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"See now that you're standing in front of me with that look in your eyes..."

(Veja agora que você está de pé na minha frente com esse olhar em seus olhos.)

[...]

Quando nós chegamos, Pattie estava na sala. Ela abriu um sorriso enorme ao nos ver, mas o mesmo se desfez quando ela notou o clima pesado entre nós. O Louis preferiu não dizer nada, ele apenas subiu as escadas sem sequer olhar para a mãe. Eu me sentei no sofá e lidei com o olhar curioso sob o meu rosto vermelho por conta do choro.

— Tenho duas notícias. — Falei e ela sorriu de lado. — Uma boa e outra ruim. A boa é que agora eu e Louis estamos namorando. — Levanto a mão lhe mostrando o anel.

— Ah meu Deus! Eu nem acredito! Eu esperei tanto esse momento! — Ela sorri e me abraça forte. — Obrigada Deus, obrigada! Sejam felizes, S/n!

Sorri em agradecimento.

— Bom, eu não sei se posso contar a outra. Acho que Louis seria a pessoa mais adequada para isso. Desculpe Pattie!

Ela assentiu. De certa forma, ela entendeu que havia algo muito errado. Eu fui para o quarto e encontrei um Louis triste. Seu rosto estava ainda mais inchado e vermelho, ele estava deitado de lado e encarava o nada. Andei até ele e me agachei acariciando seus cabelos loiros.

— O que você tanto pensa?

— Que eu sou um idiota, S/n! Quando você precisava de alguém, eu não estava lá. Quando você me pediu ajuda, eu não pude entender. Eu estou tão envergonhado! Meu pai fez isso! — Louis coçou os olhos.

— Se importa saber, eu já passei por essa fase. Ele não fez nada, apenas acariciou minha perna. E eu não culpo você. E não irei permitir que se culpe. Por favor, pare de chorar! — Eu o abracei de forma desajeitada, mas fui sincera.

— Promete que me perdoa? — Concordei com a cabeça. Seus lábios se contorceram em um sorriso de lado.

— Eu não preciso te perdoar, meu amor... Não foi culpa sua! — Eu assisti cada uma de suas reações, enquanto nós escutávamos a assistente virtual ler as palavras que eu escrevi.

Eu me juntei a ele na cama, e coloquei minha mão por dentro de sua camisa. Acariciei suas tatuagens com as mãos e aspirei seu perfume amadeirado. Com o rosto na dobra de seu pescoço, eu adormeci junto dele.

[...]

No dia seguinte, eu estava bem mais disposta do que antes. Mesmo assim, não queria atrapalhar o sono de Louis. Dessa vez, eu estava sendo abraçada por ele e seu rosto aspirava meu perfume doce. Me movimentei lentamente para pegar o celular e Louis resmungou alguma coisa. Eu abri a câmera e tirei uma foto dele coberto por cobertores e lençóis.

— Só não faça um santuário. — Falou com a voz rouca. Ele abriu os olhos devagar e sorriu me puxando para a cama novamente. — E nem fique encarando minha foto como uma namorada possessiva.

— Por que eu ficaria te encarando pela tela do celular, quando eu posso te encarar aqui presencialmente? — Sorri para ele. Louis levantou um pouco a cabeça, e depositou um selinho em meus lábios.

— Eu quero uma foto sua comigo. — Louis falou. — Assim, você sempre estará comigo.

— Sempre é muito tempo, S/a! — Dessa vez eu sorri. Louis franziu o cenho. — Que tal vivermos apenas o presente? Huh? Amanhã é futuro! Não sabemos o que irá acontecer.

— S/n. — Ele se ajeitou na cama. — Eu quero pagar a cirurgia. Por favor.

— Não, Louis! Já falamos sobre isso.

— Acontece que eu já paguei. Está agendada para segunda feira.

Estava tão perto. Meus músculos não queriam e nem acompanhavam meus pensamentos. Meus olhos estavam cravados nos seus, ele tinha o olhar pesado. Como se soubesse que havia errado. E muito. Eu não tive nenhuma reação, na verdade. Eu estava surpresa. Aquele tipo de agressão doía mais do que qualquer outra. Ele não me aceita do jeito que eu sou.

Talvez eu devesse mesmo fazer. Ninguém poderia amar uma muda. Meus olhos, por instinto, se umedecem e uma lágrima cai. Eu não estou chorando por medo. Não por saber que ele quer pagar por, praticamente, o meu tratado de morte. Mas sim, por saber que ele já pagou, e pagou por não querer mais andar ao lado de uma muda.

