Capítulo I

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O dia novamente estava escuro, do jeito que eu preferia, as nuvens cinzentas cobriam o céu de Olímpia e tornava o dia frio e calmo. Em dias como esse eu costumava sair para dar uma volta pela cidade, um dia que eu me dava folga da empresa e me permitia esquecer tudo o que me atormentava.

-Bom dia meu senhor - um de meus empregados disse assim que me viu descendo as escadas de mármore negro - está um belo dia hoje

-Bom dia, tem razão - respondi ao chegar no pé da escada, alcançando a enorme sala de entrada da mansão. Um lustre de cristal puro se encontrava no teto, haviam algumas poltronas e um sofá em volta, assim como um armário com as bebidas e outros com livros, uma lareira na psrede e logo acima um quadro com a imagem representando o monte Olimpo grego e com bordas talhadas em ébano e folheado com ouro.

-Deseja algo de especial hoje my Lord? - o mordomo perguntou entrando na sala e se curvando.

-Irei sair, poderia pedir aos cozinheiros para preparar o menu 12?

-Agora mesmo meu senhor - ele se curvou novamente e saiu seguindo para a cozinha.

-A alguma notícia sobre meus irmãos? - perguntei ao empregado.

-Não senhor, mas vi uma notícia no jornal que Zeus estava em Londres e Poseidon havia retornado ao Caribe para finalizar um acordo - apesar de distantes nos sempre mantinhamos contato, mas recentemente havia uma distância maior nos separando e isso me incomodava bastante.

-Obrigado, irei sair como já disse e qualquer coisa peça para deixar recado - segui para a parte de trás da mansão onde ficava meu jardim particular, o lugar mais valioso para mim dentre todas as minhas conquistas - Cérberus? - assim que chamei ouvi um latido e entre os arbustos saiu meu melhor amigo - e então garotão, vamos sair? - perguntei sorrindo e ouvi seu latido de resposta. Cérberus era um Rottweiler de um ano, mas apesar de sua cara amedrontadora não passava de um bebê que adora brincar.

Coloquei a coleira em seu pescoço e segurei a grossa corrente. Assim que atravessei o portão da Mansão senti o vendo frio batendo em meu rosto, meu terno preto impedia que sentisse o vento entrasse no meu corpo, quem mais se divertia era Cérberus que latia sempre que uma folha voava em sua direção. Caminhei pelas ruas de Olímpia observando os carros e as pessoas que entravam e saiam das lojas, mas após alguns minutos meu foco se prendeu a uma loja entre o cruzamento, era uma floricultura, mesmo no tempo escuro ela iluminava com suas cores e sua vida.

-É então garoto, o que acha de vermos mais algumas flores? - perguntei passando a mão em sua cabeça e observando sua língua para fora - se comporte okay? E te darei um presente - Sorri e atrevessei calmamente o sinal, ignorando os olhares das pessoas sobre mim, era normal elas encararem um dos maiores empresários de Olímpia, mas isso me deixava desconfortável, me sentia algo que não era.

Assim que cheguei a dois metros de distância da floricultura o cheiro múltiplo das várias flores invadiu minhas narinas, precisava entrar e ver mais, sentir mais. Segurei Cérberus rente na coleira e me aproximei do balcão vazio, o interior da floricultura parecia um dia de Outono, claro, com um leve frescor gelado e o cheiro das flores. Assim que bati na pequena campainha no balcão ouvi uma voz doce dizendo "só um momento" e pensei estar delirando, era a voz mais doce e suave que já tinha escutado, como se um Anjo tivesse dito aquelas palavras.

-Desculpe a demora, em que posso ajudar? - no instante seguinte observei a mulher se aproximar, tão delicada quanto as flores que ela cuidava, seus cabelos ruivos se destacava com sua pele clara e seus olhos verdes, por breves momentos observei cada detalhe de seu rosto procurando em minha memória se já havia visto alguém tão bela.

-Bom dia, gostaria de ver algumas flores - respondi dando um curto sorriso e me aproximei de Cérberus - agora garoto, fique deitado okay?

-Ele é seu? - me perguntou a mulher com sua voz angelical - é tão lindo

-Obrigado - assim que Cérberus se deitou me voltei para o balcão - essa floricultura é nova aqui?

