Capítulo X

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Havia retirado Perséfone da festa e no meio do caminho mandei mensagem para Zeus e Poseidon avisando que tinha saído e levaria Perséfone para casa. O caminho até minha casa foi silencioso, mas era possível notar a inquietação e nervosismo dela dentro do carro, tanto em seus dedos batendo na bolso e seus pés balançando. Quando percebeu que estava em um caminho diferente me perguntou para onde estávamos indo e a avisei, no início ela ficou relutante mas acabou aceitando depois de uma insistência da minha parte.

-Chegamos - falei ao apertar o botão para abrir a garagem e entrar com o carro, fazendo o barulho ecoar no ambiente - você está bem? Eu notei seu nervosismo

-Estou, só foi um susto - falou simples e sai do carro dando a volta e abrindo a sua porta - obrigada... Nossa - ela exclamou baixo assim que viu meus veículos e a moto parada no canto da garagem

-Eu precisava de um hobby - falei coçando a nuca - carros e motos chamavam minha atenção, vem comigo - peguei em sua mão e a guiei para dentro da casa, parando na sala de estar - você está com fome? Quer beber alguma coisa?

-N-não, eu estou bem - sorriu tímida enquanto olhava os detalhes da sala - é um "Angolo dell'Olimpo" não é?

-Sim, conhece? - perguntei indo até a mesa onde ficava as garrafas de bebidas e peguei duas taças com vinho tinto - aqui - a entreguei - sente-se

-Obrigada, eu acompanhava de vez em quando um pouco sobre pinturas e esculturas italianas, esse é um dos unicos seis quadros pintados por Di Paolo

-Não sabia que conhecia tanto - falei surpreendido - meu pai arrematou em um leilão junto de dois outros quadros, "Campi Elisi" os campos Elísios que ficou para Zeus, e o "Il mar egeo", o mar Egeu, para Poseidon - expliquei enquanto bebia o vinho

-Tudo ligado a seus nomes não é? - falou dando uma pequena risada - os campos Elísios para Zeus por ser rei dos deuses, o mar Egeu para Poseidon por ser deus dos mares e o olimpo por ser próximo ao submundo não e? - confirmei com a cabeça sorrindo - o curso de história não foi vão, e minha mãe me criticando - acabei não segurando a risada, o que a fez rir junto

-Na verdade a um outro, do pintor Galliard, "O tártaro e o submundo" - falei e coloquei a taça sobre a mesa a frente do sofá - está no meu escritório, não podia deixar de ter a morada de Hades de fora dos costumes da família não é mesmo - ri enquanto a olhava

Continuamos a nos olhar em silêncio, não percebi quando mergulhei nas profundezas esverdeadas de seus olhos, senti sua mão sobre a minha e notei que nos comunicavamos pelo olhar, podia ver um pouco do que ela sentia sendo transmitido para mim. A pequena distância que nos separava no sofá não existia mais, minhas mão esquerda estava posicionada em sua nuca, enquanto a mexia em meus cabelos, nossas respirações se chocando violentamente enquanto meus lábios roçavam aos seus, até que a tomei em um beijo calmo e suave. O gosto do vinho se misturava ao beijo, o tornando doce e delicado, assim como Perséfone, suas mãos agora se encontravam em minha nuca e cabelos, enquanto as minhas se dividam entre sua cintura e sua nuca. Os movimentos do beijo se tornavam mais intensos, como se necessitássemos daquilo para viver, meu braço rodeava suas costas nuas e a trazia para mais próximo do meu corpo, suas mãos cortavam em meus cabelos e ombros, onde leves apertos eram dados, nossas línguas degladiavam uma contra a outra, em uma batalha frenética e que não haveria um perdedor. Não notei o momento, mas quando encerramos o beijo a procurar de ar estava deitado sobre o seu corpo no sofá, meus dedos deslizavam pelo contorno suave de seu rosto, passando delicadamente em seus lábios enquanto meus olhos se fixavam aos seus.

-Isso foi... - comecei a falar mas fui cortado por Perséfone, com seus dedos passeando em meu rosto

-Muito bom? - sorri e a beijei outra vez. Em todas os meus envolvimentos anteriores nunca havia acontecido algo desse gênero, não era apenas algo carnal, um desejo passageiro e fugaz, era mais, era algo que desejaria para o resto de minha vida. Continuei a beijando e dando leves mordidas em seus lábios quando ouvi um barulho baixo e rouco, assim que a olhei percebi do que se tratava

-Alguém quer comer né - rimos e me levantei, a puxando junto enquanto ajeitava o cabelo - vou pedir pra fazer algo pra você

-Não precisa Hades, não quero incomodar, já basta o transtorno de mais cedo. Você é muito bom, um cara incrível e diferente de tudo que já vi, não quero incomodar você com isso, eu posso ir pra casa e faço algo rapidinho

-Pode parar, você não me incomoda em nada - sorri e segurei sua mão - já que é assim, que tal ir em uma lanchonete? Pode não parecer mas eu ainda como em lugares assim

-Você não vai desistir né, okay mas só se me deixar dividir a conta, você pagou o almoço e nem precisava - suspirei e concordei com seus termos

Alguns bons minutos depois estávamos no carro em direção a lanchonete, no rádio tocava "It's My Life", da banda Bon Jovi, e nós cantávamos canta parte da música durante o percurso, estava se tornando algo divertido de se fazer com Perséfone, logo a música mudou para "Boulevard of Broken Dreams" do Green Day. Cantamos e rimos durante todo o caminho, escutando algumas provocações de Perséfone sobre estar no ramo errado, já que daria um belo modelo e cantor, o que arrancava risadas da minha parte. Após chegarmos a lanchonete de fast-foods, escolhemos uma cadeira ao fundo, não haviam muitas pessoas na lanchonete, o que facilitou a escolha.

-Já sabe o que pedir? - me perguntou Perséfone ao meu lado. O banco fica em torno da mesa central, em uma meia lua e era acolchoado, dando um maior conforto

-O que acha do combo? - perguntei apontando no cadarpio - dois X-bacon, batatas, anéis de cebola, refrigerante e milk-shake

-Acho ótimo - sorri e apertei o botão na mesa que chamava a garçonete, que obviamente me reconheceu, quem não me reconheceria em Olímpia que é à pergunta mais exata a se fazer - posso fazer uma pergunta? E eu sei que você quer fazer também - me perguntou assim que a garçonete anotou os pedidos e confirmei - onde aprendeu a dar um soco daquele jeito?

-Ah... Bom eu fiz luta uma vez, mas não deu muito certo - respondi e me recordei do lugar onde havia aprendido, e do homem que me ensinou isso - minha vez? - perguntei e continuei - quem era ele?

-É... Uma longa história, uma coisa antiga - respondeu deslizando o dedo indicador pelas laterais do cardápio

-Como um ex? - perguntei a olhando

-É, algo problemático que pensei que se voltasse pra casa me livraria - percebi um tom de tristeza no fundo de suas palavras e resolvi deixar essa questão de lado. Já havia visto casos de pessoas que não aceitavam o término e perseguiam a outra, sempre achei algo assustador e maníaco

-Esquece por hoje tá bom? - falei virando seu rosto para me olhar e lhe beijei - vamos comer - sorri e esperei a garçonete colocar a bandeja do combo a nossa frente. Eu a faria esquecer aquela noite no evento, a divertindo e fazendo-a sorrir, não importasse o que custasse a mim.

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