Liliane McGowan.
Em toda minha carreira de policial, fui treinado severamente para resistir as diversas condições climáticas, situações de risco, manter o psicológico intacto independente de qualquer situação, a fugir e sobressair de qualquer situação possível.
Mas de uma paixão? Para isso eu não fui treinado.
Uma história clichê, se apaixonar pela mulher que você declarou prisão por desacato a autoridade, pelo simples fato de ela ter jogado a comida que ela fez, na minha cabeça.
— Você está ilegal aqui? — foi a primeira pergunta que a fiz.
Eu não sabia que brasileiros eram tão bocudos, eu nunca havia conhecido um na verdade, foi a primeira vez.
As minhas referências ao Brasil, eram as mesmas de que muitos tinham: futebol, Carnaval, e verão.
Mas não passavam de estereótipos. Quando você conhecesse eles de perto, vocês sabem que é totalmente diferente.
— Qual a sua história? — perguntei curioso.
Queria conhecê-la mais, esqueci que eu mesmo havia dado voz de prisão.
E depois que ela foi presa, eu me senti culpado, afinal, era covardia você prender uma pessoa que já estava em uma situação pesada e afundar ela ainda mais.
Liliane era orgulhosa, foi o primeiro defeito que notei nela.
Rejeitou minha carona duas vezes. Eu era a opção mais segura a ela naquele instante, não por eu ser policial, afinal, minha profissão não era garantia do meu caráter, mas por que eu era uma pessoa conhecida próxima a ela com um carro.
Ela me conheceu a apenas 4 horas e meia, tudo bem, mas...
— Você vai ficar de teimosia ou eu vou ter que te prender de novo? — meu tom foi firme.
Senti pena quando a brasileira adentrou em meu carro tremendo de frio.
"Coreaninho", era o apelido que ela havia me dado.
Pensei que não voltaria mais a encontrá-la, mas não se dando por satisfeita eu tive que a prender de novo, desta vez, por tentativa de homicídio.
Em flagrante!
— Você poderia colaborar, estou tentando te ajudar. — neguei com a cabeça enquanto ela estava no banco de trás do meu carro.
— Então começa a investigar o trabalho escravo que aquela cachorra tem no estabelecimento dela. — retrucou a brasileira.
— E quem disse que não vou? — olhei-a pelo retrovisor. — Pode ficar tranquila.
Percebi que ela mordeu a língua para não retrucar novamente, sabia que a sua situação não estava boa.
Resolvi ajudá-la, legalizei a sua situação na Coreia com algumas influências, e finalmente, pude sentir a simpatia de Liliane, uma coisa que percebi que ela guardava e dava somente para quem merecia.
Queria muito ter a levado para casa naquele dia, mas infelizmente, não pude.
E me arrependo por isso, pois descobri que naquele mesmo dia, meu irmão a sequestrou.
As histórias que Liliane e o cara de Ssangmun contavam, por incrível que parecesse, eu confiava neles.
E soube que a história do sequestro de Liliane era mais que verdadeira, quando vi o hematoma em sua nuca que poderia ter acarretado sua morte.
E ambos, meu irmão, o carinha de Ssangmun e Liliane tinham algo em comum.
O cartão.
Eu resolvi seguir Seong Gi-hun, e me infiltrar como o soldado 29. Passei por muitos apertos dentro daquele lugar.
E um deles, foi ver Liliane morrer devido a uma noite cheia de brigas das quais uma pessoa corajosa como ela, brigou e acabou saindo afetada.
Deixei muitas pontas soltas lá dentro, e foi como me encontraram, mas era tarde demais.
Eu encontrei Liliane presa dentro de um quarto, e demos um jeito de fugir dali.
Tivemos o nosso primeiro beijo, e aquilo foi a confirmação de que ela seria alguém que eu queria pra minha vida. Considerando tudo que passamos.
— In-ho? — fiquei surpreso quando ela me revelou o nome do Líder.
Eu quase cogitei a hipótese de ter sido o meu irmão.
Mas não quis acreditar.
Até vê-lo apontar a arma para mim.
— Irmão... por quê? — foi a última coisa que perguntei até escutar o disparo.
A dor não era a física, mas a mental.
Uma dor que vinha da alma.
E até hoje eu tento entender do porque meu irmão ousou atirar em mim.
Eu mergulhei e consegui dar a voltar na ilha, soube que Liliane pulou, o que foi um erro. Ela havia um chip e não sabia.
Foi doloroso para mim retirá-lo e vê-la chorando, mas era necessário. E mais destrutivo ainda a minha alma, quando ela aceitou voltar para eles e se entregar.
Eu fugi sem saber que ela estava grávida de um filho meu. E depois de meses em proteção a testemunha, eu voltei e soube que o menino era meu só depois de que ele estava morto.
Liliane começou me odiando, depois me amou e depois, me odiou.
Me odiou por que eu não a incluí em meus planos, em uma vida de policial, não conseguia a incluir, pois colocaria em risco a vida dela e da minha sobrinha.
Liliane McGowan foi minha paixão, o amor, nós iríamos construir se o destino não tivesse nos afastado nas mesma intensidade em que nos aproximou.
— Você sente falta dela? — a policial do meu departamento em Nova York perguntou.
Estávamos em um bar, eu estava em serviço, bebi apenas um café e a policial também.
— Sinto. — respondi pensativo.
Mostrei a foto em que estava em uma rede social, a minha sobrinha e Liliane juntas, ambas rindo, com Sun-ye no colo.
— Lindas... — minha colega respondeu. — Jun-ho, talvez não fosse o momento, mas depois que esse operação encerrar. Ainda dê tempo de ir até ela.
Não daria.
Liliane não era do tipo de pessoa em que esperava. Não quando foi humilhada por mim e chutada, foi como deixei ela.
Não era a impressão que eu queria ter causado, mas a foi a impressão que ela teve.
— Não. Ela está mais feliz sem mim, e quero que continue assim. — bloqueei a tela do meu celular. — Enquanto essa operação não encerrar, e eu ter certeza que todos aqueles bandidos estarão na cadeia condenados ou a morte ou a perpétua, eu não vou descansar.
— É uma rede de jogos pelo mundo inteiro, descobri que no Brasil também está tendo... e talvez você terá que ir até lá para investigar já que teve contato direto com uma brasileira. — a minha colega arregalou levemente os olhos.
— O que?
— E os jogos parecem que são bem mais críticos...
Eu espero um dia que Liliane me perdoasse.
Ainda mais pelo futuro que ela enfrentaria depois de tanto tempo finalmente conseguindo sua paz.
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𝐓𝐇𝐄 𝟏𝟎𝟔, squid game
Hayran KurguLiliane McGowan jamais esperaria que a sua terra natal brasileira da qual o local que deixou, fosse o local que ela mais almejaria voltar. Mudou-se para a Coreia do Sul na esperança de mudar a sua vida e proporcionar uma estrutura melhor para a sua...