A minha cabeça latejava e os meus olhos ardiam ao abri-los. Estava no conforto do meu quarto desarrumado, deitada sobre o colchão da minha cama, cerca de trinta minutos após o despertador tocar. Estava atrasada, mas não conseguia sequer levantar-me. O esforço não valia a pena, ainda mais, quando estive até de madrugada focada na leitura dos livros com símbolos incomuns, sorrateiramente, roubados de Oak.
Eu sabia que tinha escola pela manhã, no dia seguinte. Mas, simplesmente, recusava-me a adormecer quando a informação obtida era nova, promissora. E tinha ainda mais a certeza disso, pois nunca havia lido tal coisa em toda a minha vida. Revirando-me na cama, guardei o livro com a capa esverdeada e detalhes em ouro, debaixo da cama. A minha mãe é contra eu ler este gênero de livros, se fosse por ela, provavelmente nem teria aprendido a lê-los. Mas não a julgo, embora me pareça exagerado a parte dela me proibir de ler sem bons motivos para.
Suspiro, finalmente ganhando coragem para rumar ao inferno. Pois é isso que a escola secundária é, um autêntico inferno. E tudo isso começou por eu, acidentalmente, ter mostrado as minhas orelhas, cujo o formato é incomum. A partir daí, nunca mais pude viver uma vida escolar considerada "pacífica" ou "normal", a toda a hora se metem comigo, troçando das minhas orelhas, troçando dos meus comportamentos, troçando de mim. As vozes deles tornam-se cada vez mais naturais para a minha pessoa, não que eu goste disso, mas é preferível assim, do que ficar intimidada e ser considerada fraca.
Levantando-me lentamente, olho para o ecrã luminoso a carregar ao lado da minha cama. Tenho vinte minutos, mais dez de tolerância. Isso dá para tomar um café da manhã calmo, e caminhar relaxadamente até à escola.
Após vestir-me e pôr a minha higiene em dia, prendi o meu cabelo selvagem atrás da cabeça. Olhei-me no espelho, tapando a parte pontiaguda das orelhas e fui em direção à cozinha. Cheira a ovos e bacon, o que provavelmente indica, que quem está a cozinhar é a minha mãe e não a tia Vivi - que têm um excelente dom de queimar a comida.
Esfregando a cara devido ao cansaço, soltei um bocejo, denunciando que estava na sala.
— Bom dia, Nya. — a minha mãe sorriu-me. O seu cabelo acastanhado ondulado, tão selvagem como o meu, também estava preso atrás da cabeça. Ela parece cansada, como eu, porém, especialmente hoje, parece-me nostálgica e pensativa. — Toma. — serve-me a refeição, sentando-se à minha frente. — Dormiste bem?
— O que consegui. — respondi, comendo o café da manhã. — E tu? Pareces cansada, e para além disso, pensativa.
— Não é nada. Os adultos também têm os seus problemas às vezes. — toca-me no nariz.
— Mas a minha mãe resolve sempre os problemas e tem sempre uma solução. — sorri, em resposta, colocando um pedaço de ovo na boca. — Onde está o Oak? Ele devia ter chegado ontem... Para aonde ele foi?
— Trabalhar, Nya. É comum entre os adultos.
— Mas não é comum para o Oak. — respondi-lhe, sabendo que era mentira o que ela me dizia. Era engraçado. Ela conseguia fazê-lo na perfeição, e eu, bem, eu não consigo mentir. Nem sequer ser desonesta, a menos que me convença disso.
— Tens de ser paciência, fofinha. — ela levanta-se com o seu prato na mão. — Sei que adoras o teu tio, mas ele têm coisas para fazer.
— Eu sei, mãe. Apenas — proibi-me de falar. Porque eu sou assim? Tão estranha como o desconhecido e tão honesta que ao ponto de mal controlar as verdades de sair da minha boca?
— Apenas?
— Vou para a escola. — levantei-me da mesa após colocar a última garfada na boca, coloquei o prato sobre a bancada e calcei-me para sair de casa.
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A Princesa Do Nada
FanfictionO que existe pior do que uma traição? Jude Duarte, após ser exilada como Alta Rainha de Elfhame, tenta recompor a sua vida, no entanto, quanto mais tenta, mais isso lhe parece impossível. Descobrindo a gravidez de uma criança do féerico que a traiu...