Capítulo 01

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P.O.V. Kate

— Eu ainda vou te demitir! — Ele grita e aponta o dedo em minha direção.

— Nos faça esse favor. Mas lembre-se de pedir autorização para o Diretor Financeiro, afinal vai sair muito caro para vocês.

— Seu salário não é alto.

— Verdade, mas o acerto e direitos trabalhistas de quinze anos de trabalho serão consideráveis. Sem falar do processo maravilhoso que eu ganharei com total certeza.

— Você é muito confiante.

— Não é confiança, é conhecimento. A lei está ao meu lado, visto que sou membro da CIPA e já fui reeleita. Você não poderá me demitir nos próximos dois anos.

— Você se candidatou de caso pensado!

— Claro que não. Eu nem queria me candidatar esse ano, mas os meus colegas de trabalho insistiram.

— Eu vou te...

— E antes que você pense na possibilidade de me prejudicar para que eu me demita, duas coisas importantes. Primeira, eu sou paciente e é muito difícil me tirar do sério de verdade. Segunda, não é aconselhável sacanear uma das funcionárias mais populares da empresa.

— Sua...

— Atrevida, prepotente, blábláblá... competente, inteligente, esperta, funcionária exemplar, queridinha da galera e dos pacientes... é, eu sei, sou tudo isso. Por falar em competência, preciso ir. Até mais ver, senhor Administrador Geral.

Saio da sala do Marlon de alma lavada.

Cutuquei a onça com vara curta? Cutuquei.

Tenho medo dele? Um pouco.

Ligo pra isso? Nadica de nada.

Ando pelo corredor e cumprimento todos que vejo pela frente, como sempre. Educação é o mínimo que qualquer pessoa merece, e num ambiente tão tenso como um hospital, mais ainda.

Passo pelo posto de enfermagem da pediatria e lá está meu melhor amigo, o enfermeiro Dudu, vulgo Eduardo.

— Que cara é essa, Criatura?

— Cara de quem teve que enfrentar o novo chefinho.

— Novo nada, já tem quase seis meses que ele está aqui.

— É, mas o Darth Marlon até hoje não conhece as coisas nada do HG, parece um novato.

— Claro, ele quase não anda pelo hospital. Já entra pela lateral pra não ter que passar por aqui.

— Pois é. Enfim, vou voltar para as profundezas do Lar de Hades.

— Você é uma Hades muito simpática, Migs.

— Acho que meus estagiários não concordam contigo.

— Boa sorte com seus pupilos. Aliás, boa sorte pra eles.

Agradeço e aperto o botão do elevador. Enquanto aguardo, movimento o pescoço para os lados na esperança de reduzir um pouco a tensão. A porta se abre e há três pessoas lá dentro.

Um dos meus copeiros, minha colega de profissão e desafeto, e uma mulher que não conheço.

— Boa tarde.

— Boa tarde. — O copeiro e a estranha dizem.

— Só se for pra você.

A sempre azeda Rafaela me responde. Johny, o copeiro, revira os olhos e a outra mulher a olha de rabo de olho.

O Coração de Maitê (Degustação - disponível na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora