A Princesa Do Nada

Capítulo 5

— Quem é ela? — perguntou a feérica olhando para mim com o sobreolho erguido. 

Oak hesitou por instantes, parecia formular na sua mente o que dizer, parecia considerar a melhor forma de agir. Conseguia sentir a indecisão naquele morder de lábios, a tentativa de manter um segredo em sigilo. Mas por quanto tempo isso duraria? Porque eu, conseguia sentir, que parte desse segredo desmoronara assim que aqui pisei.

— Mãe, o nome dela é Nya. Preciso que tome conta dela por um tempo, pouco. 

Congelei. Mãe, ele disse. A mãe de Oak, provavelmente, minha avó. Um membro da família escondido do meu conhecimento, mais um segredo que ninguém antes me contara. O que mais teria eu? Uma tia? Primos?

Fechei a cara para fingir simpatia quando fui apresentada. Coçava o anelar a pensar como geria os meus sentimentos e pensamentos. Duas coisas perigosas de controlar em excesso e ao mesmo tempo. Nesse momento, forcei um sorriso e acenei à feérica. Não sabia nada sobre ela, como nada sabia deste mundo - ou quase nada, as explicações de Bomba eram boas, mas faltava-me tempo, tempo para processar a informação. 

— Aquela cara — ela murmurou, analisando-me. Engoli seco, mas no fundo, esperava ganhar mais uma peça deste puzzle de segredos. Não só esperava, ansiava.

— Tenho de ir, o Cardan está me esperando. — sorriu-lhe nervoso, virando-se para mim. — Virei buscar você assim que terminar meus compromissos. — Oak virou-se de costas, parecia ir-se embora, não fosse ele voltar para trás e alertar: — Não a leve para a Corte, por favor. 

— Claro, querido. — Oriana acenou em despedida e eu senti um aperto no peito. Oak acabara de me deixar sozinha com uma possível avó minha, ou simplesmente uma desconhecida. 

Quando ambos desapareceram no horizonte, a mulher dirigiu-me a palavra, olhando para mim como se lhe fosse familiar, e como se, ao mesmo tempo me devesse respeito, sentia superioridade relativamente a mim, sentia, provavelmente, a minha vulnerabilidade perante a situação. Algo que detestava profundamente.

— Entra... Nya. — ela disse-me, caminhando para dentro. 

Hesitei. Receava isto, receava pisar o chão de uma casa diferente das que estava habituada embora, por mais assustador que fosse, gostava de sentir a adrenalina e a emoção a correr pelas minhas veias. Uma mistura duvidosa do que sentia, mais uma vez. Uma mistura de relutância. 

Puxei uma mexa de cabelo para detrás da orelha. Aquela orelha que, aparentemente, era um porto seguro aqui e uma maldição de onde vinha. Lentamente, adentrei na casa. Na mansão, na fortaleza. 

Segui-a até uma sala enorme. Terrivelmente enorme. Mas interessante. O tapete cobria o estranho chão, era avermelhado, de um material estranho. Haviam assentos semelhantes a sofás, no entanto, duvidava que aqui também os chamassem desse modo. Ao fundo, havia uma lareira, cujo nela o fogo ainda se alimentava dos restos da madeira.

Apesar do meu receio e relutância, senti-me bem. Era mágica a fortaleza, como toda esta terra. Aquela magia que encaixa em você como uma luva, que com que na sua barriga impressões estranhas apareçam, outrora chamadas borboletas. Deixei escapar um meio sorriso, porém ela já olhava para mim nessa altura.

— Meia-humana? — questionou-me — A minha enteada também assim o é. — sentou-se. Reparando na minha cara séria, ou no meu olhar refletor de desconfianças. — Chama-me Oriana. — acrescentou. — Senta-te. — pronunciou numa falsa simpatia. Conseguia sentir a léguas.

— E daí? Tem algum problema? — respondi, meramente ofendida. Porém, Oriana não deixou de engolir em seco, e observando-me mais uma vez, já sem o olhar superior ou falsa simpatia; apenas com a expressão surpresa. Ficamos assim, em contacto visual enquanto, provavelmente, ela pensava em algo ofensivo para contradizer ou para falar — Porque está me olhando? Nunca viu um meio-feérico na vida?