Prólogo

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Rebecca

(8 anos atrás)

― Miguel, pelo amor de Deus atende esse telefone! Estou muito preocupada! Onde você está?

Pego o celular e vejo que a última mensagem que ele enviou foi às 18:00, depois disso, mais nenhum contato. Ele estava indo para a casa do pai dele depois de me deixar na minha casa, mas isso já faz 3 horas. O pai dele, seu Roberto e até a mãe dele, já me ligaram e não o encontram em lugar nenhum.

― Alô, Malu. Você sabe do Miguel? Estou procurando por ele.

― Oi Becca. Meus tios já ligaram também, desesperados. Pelo visto ninguém sabe onde ele está... de novo.

O pior da frase da Malu é isso. De novo ele está sumido.

Já perdi a conta de quantas vezes já liguei para Miguel, meu namorado.

― Tá bom então. Obrigada. Se você souber de alguma coisa me liga, por favor?

― Claro. Beijo.

Desligo a ligação, mas não consigo ter calma. Aconteceu alguma coisa. Posso sentir.

O quarto parece ainda menor. Não consigo respirar direito. Sento e levanto da cama a cada 5 minutos. O meu tapete roxo, de pelinhos, que sempre me confortou, não está dando o resultado de sempre e já está todo amassado de tanto que eu ando de um lado para o outro.

Onde ele estava? Por que não me atendia? Ele estava bem! Ele tinha que estar!

Depois de tudo o que aconteceu naquela semana, ou melhor naqueles meses, ele estava bem, não estava?

Eu tentava me confortar de qualquer maneira.

Deito na minha cama e coloco para escutar as mais de 30 mensagens que Miguel me mandou durante essa semana, várias delas cantando para mim.

Quase 5 horas depois, escuto um barulho na porta e sento rapidamente, assustada, encontrando meus pais e Helena, com os olhos cheios de lágrimas.

― Oi Filha ― Minha mãe e Lena vem na minha direção.

― Acho que peguei no sono ― Pego meu celular e vejo 10 ligações perdidas da Malu.

― O... o que aconteceu? ― Fico em pé rapidamente

― Sinto muito filha... ― Meu pai tenta falar

― O que aconteceu? ― Falo mais alto ― Falem logo!

― Encontraram o Miguel ― Olho na direção da minha irmã chorando mais alto.

― Co...como assim encontraram o Miguel? Onde ele está?

Minha mãe vem na minha direção tentando me abraçar mas eu me afasto dela, me afasto de todos.

O que estava acontecendo? Onde estava Miguel esse tempo todo?

― Expliquem logo o que aconteceu! ― Gritando

― Miguel... ele sofreu um acidente quando estava a caminho da casa do Roberto. Não se sabe ainda muitos detalhes, só que ele estava acima do limite de velocidade.

Não pode ser verdade! Não! Meu Miguel!

Começo a negar com a cabeça. Rápido, com força... Não!

― Não! Não! Não! Não é verdade! ― Saio do quarto em direção a saída da minha casa.

Preciso encontrá-lo!

Não, não é verdade. Isso é um pesadelo, só pode.

Corro pela rua, sem perceber que estou vestida apenas com um pijama curto e sem sapatos.

― Becca! ― Minha mãe grita chorando já longe ― Não saia assim, por favor! Volte aqui!

― NÃO! É mentira! Vocês estão mentindo!

― Rebecca! ― A voz do meu pai é mais forte.

Choro descontroladamente, correndo, em direção a casa da Malu. Pego o celular discando para o celular do Miguel, que não atende.

― Malu! Malu!

Minha amiga abre a porta com o rosto vermelho, chorando muito.

― Não! Me diz por favor que é mentira, tem que ser mentira!

― Becca... ― Malu não consegue terminar de falar ― Eu.... Eu sinto muito.

Cubro meu rosto com as mãos, me entregando a um choro dolorido.

Respiro com dor entre as minhas mãos mas não vem ar. Escuto um barulho alto no meu ouvido, tão alto que me faz mudar as mãos, apertando-os para ver se passava. Meu corpo inteiro treme forte e meu coração dispara.

É mentira. Tem que ser mentira! Ele não me deixou! Ele não pode ter morrido!

Meu corpo para de responder aos meus comandos, não consigo mais dar nenhum passo.

Levanto a cabeça e encontro Helena parada, na frente da porta, me olhando, junto com Malu, chorando.

― Becca! ― Elas vem na minha direção

Um soluço alto sai da minha garganta, cheio de dor.

― É... verdade.

Helena me abraça mais forte, enquanto eu choro mais alto em seu abraço.

― É verdade, Helena! Ele se foi!

Um vazio me preenche. Meu olhos estão embaçados de tantas lágrimas escorrendo no meu rosto, não consigo mais enxergar, sentir nada.

Isso não podia estar acontecendo. Não podia!

Meu corpo está tomado por tristeza, vazio e dor. Muita dor...

― Becca... ― Minha mãe chega, se aproximando de nós três junto com meu pai.

Era demais, tudo aquilo era demais... eu desmancho no chão ficando inconsciente.

A Dança da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora