O jantar estava sendo agradável e divertido para ambos, Perséfone me fazia soltar risadas com alguns acontecimentos em sua infância, contei alguns eventos vergonhosos durante o colegial e a faculdade e a cada revelação uma risadinha escapava de sua boca, me fazendo sorrir. Entre uma conversa e outra descobri que seu nome foi escolhido pelo seu nascimento ter sido durante o início da primavera, sua mãe adorava flores e tinha um fascínio pela deusa da primavera Perséfone, e assim após nascer recebeu seu nome.
-E quanto a você Hades? - me perguntou enquanto segurava a taça com um resquício de vinho no fundo - seu nome e dos seus irmãos, como seus pais escolheram?
-Bom, é uma longa história - expliquei sorrindo - começou com o pai de nossa avó, Heraclion, um antigo historiador. Durante o fim do século dezenove ele estava na Grécia em uma expedição própria, em busca de novas descobertas, ele havia investido tudo nessa busca e ninguém dava nada por ele, mas o que ele encontrou lhe deu fama e fortuna que somam até hoje. Em uma expedição na ilha de Creta ele encontrou uma caverna com um lago azul, e em sua análise ele notou que haviam bolsões de ar após o pequeno lago no meio da caverna - contei e olhava a expressão de curiosidade e encanto nos olhos de Perséfone, como uma criança ouvindo uma história incrível dos pais - ele então mergulhou no lago e após minutos, quase uma hora inteira, ele saiu em um local iluminado por uma abertura no topo da caverna, entre as rochas, e no centro estava um templo erguido em pedra bruta e com um touro na entrada
-Espera, foi seu bisavô que encontrou o templo do Minotauro? - ela me perguntou de modo rápido e fascinada - eu estudei isso no colegial uma vez, fiz uma dissertação, sobre as descobertas incríveis da humanidade - explicou e sorri em surpresa - não pensaria que foi um antepassado seu
-Pois é, Heraclion encontrou o templo e nele várias estátuas de deuses e titãs, assim como o tesouro nomeado de "As riquezas do deus touro", e assim ele se tornou um homem rico e importante entre a comunidade histórica, e como um bom investidor fez sua fortuna triplicar em 20 anos - expliquei tomando o restante do vinho e notei Dionis trazendo a sobremesa - nossa sobremesa está vindo - anunciei limpando a boca com o paninho da mesa
-Aqui está, espero que se deliciem - agredeci e peguei um pequena colherada do sorvete
-Foi por causa da descoberta dele que seus nomes começaram? - me perguntou enquanto comia uma porção do sorvete e sorria - isso é, muito bom
-Maravilhoso - concordei - e sim, ali começou. Durante uma de suas viagens pela Europa ele passou em uma convenção na Noruega e conheceu Lisandra, uma acompanhante de uma duquesa sueca, e ali os dois começaram a nutrir sentimentos um pelo outro, até que ele lhe pediu em casamento - olhei para a cereja no topo do sorvete sorrindo enquanto me lembrava do meu pai contando essa história inúmeras vezes - dois anos depois nossa avó nasceu, Gaia, assim como a titã da terra, e a partir de então nossa família adotou o costume de nomear seus filhos com o nome de figuras mitológicas gregas. Nosso pai, Cronos, que na lenda é filho de Gaia e Urano, mas Gaia se casou com Holland, um diplomata Austríaco e ele seguiu esse costume. Nossa mãe se chamava Caliope, ela era grega e uma dançarina de ballet em ascensão, e após conhecer nosso pai largou tudo por ele e abriu uma escola de ballet na Espanha, onde se casaram e viveram por alguns anos até engravidar de Poseidon, ele foi o primogênito e parecia com Gaia, com os cabelos castanhos, mas os olhos eram de Caliope, azuis, e depois de dois anos Zeus nasceu... Ele é idêntico a nossa mãe, loiro e com os olhos azuis - sorri fraco colocando a pequena colher no sorvete
-Sua mãe, ela ainda está viva - Perséfone perguntou e neguei com a cabeça, fechando os olhos em seguida - sinto muito Hades
-Tudo bem, ela... Depois de Zeus ela desenvolveu uma doença que não havia cura, e ela então ficou grávida - respirei fundo e continuei - ela ficou durante três meses no hospital após meu nascimento e não resistiu, a doença a deixou fraca demais... Ela escreveu uma carta antes pra mim, pra que eu recebesse quando pudesse entender tudo, suas últimas palavras foram "você é minha maior alegria junto de seus irmãos" - olhei para Perséfone e a encontrei chorando em silêncio, aquilo havia me atingido como um estaca em chamas no peito - ei, não chora por favor - pedi me levantando e com o lenço da mesa e me abaixei em sua frente, passando o pequeno pano em seus olhos - desculpe-me, não era para te fazer chorar assim, era pra te fazer se divertir
-Tudo bem - ela sorriu e pegou o pano, limpando o canto dos olhos - não consigo imaginar a dor que é perder alguém assim, de não ter tido a chance de conhecer - nesse momento me levantei e estendi levemente a mão em sua direção
-Vem comigo, quero te levar a um lugar - após segurar em sua mão a guiei entre as mesas e chamei o gerente - de meus agradecimentos a Dionis, sua comida estava perfeita como sempre, mande a conta para escritório e farei a transferência
-Nós que agradecemos pela escolha do nosso estabelecimento, o senhor sempre será bem-vindo na casa de Dionis - agradeci e me despedi, pegando o carro em seguida e dirigindo para fora da cidade.
Havia um lugar especial em Olímpia, onde as estrelas eram mais visíveis e brilhantes que em qualquer outro ponto, um lugar que Caliope adorava visitar a noite e que passei a fazer o mesmo. Sua localização ficava fora da cidade, subindo uma pequena montanha que os moradores chamavam de Olimpus, pelo seu formato lembrando a imponência da morada dos deuses e que após anos foi erguido um observatório estelar no estilo greco-romano, com pilastra adornadas e em coloração branca e acinzentada. O campo aberto ao seu lado abrigava uma pequena árvore, à única que resistiu ao tempo e a destruição natural, e que o governo havia decretado patrimônio cultural e histórico para a cidade de Olímpia. Demorou pouco mais de quarenta minutos para chegar a entrada do observatório e mais cinco para subir, e após estacionar o carro, desci e abri a porta para Perséfone.
-Espero que goste de ver as estrelas - sorri pegando em sua mão - costumava vir aqui, fugindo de casa a noite - ri a olhando - todos tem uma fase rebelde
-Amo as estrelas, a constelação de virgem era a que mais me chamava a atenção - sorri e a guiei até o campo onde postes de luz iluminavam partes do local - tem um banco perto da árvore
-Quando eu vinha não tinha isso - olhei e segui até o banco - eu me sentava atrás dela e recostava, Cronos odiava minhas fugas e culpava Zeus por me levar pro "mau caminho", ele era o que mais aprontava - ri olhando para o céu iluminado, pequenas nuvens cobriam o céu, mas não impediam a visão dos pontos brilhantes, que ao longe pareciam piscar em um breve arco-íris - de nós três eu fui o que mais puxei Cronos, quieto e reservado, além do cabelo e olhos negros, uma versão jovem dele - ri e a olhei - quer perguntar algo não é? - à questionei e recebi sua confirmação com um sorriso
-Seu pai, ele ainda está vivo? - confirmei com a cabeça - e vocês mantém contato?
-As vezes, ele se isolou em um resort a 7 anos, segundo ele era a vez dele de descansar e ir em busca de algo grandioso, mas nós sabemos que ele sente saudades da mãe e respeitamos sua decisão, de tempos em tempos ele nos liga ou vem nos visitar sem avisar - expliquei e notei seus braços balançando - aqui - retirei a blusa do terno e coloquei em suas costas - não se preocupe, eu me acostumei com o frio - sorri e olhei para o céu novamente - uma estrela - apontei, guiando sua visão para o rastro cruzando o céu - tem que fazer um pedido
-Isso é tão difícil - sorriu divertida e senti sua cabeça deitando em meu ombro - já fiz - sorri e delicadamente coloquei minha mão por cima da sua
-Quer ficar mais um pouco aqui? - perguntei e virei minha cabeça levemente, encontrando seu olhar nos meus
-Só mais um pouquinho - sorri e voltamos a olhar para as estrelas, enquanto conversamos assuntos diversos e arrancava algumas risadas. Aquela noite havia sido a mais perfeita que já havia tido em todos esses anos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Minha Primavera
RomanceUma história onde Hades conhece Perséfone, uma vendedora de flores, e acaba se apaixonando. Hades, CEO e cofundador da empresa de publicidade Underworld, em um dia de folga conhece uma nova floricultura que o encanta graças ao seu pequeno amor por...