"Não aconteceu nada agora que me tocou Alteza." ele disse aliviado.

Com uma expressão carrancuda levantei rapidamente dando batidinhas para tirar a poeira do chão de meu vestido. Fiz uma reverencia rápida em direção a Apolo,  que me olhava sem compreender o que eu fazia.

"Está muito tarde. Vou me retirar. Boa noite Alteza Príncipe Apolo." disse secamente e sai pisando forte em direção a torre sul cuja entrada ficava logo a frente. Apolo permaneceu parado no mesmo lugar me observando até me perder de vista.

Fui para meu quarto furiosa. Me joguei na cama pensativa e tentando entender porque apesar de nossa conexão Apolo continuava a ser muito formal. Talvez ele não quisesse qualquer proximidade comigo, eu pensava. Em meio a inúmeros pensamentos sobre Apolo e Ártemis acabei adormecendo rapidamente.

No dia seguinte pela manhã fui ter uma audiência com minha mãe, a rainha Selene. Após escutar todos os acontecimentos sem dizer nenhuma palavra, a rainha se levantou e pensativa foi até uma enorme abertura com vista para o jardim.

"Nunca tive nenhuma experiência parecida com o que me disse Serenity. A luz viaja pela galáxia a uma alta velocidade, mas mesmo assim pode demorar anos para que chegue ao final do sistema solar. Acredito que você e Apolo possam ter feito uma viagem pelo espaço tempo, mas não sei se o que viram era o passado, presente ou futuro. Por enquanto não comente com mais ninguém sobre isso, é uma ordem. Irei ordenar que Apolo faça o mesmo. Irei investigar com seu tio Hélios. Está proibida de tentar usar esse poder novamente." disse a rainha, seu olhar continuava fixo no enorme jardim do palácio.

"Sim, Majestade." eu respondi e fiz uma reverência.

"Ártemis e Apolo serão sua guarda particular por um tempo. Anne esteve fora tomando as providencias para que eles se alojassem próximos de seus aposentos na torre sul. Não poderá sair sem a presença de pelo menos um dos dois, está bem Serenity."

"Sei me cuidar sozinha, mas irei seguir suas ordens Majestade." respondi friamente, porém a rainha continuava pensativa a observar o jardim e nem se incomodou com minha fala pretensiosa.

Após o fim da audiência com minha mãe, fui diretamente para o salão onde o almoço já estava posto e aguardando por mim. Ártemis e Apolo já estavam sentados em seus lugares.

"Como vai Serenity! Tenho muitas coisas a te contar!" disse Ártemis energética como sempre.

Apolo apenas fez um sinal com sua cabeça e passou a comer rapidamente seu almoço. Por algum motivo fiquei extremamente incomodada com sua atitude e passei a ignorá-lo, dando minha completa atenção a Ártemis que me contava os mais diversos assuntos com muita empolgação. 

"Estava delicioso, mas devo me retirar. Peço licença Alteza." disse Apolo assim que terminou de comer e se levantando da mesa.

Após ouvi-lo a me chamar novamente de Alteza fiquei extremamente irritada. Não respondi mesmo percebendo que ele aguardava a minha resposta. Cruzei os braços e passei a encará-lo furiosa. Ele me observou por alguns segundos e com uma expressão imutável em seu rosto fez uma breve reverência e se retirou do salão.

Permaneci quieta e finalizei a refeição sem dar a devida atenção a Ártemis que permanecia ao meu lado com uma feição triste. Sem despedidas saí com passos rápidos, deixando Ártemis desentendida para trás. Andava imensa em pensamentos, sem nem mesmo perceber em qual direção seguia. Por que me irritei tanto com a atitude de Apolo? Ele nunca havia dito que gostaria de se aproximar de mim. Sua atitude era normal e comum, assim como qualquer outro guarda deveria ser. Será que não poderíamos ser amigos, assim como eu era com sua irmã Ártemis? Não deveria ter ignorado e abandonado Ártemis, que sempre era doce e gentil...

Num turbilhão de pensamentos, parei e sentei sob a sombra de uma árvore próxima. Com sentimentos mesclados entre tristeza, culpa e arrependimento, mergulhei minha cabeça entre os joelhos, e independente de minha vontade lágrimas passaram a escorrer de meus olhos. Após chorar, acabei adormecendo rapidamente.