O curso do tempo - Karry

Pulando de cabeça

Barry*

Caitlin e eu entremos em um táxi e vamos até a praia mais próxima, eu tenho que confessar que estava morrendo de medo, fazer esse tipo de coisa não é bem a minha cara, eu tenho muito medo de altura, mas eu não suporto ver a Caitlin desse jeito, não quando eu sei que ela está assim por minha culpa. Seu semblante parece ter melhorado um pouco, agora com a luz do dia iluminando, eu consigo ver que ela emagreceu bastante desde a última vez que eu a vi, e aquilo me deixa ainda pior, eu não conseguia parar de me culpar, a culpa era minha. Nós chegamos no lugar e caminhamos até um senhor de cabelos grisalhos com uns cinquenta anos.

Barry - bom dia Sr. Dantas - Carlos Dantas era um amigo do meu pai, eu liguei para ele no caminho avisando que iríamos.

Carlos - bom dia Barry, como você está grande! Veio em viagem com a família?

Barry - não, eu estou estudando aqui. Essa é Caitlin, filha do Thomas

Carlos - olá Caitlin, como vai seu pai?

Caitlin - está bem, obrigada por perguntar

Carlos - então vocês vieram saltar de paraquedas?

Barry - pois é

Carlos - não fica tenso Allen, você vai gostar. Venham - ele caminha em direção a uma pista de pouso e nós o seguimos.

Paramos ao lado de um Kodiak 100 branco e esperamos enquanto Carlos foi buscar outras pessoas.

Barry - ta se sentindo melhor?

Caitlin - um pouco nervosa, eu nem acredito que vou mesmo fazer isso

Barry - nem eu - falo preocupado e forço um sorriso.

Carlos - pessoal esses são Mike e Josh, eles são instrutores de paraquedismo e vão pular com vocês

Barry - muito prazer - Caitlin e eu apertamos a mão deles.

Mike - vocês vão gostar - ele tenta nos acalmar apesar de parecer que somente eu estou nervoso com isso.

Carlos - preparados? - nós acenamos com a cabeça - ótimo, Mike e Josh vão preparar vocês.

Os instrutores amarram a mochila com o paraquedas nas nossas costas, os colando atrás de nós, o que me faz sentir minimamente seguro, pelo menos não vou pular sozinho. Nós entramos no avião e fico ainda mais nervoso quando percebo que ele não tem porta, vamos mesmo voar nesse avião sem porta?! Carlos e mais um rapaz vão até o comando do avião e assim que estamos todos devidamente prontos Carlos liga os motores e o avião começa a andar na pista. Ele ganha velocidade e começamos a subir, eu nunca gostei da sensação de decolar e nem de pousar, e parece que o fato desse avião não ter porta deixava a situação toda pior. Quando já estamos em uma altura considerável do chão eu me acalmo um pouco.

Caitlin - que vista linda - ela grita por conta do barulho dos motores.

Barry - é mesmo - eu reparo em cada detalhe da vista, os minúsculos prédios, a praia que antes parecia ser muito maior, as nuvens que planam ao nosso lado, Caitlin tem razão, é lindo. Eu apenas tento relaxar e apreciar a vista.

Nós subimos a uma altura em que já não era possível ver a praia e nem os prédios, apenas nuvens abaixo de nós. Os instrutores começam a se preparar para o salto e eu preciso muito ir ao banheiro agora.

Mike - a gente vai pular agora! - ele grita pra mim e pra Caitlin.

Barry - agora? Nesse momento? - não sabia que era possível ficar mais nervoso que antes, acho que vou vomitar.

Mike - é!

Josh - vamos? - ele pergunta para Caitlin, já que está atrás dela e ela apenas concorda com a cabeça.

Josh e Caitlin vão até mais pra perto da porta e saltam ficando cada vez menor a minha vista até sumirem totalmente no meio das nuvens.

Mike - nossa vez - ele nos leva até próximo a porta.

Barry - espera! - ele ignora meu pedido e nós saltamos.

No início foi desesperador, a sensação de estar caindo sem nenhum tipo de segurança. Assim que passamos as nuvens e possível ver a praia e os prédios novamente, mas eu estava apavorado o suficiente para não conseguir apreciar a vista, assim que chegamos a uma determinada altura Mike puxa uma corda que faz com que o paraquedas que antes se abrigava dentro da mochila saltasse para fora, nos fazendo cair mais devagar. Agora sim, a sensação de segurança já é perceptível, começo a procurar por Caitlin e Josh mas não os acho mais, começo a reparar no mar, há alguns surfistas e banhistas na praia que eu não pude enxergar do avião, a água azul, o vento batendo em meu rosto, o cheiro de natureza e ao mesmo tempo de perfume barato, deve ser do Mike. Nós estamos com os pés próximos ao chão e nós caímos leves sobre ele. Mike desamarra a mochila de nós e Caitlin está ao lado de Josh.

Caitlin - isso foi incrível! A melhor experiência da minha vida. Obrigada por isso Barry - ela me abraça assim que me descolo da mochila e de Mike.

Barry - está se sentindo melhor?

Caitlin - muito melhor, eu estava precisando disso - ela sorri pra mim, seus olhos brilham, acho que fiz um bom trabalho, estou satisfeito comigo mesmo. E eu tenho que admitir que foi uma experiência incrível pra mim também, mas eu com certeza não vou fazer nada do tipo nunca mais. No mesmo instante Carlos chega dirigindo um T-Cross 200 cinza.

Carlos - o que acharam? - ele abaixa o vidro do carro e pergunta de lá mesmo.

Barry - foi muito legal, obrigada por toda atenção Sr. Dantas

Carlos - é sempre um prazer ter um Allen por perto - ele sorri pra mim - agora vamos, entrem no carro, eu deixo vocês onde quiserem

Barry - obrigado - Caitlin e eu nos despedimos de Mike e Josh e entramos no carro.

Carlos - já ia me esquecendo, os pertences de vocês - ele nos entrega duas sacolas com as coisas que trouxemos.

Pego meu telefone e tem várias chamadas perdidas de um número que eu nunca vi antes, tem também duas chamadas perdidas da Patty. Eu ligo para ela mas ela não atende, então decido ligar para o número desconhecido.

Ligação on

Barry: alô?

Lena: Barry! Cadê você? - ela pergunta brava.

Barry: oi Lena, eu vim ver a Caitlin, você estava junto quando eu disse isso

Lena: por que não atende a porra do telefone? - ela parece ainda mais zangada, mas percebo que sua voz está lutando contra o choro e naquele momento meu coração começa a disparar.

Barry: o que aconteceu Lena?

Lena: a Kara - ela começa a chorar.

Barry: o que aconteceu com ela?

Lena: ela foi baleada, tá no hospital

Tudo fica aéreo, não é real, não é real, não é real. O que foi que eu fiz? Por que eu deixei ela? O que foi que eu fiz? A culpa é minha, se ela... é minha culpa. Não! Não! Não! Kara! Eu escuto sons vindo do telefone mas não quero escutar, não é verdade, não é. É sim, eu preciso ver ela.

Barry: onde ela está agora?

Lena: Brighton General Hospital

Barry: estou indo pra lá agora

Ligação off