— Aproxime-se. — aquilo não foi um pedido.O sorriso de Amarantha era medonho, repulsivo e fazia as entranhas de Asterin se remexerem desconfortavelmente. Com os joelhos tremendo e passos vacilantes, ela caminhava para cada vez mais perto.
Quando estavam quase cara a cara, ela se curvou, ajoelhando, de cabeça baixa e mãos em seu joelho. Ela podia escutar os sorrisos abertos por todas aquelas pessoas nojentas.
Sentiu a mão dela em seu queixo, o forçando a levantar, para que Asterin a encarasse.
— Você não sabe como eu senti sua falta... — as unhas longas tingidas de vermelho espetavam a pele pálida-doentia da garota. — Ande, levante-se e venha sentar aqui.
Com esforço, fez o que ela pediu. Não, não pediu. Mandou.
Os olhos verdes como a mais brilhante esmeralda permaneceram no carpete vermelho sangue que cobria o caminho até o trono, dando destaque ao palanque onde ela ficava ajoelhada ao lado de Amarantha, junta de mais quatro guardas, estrategicamente posicionados dois de cada lado.
— Sabe, meu bichinho, há gente nova aqui hoje! — uma falsa animação esbanjada em sua voz a fez analisar o salão com os olhos cansados, uma mistura de feéricos, semifeéricos e humanos, todos seguidores e súditos leais à Amarantha. — E você sabe o quão preciosa e magnífica você é... então pensei, por que não mostramos à eles aquilo que me faz gostar tanto de você?
Ela estendeu uma mão para a porta do salão, em um movimento fluido. Asterin, mesmo antes de a porta abrir, percebeu um cheiro metálico e pútrido. Sangue.
As portas então se escancararam, e uma comoção agitou o salão, quando dois guardas passaram segurando um braço cada um, de um prisioneiro que se debatia, na luta de tentar escapar.
Lágrimas encheram os olhos de Asterin ao notar as pernas do homem. Dilaceradas, os ossos expostos em um ângulo desumano, sangue manchava o chão por onde ele era arrastado. Prendeu a respiração e sentiu o nariz pinicar ao segurar o choro.
Ele fora largado de qualquer jeito, jogado ali na frente delas. Asterin sentiu um tapinha em suas costas que se empertigaram. Ela levantou, e deu pequenos passos até estar de frente ao homem que chorava de dor.
Eu entendo você... Pensou.
Se ajoelhou e tocou o ombro dele, tentando lhe lançar um olhar calmante. Queria poder fazer mais, mas com toda a plateia olhando, teve suas opções limitadas.
— Vai ficar tudo bem. — garantiu, com a voz rouca, mais para ele do que para si mesma.
Estendeu as mãos até o ferimento da perna direita, pousando as quase em cima de onde sangrava, tocando exatamente onde doía. Sentiu pele, osso, sangue e nervos.
E então fechou os olhos, e o cheiro metálico típico de magia feérica inundou o salão, ao mesmo tempo que Asterin sentia o poder fluir de sua palma e ponta dos dedos até o machucado.
Curando. Ela o estava curando. Mas não era isso que era extraordinário. Até porque há uma Corte que carrega tal dom.
O poder de cura que Asterin carregava nas veias era diferente, instantâneo e sem erro. Conseguia curar os incuráveis, recuperar os irrecuperáveis. Até o pior ferimento se fechava em segundos, até a falta de esperança diante de uma situação dolorosa era recuperada quando tinham o privilégio de ter Asterin como curandeira.
Não que ela realmente fosse uma, já que apenas possuir dons de cura não a faz uma curandeira, e não era vantajoso para Amarantha que Asterin pudesse se curar de suas punições. Por isso era diferente: seu poder tinha limitações e um certo custo. E era apenas isso, poder, não habilidade, não havia tido treino para que se tornasse uma habilidade.
O homem no chão então arquejou, segundos depois, mexendo os dedos do pé, para depois os joelhos e então conseguir sentar para avaliar as pernas que, graças à morena diante dele, estavam inteiras novamente. Um sorriso se espalhou por seu rosto, e contagiou Asterin, que sorriu também.
Sorriso esse que durou pouco para ambos, pois no momento seguinte, uma flecha certeira acertou a cabeça do macho, o matando na hora. E ela não pode segurar o grito, no instante que o sangue espirrou em sua face.
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𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐜̧𝐨𝐬 𝐞 𝐌𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚𝐬
FanfictionHaviam se passado cerca de cinquenta anos após a batalha contra Hybern e a queda da Muralha que dividia o mundo mortal do imortal. Os Humanos dos feéricos. Desde então, a vida do círculo íntimo estava pacata, assim como de todo o continente, graças...