-Sim, abri a alguns dias, é meu sonho realizado - ela sorriu e meu coração poderia ter parado nesse momento, aquele era sem dúvidas a coisa mais linda que já havia visto - sou Perséfone

-H-Hades - gaguejei a olhando - um prazer Perséfone

-Você é o dono das empresas Underworld? - perguntou me olhando e por segundos me perdi naquele mar verde, até me despertar.

-Sim, me surpreendeu você não conhecer a mim - sorri colocando uma mão em meu bolso - gostaria de algumas flores para meu jardim

-C-claro, deixe-me mostrar - ela parecia ter ficado nervosa e isso me incomodou, sempre era assim quando se tratava de mim - tenho alguns exemplares de lírios, rosas, orquídeas, samambaias e na próxima semana chegará outras flores e plantas de diferentes espécies e de outros países

-Hm - disse observando algumas rosas e uma havia me chamado a atenção, era branca com tons amarelados, algo que não havia visto - que rosa é esta? - perguntei me virando para olhá-la e novamente me perdi em seu olhar enquanto a ouvia.

-Está é uma nova espécie, um cruzamento que está sendo testado - respondeu sorrindo e tocando nas pétalas com delicadeza - consegui um exemplar para amostra, dei muita sorte em ser uma das escolhidas

-Ela é linda - Sorri voltando a olhar a rosa - quero levá-la

-B-bom, como é um exemplar novo e teste seu valor é um pouco mais elevado - ela evitou me olhar enquanto falava.

-A levarei assim mesmo, preciso apenas de saber os cuidados para a manter - ela me olhou e rapidamente seguiu até o balcão, comigo em seu encalço - ela precisa apenas de uma regulagem de regajem e ficar em sombra. Por ser um cruzamento isso permite que ela viva longe do sol

-Certo, e quanto ela seria?

-Seu valor está estimado em 4.500 dólares - peguei minha carteira no bolso do terno e retirei o bloco de cheques, assinando e escrevendo o valor da rosa

-Aqui - arranquei o chegue e lhe entreguei - obrigado, por ser um valor elevado em meu nome a transação demore a ser concluída, coisas de segurança - expliquei e sorri levemente - como posso levá-la

-Pará levá-la a duas opções, posso colocá-la em uma cúpula e assim que chegar em casa você deverá providenciar rapidamente um adubo especial e fertilizante - ela explicou e comecei a gravar em minha mente sua voz - ou posso levá-la até mais tarde, já montada em uma pequena bandeja com o adubo e fertilizante, precisando apenas ser plantada

-Estou indo para casa nesse momento, se eu estivesse sem Cérberus poderia levá-la - suspirei olhando para o cachorro deitado e olhando em minha direção após ter ouvido seu nome - mas iria ser perigoso, então eu vou optar pela segunda opção - respondi retirando um cartão onde possuía meu endereço - pode levar quando estiver disponível e peça a um dos empregados que me chame

-Muito bem, então até o entardecer levo ela - seu sorriso novamente me atingiu como uma pedra e travei no lugar - se precisar de mais alguma coisa pode ligar para cá e entregarei seu pedido - peguei o cartão da floricultura e o coloquei no bolso. Me despedi agradecendo e sai com Cérberus, não demorou para que eu chegasse em minha casa, mas durante o percurso a voz e o rosto de Perséfone invadiam minha mente, seu olhar e seu sorriso era o que mais me atingiam e por instantes sentia minha respiração se tornar descompassada.

assim que cheguei avisei sobre a chegada de Perséfone e pedi que me avisassem, soltei Cérberus e lhe dei pedaços de seu bife favorito e sorrindo ao ver sua alegria. Subi para meu escritório e pedi que levassem meu almoço assim que estivesse pronto, me sentei na poltrona de carvalho negro, com detalhes em prata e acolchoado com um tecido macio e confortável. Peguei a garrafa de vinho que ficava em meu escritório e enchi minha taça até a metade e me recostei enquanto bebia pensando novamente na dona da floricultura e sorrindo ao pronunciar seu nome.

-Perséfone

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