P.O.V. Kate
Maitê meio que está fugindo de mim. Besteira da parte dela. Já falei, basta dizer não uma vez que eu não insisto.
Tenho ficado na minha e também não a procuro.
Mal temos nos visto, pelo menos pessoalmente. Porque se há uma pessoa que tem me visitado durante os sonhos, é a doutora Maitê.
Toda semana eu sonho pelo menos umas três vezes com ela, e a maioria das vezes acordo suada e excitada. Eita diacho. Isso deve ser tesão acumulado, só pode.
Tenho me aliviado e tal, porém não é o suficiente pelo visto.
A última vez que conversamos pessoalmente foi no início do mês, e eu não resisti a tentação de zoar com a cara dela quando o assunto do creme branco surgiu.
Tenho certeza absoluta que a morena sabia do que se tratava, já que ficou com as bochechas vermelhas.
Foi impagável o pânico dela quando comecei a explicar o motivo das minhas risadas.
Será que Maitê pensou que eu sou doida a ponto de falar para estranhos a verdade? Sou meio maluca, porém tenho bom senso. Na maioria das vezes, pelo menos.
O tempo está voando, e semana que vem já é o Natal, época do ano que costumava ser a minha preferida até a adolescência.
Depois que fui expulsa de casa, perdi o ânimo de comemorar uma data onde as pessoas se reúnem com as famílias.
Estava pensando justamente nisso quando a porta do elevador se abriu e entrei. Aperto o botão do andar da administração e respiro fundo. Lá vamos nós para mais uma reunião chata.
O elevador para e entram Maitê, Dudu e a fisioterapeuta Anamaria.
— Oi Kate! Tá sumida! Desistiu de sair das profundezas?
— Sabe como é, nessa época do ano dou folga para os meus diabinhos e o inferno fica todo por minha conta! Essa vida de Hades de saia não é fácil!
— Você devia nos visitar mais vezes pelos corredores... ninguém tem uma trilha sonora tão eclética quanto a sua!
— Menina, cê acredita que outro dia eu cantei "Dama de Vermelho" e a esposa do Diretor Geral estava atrás de mim com uma blusa vermelha? A música fala de uma prostituta que usa essa cor no bordel!
Ela e Dudu riram, mas Maitê ficou séria.
— E aí?
— E aí que a minha amiga fez a egípcia e saiu do elevador como quem não quer nada. Eu vi e fiquei tão passado que esqueci que tinha que descer também!
Nós rimos e Maitê continuou séria. Eu hein. Será que aconteceu alguma coisa?
Descemos todos no mesmo andar e nos dirigimos ao pequeno auditório. Sento entre Maitê e o Dudu, com Anamaria à minha frente.
— Migs, quais os planos para o Natal esse ano?
— Uai, Du, já está se desconvidando para a minha ceia?
— Claro que não! Eu quero saber o cardápio. Minha mãe me perguntou o que é pra levar.
— Vocês podem escolher o cardápio. E como sempre, não precisa levar nada não, só a presença de vocês já é o melhor presente de Natal que eu posso ter.
— Ain, que fofolete que você é!
— "Menas", Dudu, bem "menas". Me manda o que vocês vão querer comer que eu providencio.
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O Coração de Maitê (Degustação - disponível na Amazon)
RomanceA oncologista Maitê Albuquerque vivia para o trabalho e não tinha vida social. Sem família, sem amigos, sem perspectivas de ter alguém, mantinha-se distante de quaisquer possibilidades de relacionamentos, até que... Até que conheceu Katerina Silva...