— Se você insiste tanto... Eu farei. Mas se eu morrer, saiba que a culpa é toda e inteiramente sua! — Fui dura. Me levantei e caminhei em passos largos e apressados para o banheiro.

Encarei meu reflexo no espelho. Uma garota, aparentemente normal, até abrir a boca. De meus lábios, só saem pequenos sussurros. O que me faz creer por alguns segundos que eu realmente possa voltar a falar.

Em uma entrevista escolar, uma vez perguntaram coisas complexas para uma criança de dez anos. Lembro-me perfeitamente desse dia.

"— S/n, gostaríamos de lhe perguntar uma coisa. — Assenti. — Se tivesse a capacidade de mudar algo em seu corpo, o que mudaria? Apenas uma coisa!

— Só uma? — Ri de nervoso. — Eu, provavelmente, mudaria o meu destino. Gostaria de saber tudo o que irá acontecer na minha vida. Tenho medo do que possa me acontecer..."

Mudar o destino. Alterar o futuro com toda certeza seria algo que eu amaria poder mudar. Em pensar que com treze anos, minha voz foi embora. Arrancada por um brutamonte. No chuveiro, eu chorei. Chorei por simplesmente não ser aceita como sou. A pessoa que eu amo, não me aceita. Por que eu me aceitaria? Meus lábios tremem, e naquele momento, eu agradeço por ser muda. Por mais que eu forçasse, nada sairia de meus lábios.

Quando finalmente saí do banho, peguei um pijama na mochila que eu trouxe e o vesti. Me deitei na cama e liguei a televisão passando os canais rapidamente.

Louis não estava no quarto, provavelmente estava falando com Pattie sobre aquilo. Mas meu momento de paz, durou pouco. Louis logo entrou... E caminhou até o banheiro. Mais alguns minutos e ele saiu. Uma boxer branca e uma bermuda caída faziam meus sentimentos se embolarem. Eu sentia raiva e paixão ao mesmo tempo.

— Eu não queria te deixar chateada. — Eu me virei contra ele, como se dissesse não querer conversa. Ele colocou o queixo no meu braço e desceu os beijos até minha mão. — S/n, desculpe tudo bem?

Não fiz nenhum aceno com a cabeça. Apenas tentei continuar prestando atenção no que acontecia na televisão. Louis continuou com os beijos, até eu me levantar e pegar o celular, digitando rapidamente.

— Pare de tentar me reconciliar Louis. Aceite! Você errou quando aceitou aquela cirurgia. Não é você que irá fazer a cirurgia! Sou eu! A minha vida está em risco! Não a sua! — Maldita hora para se arrumar uma discussão. Eu queria gritar com ele.

Ele não tem o direito de me forçar a fazer algo. Certo?

— Nada está em risco! Tudo vai dar certo, sabe por quê? Porque eu vou estar com você, eu vou estar rezando por você enquanto tudo estiver acontecendo! Eu só quero ajudar! — Ele se levantou e passou aos mãos no meu rosto, limpando as lágrimas. — Sei o que está pensando... Você pensa que eu não aceito o fato de você ser muda. S/n, já falei que aceito, já falei e não me canso de falar de novo, eu amo você!

Eu faria de tudo para ouvir essas três palavras novamente. De alguma forma aquilo me desmontou por dentro. Tudo pareceu pausar por um segundo, meus extintos não respondiam.

— Por favor! Tudo o que eu mais quero é escutar sua voz sussurrando que me ama. Eu quero apenas escutar você dizer que quer um futuro comigo! Entenda o meu lado.

Ele puxou meu pescoço e selou nossos lábios. Era um beijo quase necessitado, um beijo desejado. Cheio de amor e luxúria. Nossas línguas trabalhavam em harmonia, como um compasso de uma dança. Ou uma batalha por espaço. Ao me separar dele, nossas testas se juntaram e ele sussurrou mais uma vez:

— Eu amo você!

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𝗿𝗲𝗮𝗱 𝗺𝘆 𝗹𝗶𝗽𝘀, 𝗹𝗼𝘂𝗶𝘀 𝗽𝗮𝗿𝘁𝗿𝗶𝗱𝗴𝗲Onde histórias criam vida. Descubra agora