Capítulo 02

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P.O.V. Kate

A Maitê é uma gata. Fato.

Trabalha no hospital, logo, intocável. Fato.

Uma pena. Fato, muito fato.

Eu e minhas malditas regras.

Não fico com pessoas que trabalham no mesmo lugar que eu, e o nome disso é trauma.

Fiz essa besteira uma vez para nunca mais. Ela alegou assédio e fui demitida por justa causa e ainda fiquei mal falada na cidade.

Parece bobagem, mas só quem mora numa cidade pequena sabe o estrago que um "causo" desse pode causar na vida e na carreira de uma pessoa.

Eu era estagiária do curso de técnico em enfermagem no hospital da minha cidade natal quando conheci uma fisioterapeuta linda. Nós começamos a ficar e eu estava apaixonada.

Achei que ela também estava. Pobre iludida. A vaca ficava comigo e com um médico, e quando ele descobriu, a donzela se fez de vítima e me denunciou como a assediadora.

Eu estagiava de manhã, fazia o técnico à tarde e terminava o ensino médio à noite. O resultado do escândalo foi meu pai me expulsar de casa aos dezessete anos por não querer uma perdida dentro de casa.

Minha sorte foi uma tia que soube da história e me chamou para morar com ela em troca de companhia, já que estava doente.

Terminei meus estudos, comecei a trabalhar durante o dia como Técnica de Enfermagem e fazer faculdade de nutrição no noturno.

Minha tia morreu de infarto no ano que me formei, e senti muito por ela não ter me visto receber o diploma.

Na verdade, nenhum familiar veio, afinal, por ordens do meu progenitor eu não tinha mais família.

Passei no processo seletivo em primeiro lugar e estou no mesmo hospital desde então.

Aos trinta e cinco anos de idade, com treze de carreira como Nutricionista Hospitalar, conquistei respeito e admiração de muitos, e ódio e inveja de outros tantos.

Amo minha profissão, amo o que faço. Defendo com unhas e dentes a minha equipe e também a importância da nutrição na vida de qualquer ser vivo, principalmente os que estão doentes.

Não foi fácil chegar aonde cheguei, mas não faço disso motivo para reclamar ou tratar as pessoas mal.

Todo mundo tem problemas, e os outros não têm culpa de nada. Acredito que bom humor, simpatia e empatia podem mudar o dia de alguém.

Por falar em mudar o dia, o que foi aquela interação com a Maitê na hora do almoço? Faz muito tempo que não sou descarada com alguém, não sei o que aconteceu.

Mentira, sei sim. Ela é bem o tipo que me encanta... morena com olhos verdes já é covardia, mas aquele sorriso me desarma.

Saco, ela tinha que trabalhar lá? Certo, melhor parar de pensar na Maitê, ou isso não vai prestar.

Arrumei algumas coisas no meu lar e preparei um lanche. Banho tomado, deito para assistir alguma série até a hora de dormir.

Capoto rápido como sempre, meu sono é pesado e geralmente nem me lembro se sonhei.

Como geralmente não é sempre, eu sonhei. Com ela. Sonho erótico. Dos bons. Merda. Acordo no outro dia com a calcinha molhada.

O trem foi bom pelo visto. Não lembro de tudo, mas a parte que lembrei... eita...

Levanto e vou tomar meu banho. Acabo me tocando no chuveiro, ótima forma de começar o dia, não é mesmo?

O caminho é relativamente tranquilo. Prefiro passar por vias secundárias e demorar um pouquinho a mais para chegar do que ficar presa em congestionamentos ou fazer loucuras costurando o trânsito.

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