Capítulo 3

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Escondi-me num movimento rápido por detrás da árvore. O seu troco era largo e as folhas eram espessas, o que permitia que não me vissem do atual ângulo em que estavam. No entanto, a minha respiração estava ofegante, e eu senti o medo e a adrenalina a circular pelo meu sangue. Mordi o lábio e esperei, esperei até ouvir múrmuros entre Oak e Bomba.

— Alguém está a andar por aí. Devíamos verificar, Oak. — disse a voz feminina e meio rouca de Bomba.

— Creio que não será necessário. — ele respondeu — É normal andarem humanos nesta zona... No entanto, os que andam costumam estar sobre certas... substâncias...

— Se você o diz, "Vossa Majestade". — fala Bomba num tom de deboche — Ao menos aceleremos o passo, o Cardan está lhe esperando. 

— Eu sei. 

Respirei fundo. Nesse momento, o estranho cavalo evocado da erva, relinchou. Inclinei-me um pouco sobre o tronco da árvore e consegui observar, ambos os cavalos eram de um tom esverdeado e os cascos flutuavam em cima da água. Aquilo era magia. Aquilo era um encantamento. Algo que sempre me fora proibido de ler, aprender ou fazer. Mas, por algum motivo, se Oak fizesse algum, já não havia problema. E isso ainda me fez ficar mais curiosa para o seguir após ele estar distante, distante por cima do mar.

Sai do meu esconderijo e corri em direção às ervas, arranquei algumas e fiz o mesmo procedimento que Oak. Não podia perdê-los, caso contrário, lá se ia a minha oportunidade de descobrir para ele ia, onde Oak buscava os livros e onde se podia ir num cavalo flutuante. 

— Montada, levanta-te e leva-nos aonde eu te ordenar! — disse, porém, nada aconteceu. — Montada, levanta-te e leva-nos aonde eu te ordenar! — mordi o lábio de frustração, porque não funcionava comigo?

Foi nesse momento, com uma mistura perigosa dos meus sentimentos, que me lembrei de algo importante. Montada, supostamente, era o nome do cavalo. Obviamente não poderia haver dois iguais. 

— Apache, levanta-te e leva-nos aonde eu te levar! — os ventos trouxeram folhas e levaram as ervas, num remoinho rápido, criaram um cavalo também esverdeado, com crinas de algas e pequenas flores da paisagem. 

Sorri, satisfeita. Saltei sobre o pescoço do cavalo e montei-o. Dei-lhe duas festas sobre o pescoço e ele relinchou. 

— Segue o Oak, Apache. E não me deixes cair, por favor. — o cavalo galopou rápido e, eu posso confessar, que me assustei. Nunca tinha montado um cavalo antes e a cada galope dado por ele, tinha a impressão que cairia. Nessa altura, agarrei-me às algas da crina de Apache, e apertei os meus joelhos contra a sua barriga. 

Apesar da minha felicidade, a minha vista já não captava Oak. Eu tinha-o perdido. Suspirei. Bom, mesmo assim irei ter com ele, o Apache irá levar-me ao local que ele esconde e vai escondido. Não tenho com que me preocupar, a não ser guardar as ervas que me restaram para voltar a casa.

Olhei para o céu. Este tornava-se escuro e eu pude ver as estrelas. O céu parecia mais estrelado sobre o mar, o que na verdade, se devia à luz da cidade que impedia a sua visualização. Quando voltei a olhar em frente, encolhi-me para atravessar o nevoeiro, uma brisa fria ultrapassou-me nessa exato momento e eu arrepiei-me, quando voltei a olhar para o céu... Ele já não era o mesmo.

Constelações inúmeras e cometas a atravessar a escuridão infinita de um céu estrelado. Olhei para trás, não conseguia ver o nevoeiro como no caminho de vinda, algo estranho. No entanto, ao rodar a minha visão para a frente, pude ver vestígios de Terra. Uma ilha grande, um continente talvez, erguia-se à minha frente. 

Era difícil controlar a emoção no meu interior. A cada galope, mais perto e melhor via a paisagem, a ilha ou continente, o país ou um conjunto deles. Mordi o lábio, arregalei os olhos. Dei por mim, numa fração de segundos, a subir pela encosta da ilha, em cima de rochas e Apache desaparecer. 

Podia estar assustada, podia querer voltar para casa, podia ter entrado em desespero por não ver Oak, mas só me consiga sentir encantada, um estranho sentimento de maravilha, de querer ficar ali para o resto da minha vida. 

Árvores altas erguiam-se, iluminadas por pequenas coisas flutuantes e cintilantes que voavam em seu redor. Era belo, único, magnifico. Aquilo não eram pirilampos, aquilo não era um sonho, aquilo era a entrada num mundo completamente diferente, numa realidade misteriosa, no paraíso dos livros com letra estranha que eu aprendera certa vez, à certos anos. 

Dei um passo em frente, sem Apache para me guiar, ou um Oak para seguir. Enchia os pulmões de oxigénio, de coragem e o sangue de adrenalina. A cada passo, via cada vez coisas mais impressionantes, espantosas, dignas de um conto de fadas. Estava no meio da floresta, possivelmente perdida, possivelmente sem conseguir voltar para casa, mas sentia-me tão bem, sentia-me exclusivamente calma, exclusivamente em casa.

Passos soaram até mim, e eu poder-me-ia ter escondido. Uma mão agarrou-me o pulso e eu afligi-me. Olhei para o indivíduo e assustei-me, era Oak. O meu tio, quase irmão, a descobrir a minha vinda para este mundo. Um mundo que não sabia o nome, que não sabia exatamente onde era ou como era. A descobrir que cheguei ao mundo que ele escondia e eu desconhecia, e ainda desconheço. 

— Nya, o que faz aqui? 

A Princesa Do NadaOnde histórias criam vida. Descubra agora